Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tenta reeleição no país em meio a denúncias
Alan Santos/PR
Primeiro-Ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, tenta reeleição no país em meio a denúncias

Um grupo de observadores israelense descobriu uma rede de centenas de contas em redes sociais, muitas delas falsas, usadas para difamar adversários do  primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na eleição da próxima semana e promover as mensagens do Likud, seu partido, diz relatório divulgado nesta segunda-feira.

As mensagens publicadas nas contas da rede no Twitter e Facebook são frequentemente republicadas por proeminentes integrantes da campanha do Likud em suas contas, incluindo o filho do primeiro-ministro, Yair Netanyahu .

Os observadores do Big Bots Project (“Projeto grandes robôs”, em tradução livre), uma organização independente dedicada a expor o uso malicioso das mídias sociais, não encontrou uma ligação direta entre a rede e Netanyahu, seu partido ou filho, mas afirmou que ela parece operar em coordenação com o Likud e a campanha para sua reeleição.

“A rede opera via manipulações, calúnias, mentiras e na disseminação de rumores”, diz o relatório. “Nos seus dias mais ocupados, a rede publica milhares de tuítes diários”.

A atividade da rede de contas falsas aumentou em quase cinco vezes desde a convocação das eleições em dezembro passado, e “é mobilizada em momentos-chave para Netanyahu, como o anúncio das acusações contra ele”, afirma o relatório (o primeiro-ministro responde a três processos por envolvimento em casos de corrupção na Justiça israelense). O texto também lembra que a rede pode estar violando as leis eleitorais israelenses, além das sobre financiamento de campanhas, privacidade e tributárias.

Um porta-voz do Likud afirmou que o partido não tem uma rede de contas falsas na internet .

“Toda a atividade digital do Likud é completamente autêntica e baseada no grande apoio de cidadãos de todo Israel ao primeiro-ministro Netanyahu e aos grandes feitos do Likud”, disse o porta-voz, Jonathan Urich.

Netanyahu, que enfrenta acusações de corrupção , está numa disputa apertada para o que espera que seja seu quarto mandato consecutivo. Seu principal adversário na eleição de 9 de abril é Benny Gantz, um general aposentado.

De acordo com o relatório, 154 das contas na rede usam nomes falsos, e outras 400 são suspeitas de também serem falsas. As contas parecem ser operadas por pessoas, e não robôs, o que torna mais difícil identificá-las como falsas. Suas publicações, todas em hebraico, já tiveram mais de 2,5 milhões cliques num país com 8,7 milhões de cidadãos, estimam os autores do relatório.

O relatório foi escrito por Noam Rotem e Yuval Adam, fundadores do Big Bots Project. Eles foram ajudados pela Israeli Alliance (“Aliança israelense”, também em tradução livre), um grupo de tendências liberais, e sua investigação foi financiada pelo site de financiamento coletivo israelense Drove. O “New York Times” e o jornal israelense “Yediot Ahronot” receberam cópias do relatório em adiantamento.

Um das contas, sob o nome “Moshe”, traz como bela foto do perfil uma imagem que é na verdade do modelo grego Theo Theodoridis. “Moshe”, cujos textos elogiam Netanyahu e atacam seus rivais, só fez 16 publicações nos três primeiros meses de 2018. Já nos três primeiros meses deste ano foram 2.856 tuítes.

Os integrantes da rede também trabalham em sintonia uns com os outros, diz o relatório. Quando um publicou o boato de que Gantz eras um estuprador, muitos outros republicaram. Na última quinta-feira, muitos integrantes da rede quase simultaneamente começaram a tuitar que Gantz era doente mental, ecoando um vídeo distribuído pela campanha do Likud.

As mensagens da rede também têm sido redistribuídas por figuras proeminantes da campanha do Likud. Yair Netanyahu, conselheiro extraoficial da campanha do pai, retuitou mensagens dos integraantes da rede 154 vezes, com a rede “curtindo” ou respondendo suas mensagens 1.481 vezes, além de compartilhá-las 429 vezes. Yair Netanyahu não respondeu aos pedidos de comentários sobre o caso.

À medida que Gantz se tornou o principal adversário de Netanyahu, a rede passou a se focar mais nele, com sua atividade também atingindo picos em meio a eventos políticos importantes.

Na noite antes de o procurador-geral de Israel, Avichai Mendelblit, anunciar sua decisão de apresentar as acusações contra Netanyahu, a rede fez circular no Facebook publicação de uma americana dizendo que Gantz a assediou sexualmente quando estavam no ensino médio. Gantz negou a acusação, e nada que a corrobore surgiu posteriormente, mas as contas falsas continuaram a promover a história com tuítes como: “Gantz, o estuprador, na cadeia” e “estuprador salafrário”.

Todas as contas na rede estão ligadas à de uma pessoa real, Yitzhak Haddad, morador de Ashdod. O relatório cita um canal no YouTube do qual Haddad é um assinante ativo, que tem mensagem oferecendo dinheiro por “respostas no Facebook e na internet com mensagens políticas”. “Você recebe mensagens políticas e as publica”, explica a mensagem.

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Ainda não está claro se a mensagem está ligada à rede falsa nas mídias sociais ou se é Haddad quem opera a rede. Perguntado sobre a rede no domingo, Haddad disse ser “tudo mentiras”. Ele se recusou a confirmar ou negar ser a pessoas por trás da conta no Twitter com sua foto e endereço eletrônico, suas conexões com o Likud ou sua relação com o canal no YouTube recrutando pessoas para a campanha eleitoral.

Urich, o porta-voz do Likud, disse não conhecer Haddad, e que Haddad não era funcionário do partido ou tinha qualquer ligação ao Likud.

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