Homem tem amostra coletada para teste de Covid-19 na China
Reprodução/NBC News
Homem tem amostra coletada para teste de Covid-19 na China

A China registrou, no último domingo (10), mais de 27 mil casos de Covid-19 em 24 horas, o maior número desde o início da pandemia. A maior parte das novas infecções está concentrada na cidade de Xangai.

Devido ao aumento da circulação do coronavírus, o governo chinês, adepto da estratégia de "covid zero", decretou lockdown na metrópole e, atualmente, mais de 26 milhões de chineses se encontram confinados até segunda ordem.

A medida provocou revolta na população, que gritou em massa pela janela como forma de protesto ( veja abaixo ), e também gerou questionamentos sobre a eficácia da política do governo no combate à Covid.


Segundo o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Alexandre Barbosa, a estratégia de "covid zero" funciona, mas não é sustentável a longo prazo. Isso porque, com a flexibilização das medidas de segurança, é natural que o vírus circule — ainda mais em um país grande como a China, onde não há bons mecanismos de controle de fronteira. Mas, o problema não para por aí.

A grande questão é que, no país asiático, apesar de quase 90% da população estar totalmente vacinada, a maioria não foi exposta ao vírus — e não tem, portanto, a chamada "imunidade híbrida", a mais potente de todas. Desde o início da pandemia, o país, que conta com mais de 1,4 bilhão de habitantes, não chegou a registrar nem 500 mil casos da doença.

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 "A 'imunidade híbrida' seria a proteção proporcionada pela vacina combinada com a exposição ao vírus", afirma Barbosa. "Nesse sentido, o Brasil, que por muito tempo foi o epicentro da pandemia, hoje em dia se encontra em uma situação de 'vantagem', entre muitas aspas, pois a maioria se vacinou e muitas pessoas foram infectadas pela Covid. Infelizmente, o preço que se pagou por isso foram mais de 600 mil mortos."

No cenário da China, um segundo fator a ser considerado, de acordo com o infectologista, é que os mais idosos têm uma resistência muito grande à vacina, possivelmente devido a uma questão cultural. A maioria é adepta da medicina tradicional chinesa, que defende a fitoterapia e utiliza outros medicamentos como último recurso.

O plano de vacinação do governo chinês também se limitou sobretudo aos que têm entre 18 e 59 anos de idade, sob o argumento de que não houve testes suficientes da vacina fora dessa faixa etária. A medida, considerada "de cautela", foi adotada em boa parte da China, principalmente a partir da notícia de que 23 idosos haviam morrido em janeiro do ano passado, na Noruega, após tomarem a vacina da Pfizer. Posteriormente, a OMS (Organização Mundial da Saúde) concluiu não haver evidências de que as mortes estivessem relacionadas ao imunizante.

Como consequência, apenas 51% dos cidadãos chineses com mais de 80 anos receberam duas doses da vacina, enquanto apenas 20% do mesmo grupo tomaram também a dose de reforço. Os dados foram informados por autoridades de saúde chinesas em 18 de março, durante entrevista coletiva. Em comparação com o Brasil, por exemplo, 75% dos idosos entre 70 e 74 anos tomaram três doses da vacina, de acordo com dados do Ministério da Saúde.

"Com a maioria da população idosa sem o esquema de vacinação completo e sem ter tido exposição ao vírus, o risco é dobrado, pois os mais vulneráveis não contam com nenhum tipo de imunidade. Tendo em vista esse cenário, defendo que, apesar de insustentável a longo prazo, a estratégia de 'covid zero' ainda é a melhor alternativa a ser adotada na China", diz.

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