Greta Earnman Thunberg é hoje uma das adolescentes que mais ocupam as páginas de jornais de todo o mundo, principalmente na semana passada, quando chegou a Nova York para participar de uma reunião da ONU após viajar 15 dias em um veleiro sustentável. A sueca de 16 anos é uma proeminente ativista pelo clima, criadora do movimento “Fridays for Future” e pode se tornar a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel.
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Greta Thunberg começou a chamar a atenção quando, em agosto de 2018, iniciou uma série de protestos em frente ao parlamento sueco. Seu objetivo com a greve escolar era que os representantes adotassem medidas que colocassem em prática as diretrizes do Acordo de Paris. No horário letivo ela ficava em frente ao parlamento com um cartaz escrito “skolstrejk för klimatet” (greve escolar pelo clima).
Algum tempo mais tarde, em uma palestra, ela explicou o motivo de ter optado pela greve: “Por que eu deveria estar estudando para o futuro, que logo não mais existirá, quando ninguém está fazendo nada para salvar este futuro?”
Sua ideia inicial era faltar em todas as aulas de 20 de agosto a 9 de setembro de 2018, quando aconteceriam as eleições gerais na Suécia. Depois das eleições, no entanto, ela continuou a greve, mas apenas às sextas-feiras – daí vem o nome “ Fridays for Future ”, ou sextas-feiras pelo futuro, em tradução livre. À época, ela cursava o nono ano do ensino fundamental.
O movimento logo ganhou projeção mundial e atingiu seu auge no dia 15 de março deste ano, quando mais de dois milhões de jovens saíram às ruas em 2.382 cidades de 135 países para pedir que seus governos adotem medidas contra as mudanças climáticas . O Fridays for Future já dura 54 semanas com o mote “não há um planeta B”. As greves continuam a acontecer, ainda que com menor adesão.
Com a fama, Greta começou a participar também de protestos em outras cidades, além das greves na sua natal, Estocolmo. Ela já esteve em Berlim, Bruxelas e Londres, por exemplo. Nesta sexta (30), ela participa de uma manifestação pelo clima em Nova York, em frente a sede da ONU.
Quem afinal é Greta Thunberg?
Greta Thunberg nasceu em Estocolmo, na Suécia, no dia 3 de janeiro de 2003. A menina de apenas 16 anos ainda vive na capital sueca. Ela é vegana e tenta convencer os pais, Malena Ernman, uma cantora de ópera, e Svante Thunberg, um ator, a seguir seu estilo de vida.
Ela conta que ao aprender sobre mudanças climáticas na escola, quando tinha por volta de oito anos de idade, foi tocada profundamente pelo tema. Para ela, o assunto era tão grave que gerou até uma certa desconfiança, afinal, se algo tão sério estava acontecendo, por que não estávamos falando sobre isso? Não deveríamos estar mais preocupados?, pensava a menina.
Ainda criança, aos 11 anos, Greta teve depressão e, posteriormente, foi diagnosticada com Síndrome de Asperger (semelhante ao autismo), além de transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e mutismo seletivo, que, segundo ela mesma, significa que ela só fala quando acha necessário.
Sua personalidade naturalmente reclusa, no entanto, é deixada de lado em prol da defesa das causas em que acredita. Em sua participação no TED Talk de Estocolmo, em janeiro de 2019, Greta fez questão de ressaltar que ela acha extremamente necessário falar quando se trata das mudanças climáticas. Por trás das longas tranças, sua marca registrada, e da aparência ainda mais jovem, está um dos maiores expoentes do ativismo climático da atualidade.
No Instagram, quase 3 milhões de pessoas acompanham a rotina de Greta. No Twitter são 1,2 milhões. Recentemente, ela compartilhou todos os passos de sua viagem para os Estados Unidos a bordo de um veleiro sustentável. Mais do que uma jogada de marketing, ela optou pela via náutica – que demorou 15 dias – porque os aviões têm uma enorme taxa de emissão de carbono. Contribuir com isso seria incompatível com seu discurso radical.
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Sem meias palavras
Greta costuma ser elogiada por, quando se pronuncia, ser firme, bem articulada e surpreende por não usar meias palavras. Sua militância não se baseia na esperança de um futuro melhor, e sim no medo e na urgência de adoção de mudanças. “Tivemos 30 anos de conversas incentivadoras e venda de ideias positivas, e me desculpe, mas isso não funciona. Nós precisamos de esperança, mas a única coisa que precisamos mais do que isso é ação”, disse a jovem em seu TED Talk.
Em um artigo publicado no jornal espanhol El País , Greta voltou a clamar por ação: “Os adultos não param de dizer ‘temos a obrigação de dar esperança aos jovens’. Mas nós não queremos a esperança deles. Não queremos que tenham esperança. Queremos que sintam pânico e façam algo.”
Da mesma forma, ao chegar em Nova York ela disse que “é insano que uma menina de 16 anos tenha que cruzar o Atlântico para se posicionar. A crise climática e ecológica é uma crise global e a maior que a humanidade já enfrentou”.
Na ocasião, ela também cutucou o presidente americano Donald Trump, que é um negacionista das mudanças climáticas. “Eu digo, ‘escute a ciência’, e ele obviamente não faz isso”.
A alfinetada em Trump não foi a primeira vez que Greta se envolveu em polêmicas com poderosos. Convidada a participar de uma sessão da Assembleia Nacional da França, ela irritou parlamentares que questionaram sua legitimidade. Alguns deputados conservadores boicotaram seu discurso, afirmando que os políticos devem gastar tempo e energia com especialistas em mudanças climáticas que possam de fato trazer soluções, não com “gurus apocalípticos”.
O primeiro-ministro australiano foi outro que se irritou com o movimento dela. Quando a greve escolar chegou ao seu país, ele foi a público defender “mais estudo e menos ativismo”.
Participar de eventos internacionais inclusive já faz parte da rotina da adolescente. Greta já esteve em outras capitais europeias para discursar a parlamentares, da mesma maneira que fez em Paris. Ela também participou da COP 24 , a cúpula das Nações Unidas para o Clima na Polônia, foi recebida pelo secretário-geral da ONU, António Guterrez, e pelo Papa Francisco.
Prêmiações
Com toda essa projeção, Greta vem sendo reconhecida por diversas premiações ao redor do mundo. Ela também já foi escolhida como personalidade do ano por algumas publicações e a lista aumenta cada vez mais.
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Por enquanto, o maior destaque nesse campo foi a indicação para o prêmio Nobel da Paz. O resultado costuma ser anunciado em outubro e a cerimônia de entrega acontece em dezembro. Se ganhar, Greta Thunberg se tornará a pessoa mais jovem a receber a premiação, passando Malala, que foi laureada aos 17 anos.