O presidente Donald Trump se proclamou vencedor da eleição presidencial nos Estados Unidos, quando a apuração dos votos ainda está em curso sem definição do vencedor, em meio a uma disputa apertada entre ele e o rival democrata, Joe Biden.
Em pronunciamento na Casa Branca pouco depois das 4h desta quarta-feira, o presidente disse, sem provas, que há fraude na apuração dos resultados e que irá à Suprema Corte para parar o que chamou de "votação" em alguns estados — uma aparente referência aos votos enviados pelo correio e que, de acordo com várias legislações estaduais, podem ser contados mesmo que cheguem dias depois do encerramento oficial da votação, na terça-feira 3 de novembro.
"Nós vencemos esta eleição . Então nosso objetivo agora é garantir a integridade [do processo] para o bem da nação. Este é grande momento. Há uma grande fraude em nossa nação. Queremos que a lei seja usada de maneira apropriada. Então vamos à Suprema Corte. Queremos parar toda votação", disse ele.
Não há nos EUA lei que impeça a contagem de votos que foram preenchidos corretamente e depositados no prazo devido. Os republicanos já foram derrotados na Suprema Corte em duas ações que pretendiam impedir que votos postais que chegassem depois de 3 novembro na Pensilvânia e na Carolina do Norte fossem contabilizados.
Ao lado do vice-presidente Mike Pence e diante de uma plateia de apoiadores, funcionários da Casa Branca e autoridades do seu governo, Trump começou seu pronunciamento dizendo que estava se preparando para celebrar "algo bonito", se dizendo surpreso por ter vencido na Flórida e citando também as vitórias em Ohio e no Texas. Depois, disse que sua vitória era certa na Geórgia e na Carolina do Norte, dizendo que Biden não conseguiria alcançá-lo, mesmo com as apurações ainda em andamento.
O presidente ainda celebrou seus números parciais na Pensilvânia, onde lidera com quase 700 mil votos de vantagem para Biden — analistas apontam que boa parte dos votos depositados antecipadamente em áreas de forte presença democrata, como a Filadélfia, ainda não foram contabilizados. Por fim, citando sua vantagem parcial no Michigan, onde a contagem também não acabou, declarou que "não precisa ganhar todos" os estados, fazendo projeções sobre seu potencial caminho para a reeleição.
"Eles sabiam que não poderiam vencer, e por isso vamos à Suprema Corte . Eu previ isso. Tenho dito isso desde o dia que ouvi que mandariam dezenas de milhões de votos [antecipados pelo correio]", declarou o presidente americano.
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Sem mencionar diretamente o Partido Democrata , Trump afirmou que "um grupo triste" tenta derrubar o movimento trumpista e disse considerar impossível que o opositor Joe Biden assuma a liderança na Pensilvânia, estado decisivo que contabilizou pouquíssimos dos votos enviados pelo correio ate o momento.
No fim de outubro, Trump chegou a afirmar que esperava por uma judicialização da eleição na Suprema Corte americana. Na campanha eleitoral, o republicano pôs a lisura do voto pelo correio sob suspeição frequentemente, embora jamais tenha apresentado elementos que sustentassem suas alegações.
Por causa da pandemia da Covid-19 , mais de 100 milhões de americanos anteciparam seu voto neste ano, dos quais 65 milhões enviaram seu voto pelo correio.
Mais cedo nesta madrugada, Trump já havia afirmado no Twitter, sem apresentar provas, que estavam "tentando roubar" a eleição. Biden , por sua vez, afirmou em pronunciamento em sua casa, no estado de Delaware, que estava no "caminho da vitória" e que ninguém poderia se declarar vencedor antes de todos os votos serem contados.
Mais tarde, a presidente da campanha do democrata, Jennifer O'Malley, reagiu ao discurso de Trump, chamando-o de "ultrajante, sem precedentes e incorreto". As declarações, ela disse são um "esforço descarado para tirar os direitos democráticos dos cidadãos americanos".
Mesmo aliados do presidente Trump fizeram críticas à proclamação de vitória com a apuração ainda em andamento. Chris Christie, ex-governador de Nova Jersey e aliado do presidente , disse que "foi uma má decisão estratégica" neste momento.
"Não há base para fazer essa declaração hoje. Discordo do que ele fez hoje", afirmou à rede ABC.
As críticas vieram até do autor Ben Shapiro, ligado à extrema direita nos EUA: "Não, Trump ainda não venceu a eleição, e é muito irresponsável ele ter dito isso".