Os talibãs aceitaram que afegãos "que tenham documentos legais" deixem o país após o prazo final da retirada das tropas militares ocidentais, em 31 de agosto , disse o embaixador da Alemanha no país, Markus Potzel, nesta quarta-feira (25).
O diplomata é um dos representantes alemães envolvidos nas negociações de Doha e postou em sua conta no Twitter que o vice-diretor do Escritório Político do Talibã , Sher Abbas Stanekazai, "garantiu que os afegãos com documentos legais continuarão a ter a oportunidade de viajar em voos comerciais depois de 31 de agosto".
A declaração ocorre em um momento que o Talibã impede que cidadãos do país se dirijam ao aeroporto internacional Hamid Karzai, em Cabul, onde ocorre a evacuação feita pelos países ocidentais. Desde a terça-feira (24), o porta-voz do grupo fundamentalista afirmou que o novo governo não autorizaria mais a passagem de afegãos pelas barreiras, apenas de estrangeiros.
Matérias publicadas por correspondentes internacionais informam que os civis estão sendo agredidos e mandados de volta para casa quando chegam nas barreiras. A situação fez com que o porta-voz do Pentágono, John Kirby, informasse à imprensa que o país está "esclarecendo" a questão com os talibãs para deixar passar aqueles que têm as credenciais.
A caótica retirada de funcionários dos governos estrangeiros, diplomatas e civis que trabalharam com as forças de coalizão ao longo dos últimos ocorre desde o dia 15 de agosto, dia que o Talibã retomou o poder em Cabul. Cenas de desespero de afegãos querendo fugir do regime extremista se multiplicaram ao longo dos dias, mas uma ampliação do prazo final da evacuação está sendo sistematicamente negada pelos fundamentalistas.
Juízas perseguidas
Nesta quarta-feira, a Associação de Mulheres Magistradas Italianas (ADMI) publicou um comunicado formal em que pede às "Nações Unidas, às organizações internacionais e às forças governamentais" para "intervir rápida e eficazmente para garantir condições de segurança às juízas que querem continuar a exercitar, com plena independência, o seu papel" no Afeganistão.
Segundo a entidade, tanto as "colegas afegãs" com as suas famílias estão correndo sérios riscos por conta da retomada do poder do grupo extremista Talibã, bem como pelas medidas de anistia geral dada para centenas de pessoas detidas nos últimos dias.
"O perigo que as magistradas afegãs sofrem é agravado pelo fato de pertencerem ao gênero feminino à luz do caráter fundamentalista do nascente regime talibã", diz ainda a ADMI.
Durante o primeiro governo dos terroristas, que têm um "escritório político", entre os anos de 1996 e 2001, as mulheres foram impedidas de estudar, trabalhar e sair de casa sem a companhia de um homem da família. Porém, no período da invasão norte-americana, muitas delas — especialmente nas grandes cidades, como Cabul e Herat — conseguiram iniciar uma carreira.
No discurso, os talibãs afirmaram que vão permitir que as mulheres tenham seus direitos sob "a lei islâmica" interpretada por eles. Mas, muitas ainda não conseguiram retornar ao seu trabalho desde a retomada do poder do grupo.