As últimas semanas têm sido de bastante violência na Europa, com atentados atingindo diferentes países e cidades, tais como Manchester, Londres, Munique, França e Bruxelas. Porém, esse é apenas um retrato do que tem acontecido ao longo dos anos e que, segundo o pesquisador Javier Lesaca, especialista em terrorismo, só tende a piorar.
Leia também: Príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth II, é internado em Londres
Lesaca é autor do livro “Armas de sedução em massa. A fábrica audiovisual do Estado Islâmico para fascinar a geração do milênio”, em que descreve sua análise após três anos estudando as propagandas e a comunicação do Estado Islâmico. Para ele, o uso de novas tecnologias e a mudança nas formas de atuação do terrorismo tem como objetivo criar uma falha sistemática, fazendo com que a população se sinta atraída pelas promessas terroristas. Assim, as propagandas do grupo extremista faz parte de uma narrativa criada para seduzir, comunicar e sugerir.
Até agora, por exemplo, o EI já produziu mais de 1,3 mil vídeos – além de terem sido abertas agências de comunicação no mesmo molde daquelas ocidentais para vender seu discurso: afinal, o público-alvo são jovens de 15 a 25 anos, independente do país de origem, que têm, em comum, a frustração e a percepção de estarem marginalizados socialmente. Para tanto, os terroristas utilizam de plataformas, hashtags e referências culturais que lhe são familiares, segundo explicou o pesquisador.
Na luta contra o terrorismo, que se torna difícil "enquanto os seus vídeos seguem disponíveis na internet", é preciso buscar a colaboração de grandes empresas tecnológicas, de comunicação e do âmbito do entretenimento, já que "são as indústrias mais credíveis e as que chegam com mais eficácia aos jovens", disse Javier Lesaca.
Um bom exemplo disso é a campanha específica lançada no dia 26 de novembro do ano passado, em que o Estado Islâmico explica como fabricar uma bomba caseira, exatamente igual à utilizada no recente atentado de Manchester. Desse modo, pede aos seus seguidores que comecem a cometer atentados em seus locais de origem – o que, podemos concluir, tem sido seguido ao pé da letra pelos cidadãos com passaporte europeu. “Agora, estamos sofrendo as consequências”, afirma Lesaca.
Leia também: Vídeo mostra momento tenso em que May deixou o Parlamento após atentado; assista
Para o pesquisador, a radicalização é um “fenômeno complexo” que, junto à ausência de uma estrutura fixa do grupo, faz com que o movimento jihadista (e a ideia da “Guerra Santa”) seja muito mais resistente a qualquer operação militar ou policial. É por isso que, de acordo com dados das Nações Unidas, nos últimos três anos pelo menos 35 mil jovens de 100 países viajaram para o Iraque e a Síria para fazer parte do Estado Islâmico, algo que “nem a Al-Qaeda conseguiu fazer”, pontua.
A crise de legitimidade e credibilidade nas instituições, a crise dos meios de comunicação tradicionais, o empoderamento dos cidadãos e o uso das redes sociais está gerando um contexto, no qual os grupos extremistas "têm mais capacidade do que nunca para seduzir seus alvos", acrescentou.
Leia também: Idosos sobrevivem a incêndio após se esconderem em caixa d'água em Portugal
Terrorismo e corrupção
Outro ponto explicado pelo pesquisador é a relação de terrorismo e corrupção. Segundo ele, enquanto no Oriente Médio ocorrem ataques brutais diários, na Europa o controle de fronteiras e a pressão policial dificultam a realização de atentados. “O fato de a organização ter surgido em dois dos países mais corruptos do mundo, Síria e Iraque, não é casual”, observa, ao considerar que a corrupção é fator fundamental que os estados devem levar em conta para “evitar a proliferação de mensagens violentas e extremistas” e, portanto, o terrorismo.
*Com informações da Agência Brasil com Agência EFE