O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta segunda-feira que eventuais decisões obtidas nas negociações com a Rússia, centradas no cessar-fogo no país e em como a Ucrânia vai se inserir no contexto regional no pós-guerra, serão submetidas a um referendo popular antes de serem adotadas. Por enquanto, representantes dos dois lados que participam das conversas dizem ainda estar distantes de um consenso.
— Expliquei a todos os grupos de negociação: quando você fala sobre mudanças, e elas podem ser históricas, não vamos [sozinhos] a lugar nenhum, e convocaremos um referendo — disse Zelensky, em entrevista coletiva a meios da Ucrânia e do exterior. — Em qualquer caso, estou pronto para fazer qualquer coisa se for juntamente com nosso povo.
Um dos pontos que devem estar presentes em um eventual acordo é a candidatura ucraniana à Otan, algo considerado uma "linha vermelha" por Vladimir Putin e que serviu de justificativa para a invasão, iniciada há quase um mês. Zelensky já admitiu que seu país não deverá ser admitido na aliança, mas agora exige uma compensação, na forma de garantias de segurança fornecidas por nações da própria organização. Entre elas, o compromisso de que ajudarão Kiev no caso de uma nova invasão por parte da Rússia no futuro.
— A resposta é muito simples. Já entendemos tudo. Eles não nos levam [para a Otan] porque têm medo da Rússia. Isso é tudo — afirmou o presidente. — Existem países da Otan que querem as garantias de segurança. Eles não podem, infelizmente, fazer com que sejamos 100% membros da aliança, mas estão prontos para fazer tudo o que a aliança poderia fazer se fôssemos membros. E acredito que esse é um compromisso normal.
Segundo a Rússia, caso a Ucrânia entre para a Otan e possa ser incluída na política de defesa coletiva da aliança, segundo a qual "um ataque contra um será considerado um ataque contra todos", isso seria considerado uma ameaça existencial a Moscou.
Em seus discursos, além de questionar o próprio caráter nacional da Ucrânia, Putin afirmou que o país poderia ser usado para posicionar sistemas de míssseis de ataque, incluindo nucleares, a poucas centenas de quilômetros de suas fronteiras. O presidente russo também questiona a expansão da organização pelo Leste Europeu, violando, segundo ele, uma promessa feita pelos EUA em 1990, mas cuja existência e negada por Washington.
Até o momento, as conversas entre Rússia e Ucrânia obtiveram poucos avanços práticos: no principal deles, foram estabelecidos corredores humanitários em cidades sob ataque, como Mariupol, Chernihiv e a capital, Kiev. Contudo, os dois lados já reconheceram que outras pautas estão sobre a mesa, como sobre o reconhecimento da Ucrânia como um Estado neutro, seguindo o modelo de paises como a Suécia, sobre as garantias de segurança fornecidas por aliados e sobre o status das repúblicas separatistas em Donbass e sobre a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
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Em uma entrevista por telefone a jornalistas, o secretário de Imprensa do Kremlin, Dmitry Peskov, cobrou mais ações por parte dos negociadores ucranianos e de seus aliados ocidentais.
— Esses [países] deveriam usar sua influência sobre Kiev para fazer com que o governo seja mais receptivo e construtivo nas conversas — afirmou Peskov.
Ele foi questionado ainda sobre a possibilidade de uma reunião entre Zelensky e Putin, mas sinalizou que, por enquanto, não há nada previsto. Em diversas ocasiões, incluindo nesta segunda-feira, o líder ucraniano disse que, em sua opinião, esse encontro é essencial para colocar fim à guerra.
— Para que falemos de uma reunião entre os dois presidentes, a lição de casa precisa ser feita. As conversas precisarão ser realizadas e seus resultados acertados — concluiu.
*Com agências internacionais
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