Com o fim do polêmico programa criado por Trump, imigrantes começam a retornar aos EUA
Reprodução/U.S. Customs and Border Protection
Com o fim do polêmico programa criado por Trump, imigrantes começam a retornar aos EUA

Tatiana (nome fictício) saiu de Belo Horizonte em janeiro do ano passado, fugindo de um agiota e traficante que passou a perseguir sua família. Desesperada, deixou o país em busca de oportunidades nos EUA . Foi de avião até o México e de lá atravessou a fonteira, onde se entregou a agentes migratórios. Após três dias esperando na imigração, no entanto, foi levada de ônibus, de madrugada, de volta para o México. Ela não sabia, mas tinha acabado de ser incluída no polêmico programa de Protocolos de Proteção ao Migrante (MPP), assinado por Donald Trump e já revertido por Joe Biden, que enviava requerentes de asilo ao país vizinho.

"Minha primeira audiência seria dia 20 de abril, e eu teria que ficar no México aguardando. Aí veio a pandemia", conta ela, que até hoje vive em Ciudad Juárez. Tatiana, que fez parte do primeiro grupo de brasileiros enviados ao México  como parte do programa, passou quase cinco meses na Casa do Imigrante, onde dormia em uma quarto com outras oito mulheres e seus filhos.

"Não sabiam nada da nossa cultura, da nossa língua. Eu não conseguia me alimentar porque tudo era muito apimentado. Na hora de dormir, ficava longe do meu marido, porque os quartos eram separados, e minha filha chorava chamando por ele. Tenho depressão e ansiedade e os sintomas foram piorando. Quando mais pessoas começaram a chegar, colocaram colchões no chão e até nos corredores. Antes da pandemia, ainda saíamos para trabalhar, mas em março fecharam as portas. Sem emprego e sem ajuda da família , tive que ir embora", conta.

De lá, Tatiana foi para a casa de um grupo de brasileiros, onde podia se alimentar melhor e sair para trabalhar. Com o tempo, ela e o marido alugaram uma casa pequena. Mas os problemas continuaram: "se no Brasil eu era ameaçada pelo traficante, aqui a gente vive com medo o tempo todo. Chegaram a me extorquir, dizendo que iriam sequestrar minha filha. Parece que, por falarmos português, andamos com um alvo na testa".

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No abrigo, Tatiana conheceu Ana (nome fictício), outra brasileira que vivia situação parecida com a sua. Com o marido e três filhos, ela havia deixado o Brasil em fevereiro de 2020, por perseguição de traficantes e milicianos. Enviada ao México após pedir asilo nos EUA, ela conta que viveu as “piores situações de sua vida” em Ciudad Juárez .

"Vivi em um albergue onde fui humilhada e meus filhos agredidos. O padre [responsável pelo local] usa os imigrantes para se auto promover. Quem não fosse submisso a ele era punido. Sem motivo algum fui expulsa um ano depois. A Casa do Imigrante é uma máfia", diz Ana.

Ao sair de lá, acabou ficando de favor na casa que Tatiana havia alugado. Mas por pouco tempo: com a vitória de Biden, seu destino mudou de vez e graças à ajuda de advogados voluntários da ONG Las Americas, Ana e a família foram levadas de volta para os Estados Unidos na última quarta-feira, onde esperarão pela audiência de asilo. Tatiana ainda aguarda a sua vez.

"Biden foi eleito e a sensação que eu tive foi de justiça, paz, esperança e fé. Durante as eleições, passei noites orando e jejuando por sua vitória", conta Ana. "Foi um ano de lágrimas, sofrimento e muita humilhação. Hoje sou grata a Deus por tudo e a Biden por essa oportunidade. Meu maior sonho é poder dizer obrigada a ele pessoalmente por não desistir de lutar por todos nós, imigrantes. 

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