Morando na Ucrânia há menos de um mês, o atleta brasileiro Murilo Koefender Maia, de 23 anos, recebeu a notícia da eclosão do conflito na região pelo pai, que ligou do Brasil ainda de madrugada para avisa-lo da movimentação de tropas russas na fronteira . Nas horas seguintes, ele e um grupo de outros sete jogadores de futebol brasileiros organizaram a fuga para a Polônia. Em tempos de paz, a jornada seria concluída em menos de duas horas, mas a jornada apenas teve fim após 24 horas de viagem.
"O clima na fronteira era muito tenso. Muita dispersão de família, os pais ficando e as mães e filhos saindo do território. Cenas que me deixam sem palavras. Extremamente desagradáveis, que eu torço que nenhuma nação passe" lembra o brasileiro sobre as horas passadas em Shehyni, na fronteira com a Polônia, país onde buscou abrigo.
Murilo Maia deixou o seu apartamento na cidade de Bribka, que não sofreu ataques até o momento, por volta das 14h da quinta-feira. Ele, os colegas e dois treinadores haviam conseguido uma van que os levaria até a fronteira. A van deixou o grupo a cerca de 10 quilômetros de distância da Polônia, um trecho que precisou ser percorrido a pé, com eles carregando as malas.
O grupo chegou na fronteira por volta das 20h30 e se depararou com uma extensa fila de ucranianos e estrangeiros que tentavam deixar o país:
"Ficamos na rua a noite inteira. Uma noite muito fria. Conseguimos entrar no solo polonês por volta das 15h30 da tarde. Estamos acordados há mais de 30 horas" disse o atleta, de um restaurante na cidade polonesa Przemysl.
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A espera teve seus momentos de tensão, conforme a impaciência dos ucranianos crescia com os militares que coordenavam a fronteira.
"Devido à falta de soldados, mulheres e crianças não conseguiram passar com a prioridade necessária. A população se incomodou muito com a espera. Foi uma pessoa atropelando a outra. Muito empurra-empurra, muito tumulto. Muitos homens gritando com as mães com bebês. Vi famílias inteiras passando para a fronteira e os homens tendo que voltar" conta o brasileiro, que descreve a situação da população ucraniana como 'desumana'.
Nascido no Paraná, Murilo Maia havia ido para a Ucrânia treinar futebol com a esperança de conseguir emprego em um dos times do país.
"Infelizmente a guerra impediu esses planos. Mas eu sigo treinando em solo europeu pra buscar uma oportunidade."
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