Em meio à tensão provocada pelos alertas americanos sobre o risco de uma invasão iminente da Ucrânia pela Rússia, os chefes da diplomacia russa, Sergei Lavrov, e americana, Antony Blinken, trocaram acusações neste sábado por telefone, antes da conversa programada para acontecer ainda hoje entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin.
Também neste sábado, os EUA ordenaram que todo o seu pessoal diplomático não essencial se retire da Ucrânia
, e o Pentágono informou que também sairão os 160 integrantes da Guarda Nacional americana que estão no país para treinar tropas ucranianas. Vários outros países, como Alemanha, Jordânia e Arábia Saudita, também pediram que seus cidadãos deixem a ex-república soviética.
Além disso, o Kremlin informou que está retirando parte de seu pessoal diplomático da embaixada em Kiev e de seus três consulados na Ucrânia, caracterizando a decisão como uma resposta a medidas semelhantes anunciadas pelos países ocidentais e seus aliados.
Na conversa de Lavrov e Blinken, segundo a nota divulgada pela Chancelaria em Moscou, o ministro russo acusou Washington de fazer uma "campanha de propaganda" em torno de uma possível invasão russa à Ucrânia. Ele afirmou que os EUA e seus aliados têm como objetivo provocar e encorajar as autoridades de Kiev no conflito na região de Donbass, no Leste da Ucrânia, onde o exército ucraniano enfrenta há oito anos separatistas pró-Moscou.
Lavrov também disse que Washington e Bruxelas ignoraram as principais demandas de segurança apresentadas em dezembro pela Rússia, relativas à expansão da Otan, a aliança militar ocidental, para perto de suas fronteiras.
Já segundo o Departamento de Estado americano, Blinken disse a Lavrov que uma invasão "resultaria em uma resposta transatlântica determinada, maciça e unida". O chefe da diplomacia americana afirmou ainda que os canais diplomáticos permanecem "abertos" para evitar um conflito, mas que para isso será preciso que Moscou reduza sua presença militar nas fronteiras da Ucrânia.
Antes de conversar com Biden, Putin falou hoje por uma hora e 40 minutos com o presidente francês Emmanuel Macron, que esteve em Moscou no início da semana. Um breve comunicado do Palácio do Eliseu informou que Macron disse a Putin que um "diálogo sincero" sobre a crise "não é compatível com uma escalada militar" russa na fronteira com a Ucrânia.
Segundo o comunicado, os dois lados prometerem "continuar o diálogo" para a implementação dos Acordos de Minsk, que visam pôr fim ao conflito no Leste da Ucrânia, e sobre "as condições de segurança e estabilidade na Europa".
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Apesar de negar ter planos de invasão, a Rússia concentrou cerca de 100 mil militares perto de sua fronteira com Ucrânia e realiza exercícios militares na vizinha Bielorrússia. Neste sábado, o Ministério da Defesa russo informou que 30 navios foram deslocados para exercícios no Mar Negro, o que deixa a Ucrânia cercada por quase todos os flancos.
Enquanto isso, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que os alertas de ataque russo ao seu país "provocam pânico e não são úteis" e pediu aos Estados Unidos evidências firmes de que haverá uma invasão.
— Todas essas informações estão causando pânico e não estão nos ajudando — disse o líder ucraniano a repórteres, acrescentando que, se alguém tiver dados adicionais sobre uma invasão, deve entregá-los ao governo de Kiev.
Navios russos no Mar Negro
De acordo com o Ministério da Defesa russo, os navios que partiram para exercícios no Mar Negro neste sábado — incluindo fragatas e submarinos da Frota do Mar Negro, sediada na Crimeia — partiram das cidades portuárias de Sevastopol e Novorossiysk.
Eles se juntarão a outros navios russos, incluindo embarcações de desembarque anfíbio, que chegaram às águas próximas ao Sul da Ucrânia nas últimas semanas, muitos vindos de portos distantes usados por outras divisões da Marinha russa no Oceano Ártico e no Mar Báltico. No total, são mais de 140 navios, juntamente com mais de 60 aeronaves e cerca de 10 mil fuzileiros navais.
Os exercícios aumentaram os temores de que a Rússia e as forças apoiadas pela Rússia tenham cercado a Ucrânia em preparação para um possível ataque em larga escala. O ministério disse que os exercícios incluiriam “foguetes e artilharia” e “bombardeios aéreos em alvos marítimos, terrestres e aéreos”.
A Marinha da Ucrânia tem apenas uma fração do efetivo russo. Sua frota foi quase toda apreendida pela Rússia em 2014, quando anexou a Crimeia.