O presidente Donald Trump desembarcou nesta segunda-feira (3) no Reino Unido para uma visita de Estado de três dias. A viagem do líder americano vem em um momento sensível para o país, enquanto candidatos de todos os espectros políticos brigam para decidir quem será o substituto da primeira-ministra Theresa May, que deixará a liderança do Partido Conservador em 7 de junho. A premier britânica anunciou sua renúncia no final do mês passado, após consecutivas derrotas nas negociações do Brexit.
Na véspera de seu desembarque em Londres, Trump já havia reforçado sua posição sobre o impasse britânico com a União Europeia em entrevista ao jornal Sunday Times . O presidente recomendou que o Reino Unido deixe o bloco sem obter um acordo e sem pagar os US$ 50 bilhões que deve, caso os parceiros europeus não atendam a suas exigências. "Se você não consegue o acordo que quer, se não consegue um acordo justo, então vá embora", disse Trump em referência ao Brexit. "Em seu lugar, eu não pagaria US$ 50 bilhões".
Em declaração na manhã desta segunda-feira, a Casa Branca reforçou o comentário de Trump ao jornal britânico, afirmando que o presidente apoia um Brexit "que não afete a economia global", mas que "garanta a independência do Reino Unido".
Na semana passada, em entrevista ao tablóide The Sun , o presidente americano criticou a iniciativa de May de buscar um acordo para a saída da União Europeia e declarou que o ex-ministro britânico das Relações Exteriores Boris Johnson seria um premier "excelente".
Johnson, grande favorito a suceder May na liderança conservadora, lançou sua campanha nesta segunda-feira, com um vídeo no Twitter. O ex-ministro prometeu que irá liderar a saída do país da União Europeia no dia 31 de outubro, prazo final para um acordo, com ou sem um acordo de saída.
"Corte os impostos e traga mais dinheiro para dentro", ele diz no vídeo a um membro do público, ao defender mais investimentos para a educação, infraestrutura e saúde. Na semana passada, Johson foi convocado para responder às acusações de ter mentido deliberadamente durante a campanha do referendo de 2016 sobre o Brexit.
Há a expectativa que Trump se encontre com Johnson e o ultranacionalista Nigel Farage, líder do Partido do Brexit, durante sua estadia no Reino Unido. Se um encontro com Johnson poderá ser considerado interferência política, visto que há outros 12 candidatos na disputa pela substituição de May, uma reunião com Farage poderá ser entendida como uma ofensa diplomática, segundo a Bloomberg, já que o eurocético faz oposição ao governo conservador.
Troca de farpas com prefeito
Nesta segunda-feira, Trump se envolveu em polêmica antes mesmo antes mesmo de desembarcar. Sadiq Khan, prefeito de Londres, criticou nos últimos dias a recepção ao presidente americano, comparando-o, em um artigo publicado no jornal The Observer , aos "fascistas do século XX".
O prefeito, membro do Partido Trabalhista, incluiu o americano no mesmo grupo que os extremistas de direita Viktor Orbán na Hungria, Matteo Salvini na Itália, Marine Le Pen na França e Nigel Farage no Reino Unido.
Em resposta, o líder americano tuitou ainda mesmo do avião. "Sadiq Khan, que faz um péssimo trabalho como prefeito de Londres, tem sido insensatamente 'desagradável' com o presidente dos Estados Unidos, de longe o aliado mais importante do Reino Unido", escreveu. "Ele é um fracassado total que deveria se concentrar no crime em Londres, não em mim".
Alvo de protestos
Esta é a primeira visita oficial do presidente americano ao Reino Unido. No início de 2018, a Casa Branca cancelara uma viagem marcada do presidente a Londres por medo dos diversos protestos programados. Várias manifestações contrárias ao líder americano estão programadas para esta semana, a maior parte deles na terça-feira, quando o líder americano tem visita marcada com Theresa May.
Manifestantes foram vistos já na chegada de Trump ao palácio de Buckingham, na manhã desta segunda. Auriel Granville, uma ativista do meio ambiente, disse à rede BBC que foi ao palácio por ser contra as políticas ambientais da Casa Branca.
"Eu acho que ele não deveria ser recebido dessa maneira, as mudanças climáticas deveriam ser pauta principal e Trump nega o aquecimento global", disse a mulher, vestida como uma Estátua da Liberdade.
Nigel Farage criticou os movimentos contrários ao presidente em seu Twitter na manhã desta segunda, afirmando que os britânicos devem receber bem o "líder democraticamente eleito do mundo livre" e dar "boas-vindas que condizem com o status do cargo e de um grande país"
Ao decidir deixar a UE, o Reino Unido aposta em uma relação comercial fortalecida com os Estados Unidos, possivelmente com um acordo de livre comércio. No entanto, como o protecionismo tem sido a marca do governo de Trump, que abriu guerras comerciais com vários países, analistas vêm advertindo para os riscos da aposta dos britânicos pró-Brexit, afirmando que Washington pode impor a Londres um acordo desfavorável.
Encontro com realeza
Na manhã desta segunda-feira, Trump terá uma reunião com a rainha Elizabeth II, seguida por um almoço privado. Durante a tarde, Trump deverá tomar chá com o príncipe Charles e com a duquesa Camila após realizar um tour na Abadia de Westminster. O primeiro dia da visita terminará com um banquete oficial oferecido com todas as honras pela monarca de 93 anos.
O almoço oficial deverá ter a participação do príncipe Harry, cuja esposa, a duquesa Meghan Markle, Trump chamou de “desagradável” , dias antes de sua viagem a Londres. Meghan, que está em licença maternidade, não participará do evento, mesmo sendo americana.
"Eu não sabia disso. O que posso dizer? Eu não sabia que ela era desagradável", mas logo emendou que Meghan seria “uma princesa americana muito boa”. " É legal, e tenho certeza que ela vai se sair muito bem. Ela vai ser muito boa. Espero que ela tenha sucesso".
A ex-atriz apoiou Hillary Clinton na corrida presidencial de 2016 e na época chamou Trump de “misógino”. Ela até brincou sobre se mudar de vez para o Canadá, onde a série “Suits”, em que atuava à época, era filmada, se Trump vencesse a eleição.