Quase 900 crianças soldados que integravam uma milícia apoiada pelo governo da Nigéria para combater os insurgentes do Boko Haram, na região nordeste do país, foram desmobilizados nesta sexta-feira, informaram as Nações Unidas.
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O grupo de 894 jovens, que incluía 106 meninas, integrava a Força Operacional Civil Conjunta (CJTF, na sigla em inglês) — uma milícia criada em 2013 para apoiar os soldados na luta contra os extremistas do Boko Haram e na proteção das comunidades locais.
Em uma cerimônia na cidade do nordeste de Maiduguri, base da milícia local, os jovens foram libertados como parte do "compromisso" da CJTF "para terminar e prevenir o recrutamento e uso de crianças", afirmou o Fundo de Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
Há um mês, a Unicef divulgou que mais de 3.500 jovens — em sua maioria, de idades entre 13 e 17 anos — haviam sido recrutados por grupos armados e usados em conflitos violentos no nordeste da Nigéria. A agência da ONU para crianças revelou os dados no aniversário de cinco anos do sequestro das 276 meninas estudantes de Chibok, mas alertou que o número é subestimado, dados os muitos casos ainda não verificados de envolvimento infantil nas batalhas.
Só no ano passado, além dos jovens cooptados para a luta armada, 432 crianças foram mortas e outras 180, sequestradas. Mais de cem meninas de Chibok continuam desaparecidas.
Em outubro de 2018, a milícia CJTF liberou mais de 800 crianças que haviam sido recrutadas — 40% delas de até 15 anos. Foi a primeira vez, segundo organizações humanitárias, que o grupo baseado em Maiduguri libertava formalmente os jovens soldados desde que firmara a promessa de retirá-los de combate, no ano anterior.
A Unicef estimou, à época, que estas 800 crianças estivessem entre os 1.175 meninos e as 294 meninas cujo associação fora confirmada com a CJTF em Maiduguri. Com a desmobilização desta sexta-feira, 1.727 crianças foram libertadas desde então, disse a Unicef.
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As crianças libertadas serão inscritas em um programa de reintegração com educação e treinamento para ajudá-los a voltar à vida civil.
Conhecido mundialmente depois do sequestro em Chibok, em 2014, o Boko Haram atormenta a vida dos nigerianos desde 2009. O grupo extremista, cujo nome significa "a educação ocidental é um pecado", já teria matado mais de 30 mil pessoas em meio ao objetivo de criar um Estado Islâmico na região. Os confrontos se estenderam aos países vizinhos Niger, Chade e Camarões.
Uma das faces mais extremas de conflitos pelo mundo, as crianças soldados estão presentes em grupos terroristas, como o Boko Haram, mas também em fileiras de forças governamentais e milícias armadas. Além da exposição ao horror e à violência, os jovens ficam alijados das escolas.
Pelo menos desde 2012, grupos armados não estatais da Nigéria recrutam e utilizam crianças como combatentes, abusam sexualmente de meninas ou as forçam a se casar. Algumas das jovens engravidam em cativeiro e dão à luz sem cuidados médicos, denunciou a ONU.
Em setembro de 2017, a milícia se comprometeu a cooperar com um plano de ação para acabar com a atuação infantil em conflitos armados. A CJTF concordou em libertar jovens e instruir seus membros a não recrutar novos integrantes de pouca idade.
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A Unicef e seus parceiros dizem ter fornecido serviços de reintegração social e econômica a mais de 8.700 crianças libertadas de grupos armados como o Boko Haram , desde 2017. Tais serviços incluem rastrear suas famílias, levá-las de volta às comunidades e oferecer treinamentos para que melhorem os meios de subsistência.