Após a revelação de que políticos receberam um benefício do governo da Itália para ajudar trabalhadores autônomos durante a quarentena, dois vereadores admitiram que pediram o bônus e defenderam sua atitude.
O escândalo estourou no último domingo (9), em uma reportagem do jornal La Repubblica que revelou que cinco deputados - até agora desconhecidos - receberam o auxílio , bem como outros 2 mil políticos, entre vereadores, secretários, conselheiros regionais e prefeitos.
Com a repercussão do caso, alguns políticos decidiram se autodenunciar, já que os nomes dos beneficiários são protegidos por sigilo. "Não vivo de política porque não posso nem poderia.
Não poderia porque tenho uma hipoteca, faço compras, sustento minha filha e, de vez em quando, gosto de sair e viajar de férias", disse a vereadora de Milão Anita Pirovano, de centro-esquerda, no Facebook.
Psicóloga de carreira, Pirovano afirmou ao jornal Corriere della Sera que, ao contrário dos deputados , que ganham cerca de 5,3 mil euros líquidos por mês, além de cota parlamentar e outros reembolsos, ela recebe apenas 80 euros por sessão na Câmara Municipal de Milão.
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O auxílio para autônomos começou a ser pago em abril, com o valor de 600 euros por mês, e depois foi elevado para mil euros. Seu objetivo é garantir a sobrevivência de trabalhadores que perderam a renda devido às medidas de isolamento social no país.
"Sou uma cidadã normal, que trabalha como tantas outras pessoas, e pedi um benefício que cabia a mim porque eu precisava. Reivindico essa solicitação e decidi explicitar minha situação para mostrar a diferença entre a minha e outras condições", acrescentou a vereadora em entrevista à ANSA.
Quem também se autodenunciou foi o vereador de Trento Jacopo Zannini, de centro-esquerda. "Eu também não vivo só de política. Pago o aluguel todo mês e, em março e abril, fiquei sem trabalho. Como você, pedi os 600 euros, já que com as contribuições de presença eu não chegaria no fim do mês", escreveu Zannini no Facebook, dirigindo-se a Pirovano.
Na Itália , vereadores não têm um salário fixo e ganham uma quantia por cada sessão legislativa de que participam. Esse valor varia de acordo com o tamanho da cidade, mas costuma girar ao redor de 100 euros por presença.
Segundo documento disponível no site da Prefeitura de Trento, Zannini recebeu 3.480 euros brutos por suas participações nas sessões da Câmara Municipal entre janeiro e maio, uma média de 696 euros por mês. Pirovano, por sua vez, embolsou 9.124,24 euros entre janeiro e abril, média de 2.281,06 euros brutos por mês.
Já os nomes dos cinco deputados que obtiveram o auxílio para autônomos são protegidos por normas de privacidade, mas, apesar da pressão dos colegas, nenhum deles até o momento quis se autodenunciar.