Série de derrotas e problemas minou posição de May no cargo de primeira-ministra
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Série de derrotas e problemas minou posição de May no cargo de primeira-ministra

Nesta sexta-feira (24), Theresa May , primeira-ministra da Inglaterra, anunciou que abandonará a liderança do Partido Conservador no dia 7 de junho, uma consequência direta do fracasso nas negociações pela saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit.

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A decisão veio após a última cartada de May , a possibilidade de um segundo referendo sobre a saída, para tentar recuperar o controle do processo. A tentativa, entretanto, foi em vão: o texto foi mais uma vez alvo de críticas, tanto da parte da oposição trabalhista quanto pelos eurocéticos do seu partido.

Ascensão e queda da premier britânica

23 de junho de 2016 - Substituta de James Cameron

James Cameron , primeiro-ministro que antecedeu May e partidário da permanência na União Europeia, acreditou que solucionaria de uma vez por todas a divisão em seu Partido Conservador e respeito do vínculo com o bloco europeu a partir de um referendo.

Ele propôs a consulta popular de modo imprudente, enquanto governava em coalizão com os liberal-democratas, certo de que estes, europeístas, se colocariam contra a ideia. No entanto, nas eleições seguintes, os liberal-democratas desapareceram do mapa, e Cameron se viu sozinho no comando e obrigado a cumprir a promessa.

O principal partido de oposição, o Partido Trabalhista , considerado majoritariamente europeísta, elegeu em setembro de 2015 para sua liderança um eurocético, Jeremy Corbyn , o candidato que ninguém esperava que ganhasse a disputa interna por representar a ala mais esquerdista do trabalhismo. Corbyn fez uma campanha sem entusiasmo pela permanência na UE, e o Brexit prevaleceu na opinião popular com 52% dos votos no referendo. 

O resultado contrário à União Europeia resultou na renúncia de Cameron e da ascensão subsequente de Theresa May, segunda primeira-ministra mulher do Reino Unido .

Assim que chegou ao poder, a premier decidiu rapidamente ativar o mecanismo legal que impunha um prazo de dois anos para concluir a saída da UE . Logo o prazo se revelou muito curto para uma negociação muito complexa, especialmente diante das divisões dos políticos britânicos.

15 de janeiro de 2019 - Derrota histórica

May usou de todos os artifícios à mão para tentar convencer os legisladores a aprovarem o acordo do  Brexit . Acabou sofrendo uma derrota histórica, como nenhum premier conheceu desde os anos 1920. O acordo de 585 páginas, negociado ao longo de 17 meses com líderes da União Europeia, foi rejeitado. Foram 432 votos contra o acordo e 202 a favor, uma diferença de 230 votos que surpreendeu até os mais pessimistas sobre a aprovação do projeto e aprofundou as incertezas sobre o futuro do país e sua relação com o bloco europeu.

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O fracasso levou a primeira-ministra a enfrentar uma moção de confiança, apresentada por Corbyn. May sobreviveu ao desafio, o segundo desde junho, e se manteve no cargo.

12 de março de 2019 - Eurocéticos são algozes

A apenas 17 dias da data original prevista para a saída britânica da UE, May sofreu uma nova derrota em sua segunda tentativa de aprovar no Parlamento o acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia. Em votação na Câmara dos Comuns , os parlamentares britânicos rejeitaram a proposta por 391 a 242 votos, margem pouco inferior aos 432 votos contra e 202 a favor registrados na votação de janeiro.

Os eurocéticos do próprio partido de May, o Conservador , foram mais uma vez os principais algozes do acordo apresentado pela primeira-ministra. A maior crítica do grupo é referente ao mecanismo proposto para evitar que, após o Brexit, sejam impostos controles de fronteira entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda, integrante da UE.

Depois do Brexit, esta será a única fronteira terrestre entre o Reino Unido e o bloco, mas a imposição de controles fronteiriços violaria o Acordo da Sexta-Feira Santa, que em 1998 pôs fim à insurgência liderada pelos católicos da Irlanda do Norte, favoráveis à unificação com a Irlanda.

No dia seguinte, o Parlamento britânico votou contra uma saída da UE sem acordo. Neste caso, o Reino Unido acabaria da noite para o dia com 46 anos de adesão à UE, abandonando todas as suas leis e acordos, sem um período de transição. As trocas comerciais entre o Reino Unido e o resto da Europa passariam a ser regidas pelas regras básicas da Organização Mundial do Comércio (OMC).

29 de março de 2019 - 3° acordo rejeitado

Na data originalmente marcada para o adeus oficial do Reino Unido à União Europeia, os parlamentares britânicos rejeitaram pela terceira vez o acordo negociado pela primeira-ministra do país, Theresa May, com o bloco europeu. Por 344 a 286 votos, o Parlamento impôs nova derrota ao governo, que agora terá duas semanas para evitar o caos de uma saída sem regras de transição.

Depois que o acordo de transição que negociou durante dois anos foi rejeitado duas vezes neste ano pelo Parlamento — graças principalmente ao voto de parlamentares eurocéticos do seu Partido Conservador, que querem romper todos os laços com a UE —, May pediu à União Europeia um adiamento da data de saída. Os líderes europeus lhe ofereceram duas opções: aprovar o acordo em uma terceira votação nesta semana e sair ordeiramente em 22 de maio, ou sair em 12 de abril, em princípio sem acordo de transição.

No dia 10 de abril, a menos de 48 horas de uma saída sem acordo, o Conselho Europeu concordou em ampliar o prazo para o Brexit até 31 de outubro.

17 de maio de 2019 - Corbyn rompe negociações

O líder trabalhista Jeremy Corbyn rompeu as negociações do Brexit com o governo de May, jogando o país em um clima ainda maior de incertezas. Na ocasião, havia um mês e meio que a principal legenda de oposição do país tentava articular com os governistas conservadores uma saída para o impasse no acordo da saída.

Em carta enviada à May, Corbyn destacou que, na sua avaliação, as negociações "avançaram o máximo que puderam". Mesmo conduzidas em boa fé por ambas as partes, segundo ele, ficou claro que os dois partidos não conseguiriam superar divergências. Na correspondência, o líder trabalhista colocou em dúvida a própria força do Gabinete britânico em cumprir qualquer acordo.

24 de maio de 2019 - "Última chance"

Na terça-feira, Theresa May apresentou um plano de "última chance" para tentar recuperar o controle do processo de Brexit. A tentativa foi em vão: o texto foi mais uma vez alvo de críticas, tanto da parte da oposição trabalhista quanto dos eurocéticos do seu partido, resultando assim na renúncia, na quarta-feira, de sua ministra das Relações com o Parlamento, Andrea Leadsom.

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O projeto de lei, que Theresa May pretendia votar na semana de 3 de junho, não foi incluído no programa legislativo anunciado ontem pelo governo aos deputados.

O plano previa uma série de compromissos, incluindo a possibilidade de o Parlamento aprovar um segundo referendo sobre o Brexit e a continuidade da união aduaneira com a UE, numa tentativa de obter o apoio da maioria dos parlamentares, incluindo os da oposição trabalhista.

Após a rejeição da cartada final de uma primeira-ministra já na corda bamba, a queda era iminente.

Os membros de seu partido estão divididos desde o início do processo entre defensores radicais da saída da UE e proponentes de um rompimento negociado com o bloco. O favorito para substituí-lo no comando do Partido Conservador é o ex-chanceler Boris Johnson, um dos principais defensores do Brexit.

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