Ao menos 13 soldados americanos morreram e outros 18 ficaram feridos nas duas explosões no aeroporto de Cabul nesta quinta-feira, confirmou o general Kenneth McKenzie, chefe do Comando Central dos Estados Unidos, em entrevista coletiva. Segundo McKenzie, informações preliminares apontam que o ataque foi realizado pelo braço afegão do Estado Islâmico, conhecido pela sigla em inglês Isis-K e inimigo comum de Washington e do Talibã, que tomou o poder no Afeganistão em 15 de agosto.
A organização terrorista reivindicou a autoria do ataque, informou o SITE Intelligence Group, que monitora as comunicações de grupos extremistas islâmicos.
Em pronunciamento no fim da tarde na Casa Branca, o presidente Joe Biden prometeu vingança contra os perpetradores.
— Nós não vamos perdoar, não vamos esquecer. Vamos caçá-los até o fim e fazê-los pagar — afirmou.
Contexto: Conheça a 'filial' do Estado Islâmico no Afeganistão, inimiga comum de EUA e Talibã
O total de mortos entre militares americanos tornou esse incidente o mais fatal para as forças dos EUA no Afeganistão em uma década e um dos mais violentos em todos os 20 anos de guerra. Em 2011, a queda de um helicóptero na província de Wardak deixou 38 mortos, incluindo 31 militares americanos, sete integrantes das forças de segurança afegãs e um intérprete. A última vez que os EUA registraram baixas entre suas forças de combate, que se aproxima de um total de 2.400 mortos, foi em fevereiro de 2020. As mortes ocorrem a cinco dias do prazo final para que os americanos e seus aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) retirem seus combatentes do solo afegão.
McKenzie confirmou também que há diversos cidadãos afegãos mortos e feridos, mas o número exato ainda é desconhecido. À agência Reuters, autoridades de saúde afegãs disseram que haveria 60 mortos, entre afegãos e estrangeiros, e pelo menos 140 feridos. À AFP, o porta-voz do Talibã, Zabihullah Mujahid, que condenou "veementemente" o ataque, disse mais cedo que havia crianças entre os mortos.
— Se descobrirmos quem é o responsável por isso, iremos atrás deles — disse McKenzie, respondendo à pergunta de uma repórter que indagou se os EUA pretendem retaliar o Isis-K. — Estamos apurando quem foi responsável por esse ataque covarde e iremos. Vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana, estamos procurando por eles.
Entenda: Reação aos ataques do 11 de Setembro teve sucessão de erros que ainda assombram os EUA
O ataque desta quinta só acentua uma já caótica situação no aeroporto, que é controlado pelos americanos. Com voos civis interrompidos, poucos afegãos conseguem sair, já que a prioridade de remoção é para cidadãos estrangeiros e afegãos que trabalharam para as forças da Otan e receberam vistos dos países da aliança militar ocidental.
Cerca de 100 mil pessoas foram removidas do país desde que o Talibã voltou ao poder, em 15 de agosto, mas milhares ainda esperavam do lado de fora do aeroporto quando as explosões ocorreram. As operações de resgate, disse McKenzie, devem continuar até que "sejam encerradas no fim do mês" e vão seguir em frente mesmo diante dos riscos de segurança.
Entrevista: ' O Talibã efetivamente reconheceu a China como a principal potência', diz Tariq Ali
A primeira explosão aconteceu nos arredores do Portão Abbey, o principal local de acesso ao aeroporto, e foi seguida por uma troca de tiros. A segunda detonação, a pouco metros da primeira, ocorreu perto do Hotel Baron, prédio bastante usado por diplomatas americanos e britânicos. A a situação atual é volátil, alertou o Pentágono, e novos ataques são esperados, como é comum no modus operandi do Isis-K.
A teoria mais provável, disse McKenzie, é que um dos homens-bomba se autodetonou enquanto passava pelo posto de segurança dos militares americanos, mas que não chegou a ingressar no perímetro do aeroporto. Tentativas anteriores de ataques, disse o general, podem ter sido barradas pelo Talibã, responsável pela segurança ao redor do aeroporto.
O Talibã, ele afirmou, é responsável por fazer uma checagem prévia antes de permitir a chegada de pessoas à região onde estao as tropas estrangeiras, mas não há indícios de que os fundamentalistas deixaram os homens-bomba passarem intencionalmente. Antes do ataque, ele lembrou, "100 mil pessoas passaram" em segurança.
Surgido em meados de 2014, o Isis-K tem como base ex-integrantes de um grupo igualmente radical, o Tehrik-i-Taliban, ou Movimento dos Estudantes, do Paquistão, presente em áreas de fronteira entre os dois países. Ele segue um modelo similar ao de outras células — chamadas de províncias — do Estado Islâmico pelo mundo: uma relativa independência da liderança do grupo, baseada na Síria e no Iraque.
Há dias, líderes ocidentais, inclusive o presidente dos EUA, Joe Biden, apontavam o risco de ataques no aeroporto, mas os alertas ganharam nova dimensão na noite de quarta-feira. Diversos países e o próprio Talibã destacaram que havia ameaças "muito críveis" do Isis-K e emitiram alertas para que os civis deixassem o aeroporto. Perante os riscos, vários países europeus já haviam suspendido a retirada de pessoas do Afeganistão.