Delegado Thiago Ferreira, da PF
Divulgação/Polícia Federal
Delegado Thiago Ferreira, da PF

O delegado que coordena o setor da Polícia Federal responsável pela segurança dos candidatos à presidência, Thiago Marcantonio Ferreira, afirma que a eleição deste ano exigiu a maior preparação da história da corporação no quesito proteção de autoridades. Segundo ele, superou grandes eventos como Copa do Mundo e Olimpíadas.

“Nunca houve uma preparação tão forte como essa”, resume.

Embora evite tratar de casos específicos, o delegado comentou as divergências entre a equipe de policiais que acompanha o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e superintendências da PF nos estados, que negaram pedidos de reforço feitos pelo staff do petista, que foi alvo de ameaças recentes. Ferreira revelou ainda que um grupo de inteligência monitora conversas e postagens em plataformas digitais em busca de qualquer sinal de risco aos presidenciáveis. 

O maior desafio, para o delegado, é separar a bravataria virtual dos casos concretos que possam representar perigo aos candidatos.

“É preciso haver um critério para não ficarmos loucos e sairmos atrás de tudo. Quando se quer tratar de tudo, acaba não se tratando nada.”

Confira os principais trechos da entrevista:

A eleição deste ano atingiu o nível máximo de risco para a segurança dos candidatos?

Nós estamos atentos ao contexto político eleitoral, que não vem de agora, mas de 2014. Temos candidatos classificados em todos os níveis, e um deles (o petista Luiz Inácio Lula da Silva) que está nesse nível (o 5, de maior risco). Às vezes, as redes sociais dão uma dimensão muito maior do que está acontecendo. 

Antes, você fofocava com o vizinho na esquina e aquela conversa ficava ali. Agora, vai para a rede social e, dependendo da maneira que você posta, se espalha de um jeito que pode dar até a sensação de uma insegurança maior do que a realidade.

E como separar o risco real de um ataque de um alarme falso?

Nós trabalhamos em duas frentes, que estão interconectadas: as redes sociais e as ruas. Temos uma metodologia objetiva, baseada em critérios científicos, para analisar o grau de cada ameaça. A partir do momento em que chega (uma denúncia), é preciso decidir se ela deve ser priorizada em detrimento de outras. A gente analisa uma série de circunstâncias, atribuindo um peso a cada caso. 

A "expertise" do policial é fundamental, mas é preciso haver um critério para não ficarmos loucos e sairmos atrás de tudo. Quando se quer tratar de tudo, acaba não se tratando nada. Um exemplo: uma pessoa no interior do Amazonas faz uma ameaça nas redes voltada a um ato em Brasília. 

Nós analisamos se ela tem capacidade financeira de concretizá-la, se é ligado a alguma facção criminosa, entre outros aspectos. Temos uma equipe específica em Brasília que monitora grupos (de bate-papo virtual) 24 horas por dia, sete dias da semana.

A PF preparou um enorme aparto de segurança para o comício de Lula em Belo Horizonte, inclusive com "snipers" e drones. Quando instrumentos como esses devem ser usados?

Não vou falar de nenhum candidato especificamente. Cada evento tem um nível de alerta diferente. Por exemplo, um encontro fechado de um candidato em um prédio na Avenida Faria Lima é diferente de um comício no Vale do Anhangabaú. Você só deve empregar o efetivo máximo se, de fato, houver necessidade. Se é preciso levar uma estrutura de guerra para um determinado local, às vezes, é o caso de se fazer uma reflexão. Um risco extremo foi realmente identificado? Se estou chamando batedor da PM, sniper da PF e da PM, além de reforço da Polícia Civil, será que não é o caso de sentar com a equipe do candidato e recomendar que não se faça aquele evento? Mas o candidato é livre para ir lá e fazer.

As superintendências da PF nos estados costumam dar apoio às esquipes que fazem a segurança permanente de cada candidato. Por que algumas superintendências não atenderam a alguns pedidos da equipe do Lula?

Num dos pedidos, eles (policiais da equipe do Lula) não haviam especificado informações como o tipo de evento, que horas iria ser e o grau de risco que representava. Por isso, a Superintendência questionou: ”vocês estão pedindo várias coisas, mas pra que tipo de evento que é?” É preciso saber se há capacidade operacional para atender (às demandas feitas pelas equipes dos candidatos).

 Foi um questionamento técnico. A orientação da coordenação é que seja feito um contato prévio com a diretoria executiva e depois seja demandado o recurso necessário. Não adianta você me pedir um foguete se não tenho um foguete para te atender.

O senhor considera que a ampliação do acesso às armas para a população civil aumentou a insegurança nas eleições?

Para nós, não há relação direta. Não tenho como afirmar isso. Por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro foi alvo de uma facada (durante a campanha de 2018).

Num dos pedidos de reforço, a equipe da PF que faz a segurança do Lula citou o armamento da população como um fator de risco para o candidato...

Esse ofício não atendia à melhor técnica, ficou claro isso. A equipe (responsável pela segurança do Lula) foi orientada a adotar o padrão que vem sendo praticado pelas outras equipes. Isso já é assunto superado. Tivemos conversas internas. É natural que operações desse tamanho tenham eventuais discordâncias, divergências e necessitem de ajustes. Cabe a nós atuarmos para colocarmos todo mundo na mesma direção.

Como evitar que as ações da PF virem pauta eleitoral e a corporação seja contaminada com o clima de disputa política?

O remédio pra isso é a nossa cultura institucional de 78 anos de história: a Polícia Federal não tem partido.

A PF hoje está preparada para evitar novos casos de violência contra candidatos à presidência, como a facada em Bolsonaro?

Infelizmente não podemos afirmar que nada irá ocorrer, mas nunca houve uma preparação tão forte como essa em disponibilização de aparato pessoal e equipamentos.

Maior do que vimos durante a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016?

De segurança pessoal de autoridades, sim. A PF fez a melhor preparação para uma eleição que poderia ser feita: atualizamos a frota de viaturas, capacitamos todos os operadores, estabelecemos critérios para a tomada de decisões, investimos em equipamentos. A tríade da nossa área é proteger, retirar e depois reagir.

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