Ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner teve julgamento adiado
José Cruz/Agência Brasil - 16.7.2014
Ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner teve julgamento adiado


Numa decisão inesperada e que causou muita polêmica entre políticos e juristas, a Corte Suprema de Justiça da Argentina decidiu acolher recursos apresentados pela senadora, ex-presidente (2007-2015) e provável candidata à Presidência nas eleições de outubro deste ano, Cristina Kirchner, provocando com esta medida a suspensão, ainda por tempo indeterminado, de seu primeiro julgamento por corrupção, que deveria começar na próxima terça-feira. 

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Já em clima de campanha eleitoral e com Cristina Kirchner em primeiro lugar na maioria das pesquisas, a Corte surpreendentemente aceitou um pedido que a senadora vem fazendo desde o ano passado, faltando menos de uma semana para o início do julgamento.

Neste caso, Cristina, vários de seus ex-funcionários e o empresário Lázaro Báez, ex-sócio da ex-família presidencial argentina (preso desde 2017), estão acusados de terem montando uma "organização criminosa para apropriar-se de recursos do Estado através da concessão de obras públicas".

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Durante os dois mandatos presidenciais da atual senadora, que já foi indiciada em vários processos, a empresa Austral Construções, de Báez, venceu 80% das licitações de obras públicas na província de Santa Cruz, terra natal do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Em sua resolução, o juiz Julián Ercolini, que comandou as investigações, assegurou que, graças a este esquema de corrupção entre 2004 e 2015, o patrimônio de Báez, para muitos testa de ferro de Kirchner, aumentou 12.127%.

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"Esta resolução da Corte Suprema é escandolosa, é uma clara manobra política para favorecer Cristina. Querem evitar a foto da ex-presidente ao lado de empresários e ex-funcionários presos por corrupção", disse ao GLOBO a advogada Silvina Márquez, que junto à deputada Margarita Stolbizer, apresentou várias denúncias contra a ex-presidente e neste caso foi convocada como uma das 160 testemunhas.

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Para ela, "o tribunal que deve julgar Cristina está diante de um dilema".

"Se iniciarem o julgamento, correm o risco de terem de anular decisões por uma futura resposta da Corte ao recurso apresentado pela senadora. O mais provável é que tudo se suspenda até um pronunciamento do máximo tribunal", explicou Silvina.

O adiamente acontece em momentos em que a ex-chefe de Estado está liderando as pesquisas, tendo entre 33% e 36% das intenções de voto, apontou o analista político Carlos Fara. Ele, como a maioria de seus colegas, acredita que Cristina ganhará facilmente o primeiro turno. A grande questão, admitiu Fara, é saber o que acontecerá num eventual segundo turno, seja contra o presidente Mauricio Macri (que mal consegue arranhar 30% das intenções de voto) ou outro candidato.

"Poderia haver uma frente do tipo todos contra Cristina e nesse caso seu retorno ao poder seria mais difícil", comentou Fara.

Hoje, concluiu o analista, "a crise econômica pesa muito mais do que a corrupção na Argentina ".

As candidaturas para a presidência da República devem ser inscritas no próximo dia 22 de junho, em meados de agosto serão as primárias e no sábado 28 de outubro o primeiro turno presidencial. Cristina Kirchner lidera as pesquisas, com o atual presidente Mauricio Macri, em segundo.

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