Bolsonaro assistindo ao pronunciamento de Trump, nesta quarta (8)
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Bolsonaro assistindo ao pronunciamento de Trump, nesta quarta (8)

Um apoio explícito do Brasil às ações dos Estados Unidos na crise com o Irã pode gerar prejuízos para a segurança, o comércio e a economia do país, de acordo com especialistas consultados pela ANSA .

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Logo após o ataque ordenado por Donald Trump que matou o general Qassem Soleimani, um dos homens mais importantes do regime iraniano, o presidente Jair Bolsonaro adotou um discurso de cautela: "Eu não tenho o poderio bélico que o americano tem para opinar neste momento. Se tivesse, eu opinaria", disse o brasileiro na última sexta (3), ressaltando que estava até "descartada" a possibilidade do Brasil se pronunciar oficialmente sobre a ação militar dos EUA.

No mesmo dia, porém, o Ministério das Relações Exteriores emitiu um comunicado no qual dizia apoiar a "luta contra o flagelo do terrorismo", demonstrando um alinhamento com os EUA .

O posicionamento foi visto por analistas como uma quebra da histórica tradição diplomática brasileira de manter neutralidade em conflitos armados e crises geopolíticas. Além disso, de acordo com fontes de Brasília, o comunicado não foi apoiado de maneira consensual: a ala militar do governo era contrária ao endosso das ações americanas.

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A nota do Itamaraty fez com que uma representante de Negócios da embaixada brasileira em Teerã fosse convocada pelo governo do Irã, gesto visto na diplomacia como uma demonstração de desconforto.

"Se o governo brasileiro for além da nota publicada pelo Itamaraty, pode estar tentando agradar cada vez mais o presidente Trump ", disse Gunther Rudzit, coordenador do núcleo de estudos de negócios em Oriente Médio na ESPM.

Segundo o especialista, o benefício para o Brasil desse alinhamento com os EUA seria, "no máximo, uma facilitação na aquisição de equipamentos militares" e uma folga na imposição de tarifas. "Não há nenhum incremento que o Brasil poderia ganhar. Seria apenas uma espécie de 'seguro'", comentou.

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Já os prejuízos que o país poderia sofrer são vários, da segurança ao comércio, passando pelo campo diplomático. "Pode colocar o Brasil, pela primeira vez, na mira de algum atentado.
Não um atentado imediato e direto, mas indireto e de médio a longo prazo", alertou Rudzit. "A convocação da diplomata brasileira em Teerã mostra que o Irã está acompanhando com uma lupa a movimentação dos outros governos. Com certeza, o Brasil ganhou uma anotação no caderno iraniano", garantiu.

A opinião é compartilhada pelo analista de assuntos estratégicos André Luis Woloszyn, autor do livro "Guerra nas sombras: os bastidores dos serviços secretos internacionais".

"A antiga neutralidade do Brasil era um ganho relevante para a segurança. No cenário atual, talvez não sejamos tão imunes assim. Embora essa probabilidade seja baixa do meu ponto de vista, não descarto a possibilidade do Brasil sofrer um atentado contra um alvo americano em seu território, tendo em vista até a presença de células terroristas e do Hezbollah nas fronteiras", disse o especialista.

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Para André Lajst, diretor-executivo da StandWithUs Brasil, "o Estado brasileiro e o governo não devem ser alvos de retaliações, mas o território brasileiro poderia ser usado para um atentado, com pessoas filiadas a células terroristas no Brasil que atuam aqui para recolher informações, lavar ou captar dinheiro".

Outro dano considerável seria a relação comercial com o Irã. Segundo dados do Ministério da Economia, o Brasil exportou US$ 2,117 bilhões para o país entre janeiro e novembro do ano passado e importou US$ 88,9 milhões. Isso faz com que a balança comercial seja favorável para lado brasileiro com um saldo de US$ 2,028 bilhões.

O Irã também é o segundo maior importador de milho brasileiro (com 44% do valor comercializado), quinto na importação de soja (26%) e sexto de carne bovina (10%).
"Podemos trabalhar com as hipóteses de embargos e barreiras iranianas aos produtos brasileiros, redução de investimentos externos aos países emergentes e maior protecionismo comercial.

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Esta conjuntura acarretaria em risco real de queda na projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, estimada em 2% para 2020", pontuou Woloszyn.
Quanto a perdas econômicas, ainda é cedo para uma avaliação mais precisa, segundo o especialista. No entanto, alguns efeitos imediatos à economia brasileira já podem ser visíveis, como a instabilidade na Bolsa de Valores de São Paulo, a queda dos índices da Ibovespa e uma maior valorização da moeda norte-americana são os primeiros sinais.

"Embora a alta no preço do petróleo seja positiva para as exportações brasileiras, o ponto negativo será, provavelmente, um novo aumento interno no preço dos combustíveis, o 23º entre 2019- 2020, impactando na economia com a alta de preços dos transportes, produtos alimentícios e nos bens de consumo", observou.

Na diplomacia e no cenário internacional, o alinhamento do Brasil com os EUA ainda corre o risco de manchar imagem do país na comunidade internacional e respingar até no acordo entre União Europeia e Mercosul.

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"Os governos europeus estão tentando se manter o mais neutros possível nessa crise para chegar a uma posição comum. Todos os posicionamentos foram bastantes neutros", disse Rudzit.

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