É comum ouvir a frase 'lembro como se fosse hoje' ao conversar com uma testemunha dos atentados de 11 de setembro de 2001. Quem poderia imaginar, afinal, que os Estados Unidos, uma das maiores potencias mundiais, seriam golpeados tão rápida e fatal. Não seria exagero dizer que às 8h46 da manhã daquela terça-feira, o destino do mundo, como conhecíamos, tinha mudado.
O advogado Emerson Damasceno estava a passeio em Nova York naquela semana. O planejamento da viagem em família incluía um dia de compras, uma visita a um clube e a ida ao mirante do World Trade Center no dia 11. Hospedado em um hotel próximo ao Madison Square Garden, ele resolveu inverter a ordem dos pontos turísticos.
"No dia 9 de setembro eu fui para as torres, me lembro como se fosse hoje. Eles tinham muitos mecanismos de segurança por conta dos ataques de alguns anos anteriores. Minha irmã até reclamou do excesso de checagem, perguntou rindo para mim se pensavam que tinha uma bomba na mochila. Pedi para ela nem brincar com isso, dado o histórico do lugar. No dia 10 de setembro fomos a um bar de jazz, e no dia 11, faríamos compras... Acordei sem entender, achava que era de madrugada, mas era de manhã, com barulho de sirenes em todos os cantos", relembra.
Ele conta que foi avisado pelo cunhado sobre o atentado à primeira torre, mas não levou a sério. Pensou ser algo para tirá-lo da cama mais cedo, mas ao ligar a TV, veio o susto. "Surreal. Saímos do hotel e fomos para a região das torres. Não acreditamos. Nós poderíamos estar ali!".
Apesar de rápido, o intervalo após a primeira colisão foi suficiente para que Damasceno e sua família estivessem no local quando a segunda torre foi atingida. De volta ao hotel depois de ver a repercussão dos dois prédios em chamas em um bar, o medo era de que o próximo alvo fosse o Empire State. No saguão, encontrou um homem cheio de poeira e fuligem. Era um trabalhador do WTC que conseguiu se salvar, e por telefone, tentava avisar a mulher que estava bem, embora os telefones já estivessem parando de funcionar àquela altura. "Ele trabalhava nas torres. Perguntei se ele estava bem, e ele me disse que sim, e contou que a segunda torre tinha caído."
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O escritor Marcelo Carneiro Cunha também estava na ilha. Conhecedor da cidade, ele viajou a trabalho e participou de um encontro com colegas de profissão na véspera. Ainda muito sonolento, desceu do seu quarto de hotel na região da Union Square para tomar um café, e as sirenes do lado de fora não o alertaram. "Tinha muito barulho de polícia, ambulância. Mas isso não é incomum". Não demorou a se inteirar do que estava acontecendo em Manhattan.
"Tinha um bar aberto, tipo um pub, com televisões e as pessoas olhando. E fui ver qual era. Não fazia ideia. A TV mostrava uma sequência de aviões na Pensilvânia, no Pentágono. Uma série de ataques. Eu estava tentando compreender o que estava acontecendo. E aí corta para uma imagem aérea, mostrando algo que era evidentemente as torres em chamas, e aí você se dá conta... 'É aqui! O que está acontecendo?'", conta.
"Até então não tinha visto nada. Quando olhei para trás, era uma cena de Godzilla. As pessoas subindo a 2ª avenida cobertas de fuligem, cinzas, em uma cena de destruição urbana de filme japonês de baixo orçamento. Não parecia vida real, não é o que acontece! Diferentemente das pessoas, eu não estava fazendo nada, ninguém me chamou explicando, dizendo o que aconteceu. Tentei ir mais perto, mas já tinha um cordão de isolamento. A sensação era essa: 'o que está acontecendo?' Hoje, a gente sabe que eram 4 aviões. Pensilvânia, Pentágono e as torres. Naquele momento ninguém sabia o que era. Era um: 'tá, e agora?'".
Os momentos logo depois dos ataques transformaram a cabeça da população em uma grande incógnita. Todos se perguntavam o que poderia vir na sequência. Mais ataques? Outros aviões?
"Fecharam a ilha. Éramos 8 milhões de pessoas trancadas, parecia um filme hollywoodiano. Podia ser o gatilho para alguma coisa. Que coisa seria essa? Ninguém sabia. Bush desaparece. Não fala nada, ninguém sabe nada, não tem informação, no máximo, se descreve, e os telefones param de funcionar."
No dia seguinte, a movimentada Nova York amanheceu sem palavras. "Era impossível entender. No outro dia, bateu a melancolia. O que me impactou no dia 12 foi o silêncio das pessoas no metro. Uma Nova York quieta, como eu nunca tinha visto".