Culpa da pandemia: segundo pesquisa do Insper, escolas do setor perderam cerca de 56% da renda até o mês de maio
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Culpa da pandemia: segundo pesquisa do Insper, escolas do setor perderam cerca de 56% da renda até o mês de maio

"Inaceitável. O Casulo sempre pensa no bem estar de nossos alunos e colaboradores, e entendemos que o Governo também. Temos mais flexibilidade para realizar as adaptações necessárias e capacidade de pronto atendimento. Penalizar as escolas particulares, fazendo-as aguardar até 08 de setembro, para que a rede pública  atenda a todos os protocolos de saúde impostos para o retorno dos alunos é inaceitável. Estamos prontos".

Assim define a situação vivida pelo setor da educação infantil em São Paulo Sandro Maligieri, mantenedor do Berçário Casulo , localizado na zona leste da cidade, após o governo definir o dia 08 de setembro como data inicial da volta às aulas . Segundo ele, a decisão de manter as escolas da capital paulista fechadas por mais dois meses torna mais difícil definir até quando a situação poderá ser mantida, principalmente com a constante saída de alunos.

"Tivemos uma perda de 35% dos nossos alunos . Em termos financeiros, a perda já é de 65% do nosso faturamento mensal, seja pelas perdas, pelos descontos nas mensalidades no início da quarentena ou pela inadimplência nunca experimentada pela escola. Mensalmente continuamos tendo que honrar folha de pagamento, impostos, aluguel, tudo isso com a receita drasticamente reduzida", afirma.

A análise é compartilhada por Ana Martins, auxiliar de direção na Escola Pacto , localizada na zona sul. Ela revela que a perda de alunos foi de 20% e que o impacto total nas contas, com os descontos devido a redução da carga horária, já é de 40% da receita.

"Achamos a data muito distante, o que acaba criando uma ansiedade muito grande por parte das crianças e das famílias. A decisão já causou impacto em nossa escola pois, após o anúncio do governador, mais algumas famílias optaram por cancelar as matrículas e avisaram que só retornarão em 2021. Principalmente, as famílias dos alunos que têm até 3 anos de idade, já que não têm a obrigatoriedade de estarem matriculados", ressalta.

No último dia 24, durante a coletiva realizada no Palácio dos Bandeirantes, o governo do estado apresentou as regras para a retomada das aulas . Segundo o plano , o reinício será feito de forma gradativa e com menos alunos por sala, além do distanciamento social obrigatório de 1,5 metro entre as pessoas, sejam alunos ou funcionários, organização de entrada, saída, intervalos alternados e preferência de atividades ao ar livre.

Outro ponto que pode causar problemas para as instituições de educação infantil é uma possível priorização dos alunos em "ciclos finais". Em entrevista ao SPTV no dia 25 de junho, o secretário municipal de Educação, Bruno Caetano, afirmou que a ideia é focar nos estudantes que estão em fase de transição.

"Preferência é iniciar o retorno pelas crianças que estão nos últimos anos do ensino infantil, no terceiro, no sexto e no nono ano do ensino fundamental e também no terceiro ano do ensino médio, porque são as que teremos mais dificuldades de fazer a recuperação, uma vez que elas já mudaram de ciclo", afirmou Caetano.

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Apesar de tal decisão, as escolas se dizem prontas e aptas a oferecerem toda a segurança necessária para as crianças. "Aplicaremos todos os protocolos de proteção que a Secretaria de Saúde determina. Distribuiremos nossos alunos em diferentes ambientes, as turmas serão menores, e estarão sempre acompanhadas de perto pelas professoras e auxiliares", garante Ana.

"Estamos construindo nosso protocolo de segurança e higiene em parceria com alguns profissionais e com todos os nossos colaboradores. Entendemos que o engajamento de todos nessa etapa seja primordial para o entendimento e cumprimento dos protocolos e responsabilidades no uso de equipamento e cuidados necessários para todas as faixas etárias", conclui Sandro.

Reflexos do fechamento

Apesar de todos os esforços da escola, alguns profissionais do Casulo acabaram sendo demitidos
Reprodução/Arquivo pessoal
Apesar de todos os esforços da escola, alguns profissionais do Casulo acabaram sendo demitidos

Além de todas as dificuldades financeiras, as escolas precisam pensar também em seus funcionários. A falta de perspectivas de reabertura e o temor com novas baixas no número de alunos fazem com que os responsáveis pela saúde financeira e sobrevivência das instituições não consigam garantir a continuidade de todos os  funcionários .

"Nós não temos a intenção de demitir nenhum de nossos funcionários, por isso acabamos optando em aplicar a MP do Governo Federal e reduzimos jornada de trabalho e salários em 50%. Porém, com a alta evasão escolar e com o término do benefício dessa redução em Agosto, não temos mais certeza de que conseguiremos manter nosso quadro completo", lamenta Ana.

No caso do Casulo, a situação é ainda mais complicada. Segundo Sandro, a escola já precisou desligar alguns profissionais, mesmo após adotar todos os recursos possíveis no início da quarentena para manter o quadro completo.

"Nos vimos obrigados a iniciar um processo de demissões após o término das férias coletivas, do período de suspensão temporária de contratos, da redução de receita, além da enorme dificuldade de acessar as linhas de crédito junto aos bancos, como o Pronampe, mesmo com a escola atendendo todos os requisitos para sua obtenção e tendo apresentado há semanas toda a documentação solicitada", afirma.

Sobre a mudança para as aulas online , ambos avaliam que tem sido complicado para muitas famílias se adaptarem a esta nova rotina, principalmente para os alunos de até três anos, mas que a resposta dos que conseguem é bastante positiva.

"Tivemos uma grata surpresa. A maioria dos nossos alunos está muito engajada e participativa. Pediram até que aumentássemos o período de duração das aulas. Estamos recebendo muito apoio por parte das famílias. Existem alguns pais e alunos que ainda sentem dificuldade na adaptação, mas sentimos que estamos conseguindo estabelecer uma rotina similar à da sala de aula, obviamente, com todas as restrições que uma tela nos oferece", aponta Ana.

"Nos surpreendemos com nossos alunos, pois o envolvimento das crianças de 4 e 5 anos está sendo bem produtivo. Temos priorizado atividades que falem das emoções, movimentação do corpo, experiências agradáveis e com muitas trocas. Sentimos uma dificuldade maior na presença online das crianças menores, contudo deixamos os materiais disponíveis para consulta e prática de atividades que possam ser realizadas aos finais de semana com a família", finaliza Sandro.

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