Embaixador brasileiro na França de 1997 a 2003, e conselheiro emérito do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Marcos Azambuja, acredita que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro , precisa dar o passo de pedir desculpas devidas a Brigitte Macron. Na sexta-feira, Bolsonaro endossou um comentário de um internauta no Facebook, que zombava da mulher de Macron , 24 anos mais velha, e foi criticado nas redes sociais.
"Cortesia de gestos e palavras é importante. Pedir desculpas a uma senhora que você possa ter ofendido é necessário", afirmou Azambuja. "A diplomacia é feita de linguagem e civilidade. Houve uma perda da qualidade da linguagem nessa relação que não traz benefícios a ninguém e gera uma animosidade que é o oposto do que a diplomacia busca".
Em entrevista coletiva ao lado do presidente do Chile, Sebastián Piñera, Macron disse nesta segunda-feira (26) que a declaração sobre Brigitte foi "triste" para os brasileiros, uma "vergonha" para as mulheres brasileiras e "extremamente desrespeitoso". Afirmou ainda que "respeita" os brasileiros e que espera que "eles tenham muito rapidamente um presidente que se comporte à altura" do cargo.
O diplomata aposentado, que esteve à frente da representação diplomática brasileira em Paris durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva, acredita que a "longa e densa relação bilateral" entre Brasil e França deve ser preservada.
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"Os franceses quase descobriram o Brasil, o Brasil por sua vez invadiu a Guiana Francesa. Há uma série de proximidade de interesses, culturais, geográficos. É uma relação rica e recíproca, uma longa história com alguns episódios de desentendimentos", lembra Azambuja.
A França apoia a ampliação do Conselho de Segurança da ONU, incluindo um assento permanente para o Brasil, e é um dos maiores investidores do país, "mais até que na China", lembra o diplomata.
"Trata-se de importante parceiro do Brasil em questões de paz e segurança, desarmamento e não-proliferação, direitos humanos, comércio, finanças, desenvolvimento sustentável e meio ambiente", diz um texto sobre as relações bilaterais na página do Itamaraty .
Para Azambuja, as alterações derivam mais de "personalidade e temperamento" e "posições ideológicas" opostas no momento.
"Há em andamento um grande programa de construção de submarinos com a França. O maior grupo hoteleiro do Brasil é francês e há uma grande presença de grupos automobilísticos franceses no país. A aposta francesa no Brasil é muito grande. Há uma rede de interesses cruzados", enumera sobre o país de Macron . "Não podemos deixar que incidentes de percurso prejudiquem isso. Os interesses objetivos e reais são tão densos e diversificados que episódios como esses tendem a ser digeridos a médio prazo".