Sem eletricidade ou fornecimento de água, os moradores se aquecem queimando lenha na cidade portuária de Mariupol, no Mar de Azov, no Sudeste da Ucrânia, onde há mais de uma semana os limites do centro urbano de 400 mil habitantes encontram-se cercados por forças russas. Foi em Mariupol que um ataque russo atingiu um hospital pediátrico na quarta-feira, motivando duras condenações internacionais.
Nesta quinta-feira, bombardeios russos impediram que um comboio humanitário chegasse à cidade sitiada, disseram autoridades locais, e minaram as esperanças de entregar víveres para civis que estão cada vez mais desesperados por suprimentos. Também nesta quinta-feira, outra tentativa de criar um corredor humanitário para remover civis de Mariupol parece ter fracassado.
"Bombas estão atingindo casas", disse o conselho da cidade em uma mensagem postada na internet, enquanto os principais diplomatas ucranianos e russos conversavam na Turquia. O conselho disse que uma universidade e um teatro também foram atingidos, mas não deu números de vítimas.
Petro Andrushenko, conselheiro do prefeito de Mariupol, disse à Reuters que aviões russos atacavam alvos nas rotas utilizadas para a entrada de ajuda humanitária e retirada de civis.
"Nós estamos tentando sem parar, mas não tenho certeza se será possível hoje, nem hoje nem outros dias" , disse ele por telefone.
O bombardeio, disse ele, começou pela manhã e prosseguiu ao longo do dia "sem brechas, sem nenhuma pausa", atingindo casas e prédios ao longo das rotas de fuga.
"Os ataques aéreos começaram desde o início da manhã. Um ataque aéreo após o outro. Todo o centro histórico está sob bombardeio", afirmou. "Eles querem eliminar completamente nossa cidade, eliminar nosso povo. Eles querem impedir qualquer evacuação."
A chefe-adjunta de subdelegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Mariupol, Sasha Volkov, disse que as pessoas relatam haver necessidade urgente de remédios, especialmente para pacientes com câncer e diabetes.
Ela diz que os hospitais funcionam parcialmente, por terem geradores, mas que o combustível deve acabar nos próximos.Segundo Volkov, a fome assola a cidade, sendo possível encontrar vegetais para comprar de outros moradores, mas não carne. Ela descreve a cidade como tomada pelo desespero.
"As pessoas começaram a se atacar por comida. Outras pessoas começaram a arrebentar um carro para tirar a gasolina. Muitos estão ficando doentes por causa do frio" , afirmou, em ligação por satélite, acrescentando que cerca de 70 pessoas estão abrigadas na seded da CICV da cidade.
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"Mantemos o abrigo, o porão, apenas para as crianças e sua mãe. Todos os outros adultos e crianças acima de doze anos dormem no escritório. Tentamos fazer o máximo possível para manter padrões de higiene, mas nem sempre é realmente viável."
Condenação do ataque ao hospital
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, informou que um ataque contra um hospital pediátrico na véspera matou dois adultos e uma criança, além de deixar 17 feridos. A encarregada de direitos humanos no Parlamento da Ucrânia, Liudmyla Denisova, afirmou que ao menos 71 crianças morreram e mais de 100 ficaram feridas em toda a Ucrânia desde o início da guerra, em 24 de fevereiro.
O ataque contra o hospital, que também funciona como maternidade, gerou duras condenações internacionais, tanto de países quanto de organizações internacionais. O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, o qualificou como um “crime de guerra odioso”, acrescentando que os ataques a áreas residenciais e o bloqueio de comboios de ajuda humanitária "devem cessar imediatamente".
O chanceler russo, Sergei Lavrov, negou ter ocorrido um ataque contra alvos civis, e disse que o prédio estava vazio e servia de base para o Batalhão de Azov, gupo paramilitar ultranacionalista ucraniano.
"Todas as mulheres em trabalho de parto, os doentes e a equipe de apoio tinham sido retirados", disse Lavrov após conversas com o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, na Turquia.
"Definitivamente vamos perguntar aos nossos militares, porque você e eu não temos informações claras sobre o que aconteceu lá. E é muito provável que os militares forneçam alguma informação", disse Peskov à imprensa.
Outras autoridades russas fizeram declarações mais agressivas, rejeitando o ataque contra o hospital como uma falsa denúncia.
"Isso é terrorismo de informação", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova.
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* Com informações de agências internacionais