Em um ambiente tenso pela presença de militares nas ruas, o presidente colombiano, Iván Duque , enfrenta nesta quinta-feira (21) uma greve que servirá como termômetro para medir o desgaste de seu governo , que tem uma desaprovação de 69% segundo as últimas pesquisas. Sindicatos, estudantes, indígenas e opositores de todos os espectros políticos convocaram uma grande marcha contra as políticas do presidente conservador, que está há um ano e meio de poder.
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Desde o fim de semana, dezenas de militares fecharam as fronteiras com o Brasil, Equador, Venezuela e Peru, e tomaram as ruas do centro de Bogotá, capital da Colômbia , por onde costumam transitar manifestantes que, através das redes sociais, denunciam uma “militarização” para intimidar o protesto.
O governo lançou uma campanha agressiva com o slogan “ A Colômbia não para
”, e agentes policiais fizeram, na terça-feira, cerca de 30 incursões em Bogotá
, Medellín e Cali, as principais cidades do país, que incluíram meios de comunicação e grupos artísticos e culturais.
Uma das operações mais controversas foi realizada na revista Cartel Urbano, na capital. Um grupo de policiais chegou às instalações procurando propaganda a favor da greve e supostos explosivos, com base em uma denúncia anônima. Eles não encontraram nada, mas, nos vídeos da operação policial, jornalistas reclamam que foram “tratados como se fossem terroristas”.
"Há uma decisão do governo da Colômbia de vender a imagem de que essa mobilização é uma catástrofe, que será um dia de violência, e a polícia está assediando as pessoas que entregam folhetos. Eles falharão nesse discurso porque já existe uma decisão do povo de parar", disse Diógenes Orjuela, presidente da Central Unitária de Trabalhadores (CUT), uma das organizações convocadoras da greve
.
Horas antes da greve, a ONU expressou sua preocupação pela presença excessiva de militares nas ruas. Em nota, seu escritório de direitos humanos também destacou a expedição de “vários decretos, circulares e instruções” que permitem a autoridades locais declarar toques de recolher e contar com apoio militar em caso de problemas. A organização chamou a atenção também para mensagens “de procedência não identificada” que “estigmatizam o protesto social” e outras que “pedem o uso da violência” nas mobilizações.
“O escritório recebeu informes sobre um aumento da presença de membros do Exército nas ruas de algumas cidades da Colômbia nos dias anteriores à manifestação”, indicou nesta quarta-feira o escritório local de direitos humanos do organismo internacional em um comunicado.
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Duque nega reformas
A greve foi originalmente convocada pelo Comando Nacional Unitário, que reúne as principais organizações de trabalhadores do país, para rejeitar um pacote de reformas que estaria sendo preparado pelo governo, e que causaria um forte impacto econômico e social nos trabalhadores. Entre elas, estaria a proposta de eliminar o fundo de pensão estatal Colpensiones, aumentar a idade da aposentadoria e reduzir o salário dos jovens para 75%, entre outras medidas.
Mas outros grupos se somaram à convocação, como estudantes e professores, que exigem mais recursos para a educação pública, e os povos indígenas. Artistas, organizações sociais e vários setores da oposição também uniram suas reivindicações, que variam das críticas à desigualdade aos aumento dos assassinatos de líderes sociais, indígenas e ex-guerrilheiros das antigas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia ( Farc
), que assinaram a paz e deixaram as armas.
O presidente vem negando repetidamente que planeje propor reformas, como alegam os manifestantes, e que rejeitou a ideia de reduzir os salários dos mais jovens.
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“Nenhuma reforma foi proposta”, disse Duque
durante uma rara transmissão ao vivo no Facebook esta semana, acrescentando que ele não quer aumentar a idade da aposentadoria. “Foi dito que queremos pagar aos jovens menos que o salário mínimo. Isso também é mentira.”
Na capital, os manifestantes devem se reunir em sete pontos de encontro antes de convergir para a central Praça Bolívar , onde fica a sede do Congresso, a uma quadra do Palácio Presidencial. O prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, afirmou na quarta-feira que o Exército “estará vigiando algumas instalações estratégicas”. A militarização da capital foi feita a pedido do gabinete do prefeito, de acordo com o recém-nomeado ministro da Defesa, Carlos Holmes Trujillo.
"Cerca de 4 mil policiais garantirão o desenvolvimento normal do dia, assegurando uma proteção adequada a serviços públicos", justificou. "Não estamos na Suíça, estamos claramente em um ambiente em que há uma imensa maioria de cidadãos que querem marchar em paz, mas há elementos extremistas que cometem violações da lei e atos terroristas".
O Centro Democrático, partido governista fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe , atribuiu a mobilização à “uma estratégia do Foro de São Paulo que tenta desestabilizar as democracias da América Latina, apoiada por grupos de oposição a Duque”.
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