A polícia espanhola anunciou na noite da última quinta-feira a prisão em Madri do general venezuelano Hugo Carvajal, que foi chefe dos serviços de Inteligência da Venezuela no governo de Hugo Chávez (1999-2013). O ex-militar, de 61 anos, estava desaparecido desde novembro de 2019, quando fugiu de sua casa em Madri, um dia antes de sua extradição para os Estados Unidos ser autorizada.
Carvajal, que já havia sido brevemente detido na Espanha em 2019, está na mira dos EUA por supostamente ter participado de atividades de narcotráfico com a então guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Em 2011, ele foi acusado de coordenar o embarque de 5,6 toneladas de cocaína da Venezuela para o México em 2006, antes de a carga chegar ao seu destino final nos Estados Unidos.
Em um vídeo postado pela polícia espanhola no Twitter, Carvajal é visto algemado junto com vários policiais, com capacetes e coletes à prova de balas na sala de uma casa. Para fugir das autoridades, ele mudava de endereço a cada três meses, segundo a polícia. Usava “bigodes, barbas e perucas falsas”, e tirava fotos de si mesmo para usar em passaportes falsos. Ele também passou por “várias cirurgias estéticas para modificar sua aparência”, disse o comunicado.
“Vivia completamente enclausurado, sem sair para a rua em momento algum, assustado”, e só ousava olhar “para o terraço da casa, mas estritamente à noite e disfarçado”.
Na última semana, após um ano de silêncio, Carvajal reapareceu no Twitter: “Por mais de uma década foi fabricada uma grande mentira com a qual os Estados Unidos me perseguem”, escreveu, negando novamente seu envolvimento com o tráfico de drogas.
Mas, segundo o FBI, ele faria parte de uma organização, batizada de Cartel de los Soles, liderada por altos funcionários do chavismo, incluindo o próprio Chávez, que morreu em 2013, além do ex-vice-presidente Tareck El Aissami e do ex-presidente da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello.
De acordo com a investigação americana, o cartel teria operado em coordenação com as Farc a partir de 1999. Carvajal seria encarregado de “fornecer segurança fortemente armada para proteger esses carregamentos de drogas” da Venezuela para os Estados Unidos. Em uma entrevista ao New York Times, em 2019, o ex-militar negou envolvimento em tráfico de drogas e disse que, por várias vezes, reportou suspeitas de carregamentos de cocaína a altos funcionários, que o ignoraram.
Conhecido como El Pollo, ele foi chefe de Inteligência de Chávez entre 2004 e 2011 e seu companheiro de armas na tentativa de golpe de Estado em 1992. Voltou a assumir o cargo para apoiar Nicolás Maduro após a morte de Chávez, e foi eleito deputado pelo Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), em 2015. Mas rompeu com o governo em 2019, após apoiar publicamente o opositor Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente da Venezuela em fevereiro de 2019. Em seguida, o general partiu para a Espanha.
Na entrevista de 2019, ele ainda instou os militares a romper com Maduro, num momento em que a oposição tentava entrar no país com remessas de ajuda internacional, que terminaram bloqueadas nas fronteiras com Brasil e Colômbia. Ele também afirmou que só entrou em contato com a antiga guerrilha para negociar a libertação de um empresário venezuelano sequestrado.
Carvajal pode ser condenado a dez anos de prisão, indicou a Justiça dos Estados Unidos quando pediu sua extradição.