Nathalia Salis teve que retornar ao Brasil por conta da covid-19. A menina de 16 anos estava fazendo um intercâmbio na cidade de Victoria, no Canadá, que deveria durar um semestre, mas teve seu sonho interrompido após dois meses vivendo fora.
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Alguns dias depois de chegar em Porto Alegre, o sentimento de alívio conforta a família, que passou momentos de tensão antes do retorno. "Ela veio, agora está em casa, claro, de quarentena, mas está em casa. É um alívio para a gente que é pai”, diz César Salis, pai de Nathalia.
A menina, por sua vez, lida agora com a decepção de deixar tudo para trás. “É um sentimento muito frustrante. Todo mundo foi lá cheio de esperança para ficar seis meses, cheio de ideias e coisas pra fazer e no final não deu tempo de fazer muita coisa”, explica.
Nathalia conta que inicialmente não passava pela sua cabeça voltar ao Brasil e mesmo a escola onde estudava não considerava ser fechada. Com o tempo, porém, as restrições foram chegando. Nos Estados Unidos os intercambistas que viajaram pelo mesmo programa que Nathalia estavam sendo mandados embora, assim como os de uma cidade vizinha à dela. Em Victoria a volta para casa não foi mandatória, mas fortemente recomendada. “Chegaram a mandar um e-mail dizendo que a gente devia ficar trancado no quarto e não ter contato com as nossas host-families ”.
Nathalia insistiu em permanecer e dar continuidade a seu sonho, mas conta que em dado momento a imensa maioria de amigos e conhecidos que também estavam em intercâmbio já havia voltado para suas casas. Ela decidiu que retornaria ao Brasil na segunda-feira (23) de manhã e de tarde já estava no aeroporto rumo a Porto Alegre.
Seu pai, César, falou sobre a ansiedade que precedeu a decisão de interromper o intercâmbio. “A gente fica angustiado vendo a filha do outro lado do mundo. A crise foi aumentando até que a gente tem que tomar uma decisão. Tentei antecipar a passagem que ela já tinha, mas estava demorando muito e consegui comprar uma passagem de última hora”.
O sentimento de frustração descrito por Nathalia também é sentido pelo pai: “nós tínhamos um planejamento, ela ia voltar só em junho, aprender inglês no exterior, uma cultura nova, tudo isso foi frustrado em função desse coronavírus”.
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Depois da volta, Nathalia passa por um período de incerteza, sem saber se continuará assistindo aulas on-line da escola canadense ou se retornará ao seu colégio brasileiro. A família busca primeiro descobrir se conseguirá um ressarcimento pelo resto do semestre de intercâmbio.
Apesar da tristeza, ela encontra conforto por estar com a família. “No final é a escolha certa, a gente não sabe o que está por vir. Imagina a gente ficar preso em um país sem poder voltar? Se acontece alguma coisa com algum familiar nosso a gente precisa estar aqui junto com a família”, explica Nathalia, resignada. “Eu estou muito grata pelo que eu vivi lá e isso está me salvando de não ficar tão decepcionada”, completa.
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Os impactos do dólar alto
“A sensação é super frustrante e super complicada para as pessoas voltarem para casa”, resume Milena Jácome, de 23 anos que desde 2018 estuda international business na Northeastern University, em Boston, nos Estados Unidos. Ela chegou ao Brasil no dia 12 de março, depois de sua faculdade ser fechada por conta da pandemia de coronavírus.
De sua casa em São Paulo, Milena conta que as medidas foram graduais, porém rápidas. Logo após voltar das férias de primavera, no início da segunda semana de março, os estudantes foram questionados sobre para onde haviam viajado no período de folga. Aqueles que haviam estado próximos a áreas com altos índices de infecção por coronavírus receberam a recomendação de ficar em casa.
Também nestes primeiros dias de março, Milena começou a notar que haviam coisas em falta nos supermercados da região, principalmente produtos menos perecíveis. A universidade então cancelou as aulas presenciais, mas recomendou que os alunos permanecessem no campus, onde grande parte deles mora, incluindo Milena, pois a situação poderia ser normalizada a qualquer momento.
Pouco depois, porém, o campus foi completamente esvaziado e os alunos foram obrigados a retornar para suas casas. “Voltei [para o Brasil] porque estava com medo de cancelarem os voos”, explica Milena. Como evacuaram o campus, o retorno também passou a fazer mais sentido do ponto de vista financeiro. “Como o dólar está muito alto, ficar lá ia acabar sendo bem mais caro do que comprar uma passagem de última hora”, complementa.
Ela já está em sua terceira semana de aulas on-line . Ainda que o cronograma do curso não tenha sido significativamente modificado, a experiência estudantil foi prejudicada. Os alunos que se formam neste primeiro semestre, o fim do ano letivo norte-americano, por exemplo, terão uma formatura on-line.
Além disso, assim como outros brasileiros que estudam fora e não voltaram ao País, Milena também enfrenta muitas dúvidas . “Eu estou muito incerta em relação ao meu diploma e como vai ser o semestre que vem. Por mais que eles falam que as aulas vão ser retomadas, não se pode ter certeza disso, porque não se sabe quando vai acabar a quarentena”.