A Justiça russa abriu uma investigação criminal por “desordem maciça” em relação aos protestos do último sábado (27) em Moscou nos quais mais de mil pessoas foram detidas , na mais dura repressão à ação de opositores do presidente Vladimir Putin em tempos recentes no país. As penas pelo crime podem chegar a até 15 anos de prisão. Enquanto isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) repreendeu a Rússia pelo que parece ter sido o uso força excessiva contra os manifestantes.
“Os investigadores determinaram que um grupo de pessoas difundiu na véspera da manifestação chamados para participar pela internet, admitindo implicitamente que estas ações podiam desembocar em desordem maciça”, justificou o Comitê de Investigação em um comunicado. Os investigadores acusam os manifestantes de “violação flagrante da ordem pública” e de “violência contra as forças de segurança”, assim como pelo rompimento de um cordão de segurança policial durante o protesto para manifestar-se no anel viário que cerca o Centro de Moscou, “paralisando” o tráfego.
Já a promotoria russa alertou que reagirá “com severidade” ante manifestações não autorizadas como a deste sábado. Seu chefe, Yuri Tchaïka , pediu aos colegas tomarem as “medidas eficazes de controle” para que “os acontecimentos que se produziram recentemente em Moscou não voltem a ocorrer”.
A manifestação deste sábado havia sido declarada ilegal pelas autoridades e foi severamente reprimida pela polícia, numa demostração das autoridades de afogar qualquer protesto relacionado com as eleições municipais de 8 de setembro, para as quais negou registro de grande parte dos candidatos opositores moscovitas. Pela legislação russa, o lugar e hora de protestos devem ser acordados previamente com as autoridades, o que não foi feito no caso.
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Aliado de Putin, o prefeito de Moscou, Sergei Sobyanin , acusou a oposição a “preparar nova provocação” para este sábado, afirmando que não vai permitir que os protestos mergulhem a capital russa na anarquia.
"Como avalio eles (os protestos)? Desordem maciça bem planejada previamente", disse Sobyanin em entrevista ao canal TV Centre . "Os manifestantes tentaram bloquear estradas e ruas e agredir oficiais de polícia. Eles simplesmente forçaram a polícia a usar a força. Anarquia, desordem e desrespeito às leis só tornam piores problemas reais e terminam em tragédia. Há mais do que suficientes exemplos disso na História de nosso país. A ordem será mantida, e não pode ser de outro jeito", acrescentou.
Por seu lado, o porta-voz de direitos humanos da ONU , Rupert Colville, questionou nesta terça-feira o impedimento das candidaturas de opositores e disse que a polícia russa parece a ter usado força excessiva contra os manifestantes, violando seu direito básico à liberdade de expressão.
“Estamos receosos porque a polícia russa parece ter usado força excessiva contra os manifestantes durante a manifestação no Centro de Moscou no sábado”, disse Colville em um comunicado. “Quando se controla as multidões na Rússia, como em qualquer lugar, o uso da força da parte da polícia deveria ser sempre proporcional à ameaça, se houver uma, e só deveria ser empregado em último caso”.
Segundo Colville, ao menos 70 pessoas ficaram feridas com a repressão. E embora grande parte dos detidos tenha sido liberada em algumas horas, 79 receberam multas variando entre 10 mil e 150 mil rublos (cerca de R$ 600 a R$ 9 mil), e 40 foram condenados a penas de três a 15 dias de prisão.
Líder da oposição, o advogado russo Alexei Navalny, que já estava na prisão, foi condenado na semana passada a 30 dias de detenção por convocar os protestos
. Hospitalizado no domingo em razão de uma “grave reação alérgica”, ele não descartou ter sido “envenenado”
pelo governo russo.