Israel mata Yahya Sinwar, líder do Hamas
ANSA/AFP
Israel mata Yahya Sinwar, líder do Hamas


Judeus não celebram a morte, mas ninguém pôde conter, em Israel, a comemoração pela  morte do líder do Hamas, Yahya Sinwar, na semana passada. No entanto, juntamente com a alegria surgiu a pergunta: e os reféns?

São duas as linhas de pensamento vigentes sobre o assunto. Se por um lado era ele quem dava a palavra final em qualquer tentativa de negociação pela libertação dos reféns e o consequente fim da guerra, por outro sua morte abre espaço para uma negociação direta com palestinos que tenham informações sobre o seu paradeiro ou que efetivamente ainda mantenham a guarda dos 101 israelense mantidos até hoje em Gaza – entre eles, dois bebês, Ariel e Kfir Bibas. 

Este é Kfir Bibas, de 1 ano, que foi sequestrado por terroristas do Hamas durante o massacre do 7 de Outubro


De novo, a opinião pública israelense está dividida: enquanto uns acreditam que muitos reféns serão assassinados por vingança pela morte do líder palestino, outros defendem que o fato criará pânico suficiente para que os envolvidos no sequestro façam esforços para salvar sua própria pele. Em situações desse tipo, Israel oferece garantia de segurança do denunciante e de sua família, retirando-os secretamente de Gaza e os instalando em algum outro lugar do mundo. Isso foi feito com o informante do paradeiro de  Mohammed Deif, líder do Hamas morto por Israel em julho.

As instalações de Yahya Sinwar e sua família nos túneis de Gaza


Propostas do governo e também de civis

Poucas horas depois de anunciada a confirmação da  morte de Sinwar (após análise da arcada dentária e do DNA do corpo encontrado), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, fez uma declaração pública na qual afirmou que qualquer um que trouxesse informações sobre os reféns contaria com proteção do Estado israelense; por outro lado, quem os ferisse teria o mesmo fim de Sinwar. Simultaneamente, milhares de folhetos com esse mesmo tipo de mensagem, com uma foto do corpo de Sinwar, foram lançados nos céus de Gaza. O governo de Israel também se reuniu com representantes do Catar em busca de líderes palestinos que possam atuar na negociação em lugar dele.

A eliminação de Sinwar


Sequestros são uma ferramenta bélica infelizmente usada com frequência por grupos terroristas árabes. O Hezbollah mantém, até hoje, corpos de soldados israelenses sequestrados em 2006. Há outros dois capturados em 2014 que ainda estão sob o poder do Hamas. Estes estão sabidamente mortos. Já sobre os reféns levados na  invasão de outubro de 2023, muito pouco se sabe de seu destino ou suas condições físicas atuais – acredita-se, no entanto, que pelo menos metade deles já estão mortos. Esse fato não muda a urgência em tê-los de volta, uma vez que, para o judaísmo, o corpo é sagrado e precisa ser enterrado seguindo os rituais judaicos. Sua recuperação é o primeiro passo para que os familiares possam dar um encerramento à tragédia que se abateu sobre eles.

Ninguém é deixado para trás

O que é unânime é a opinião de que é urgente libertá-los. Os seis reféns assassinados pelo Hamas em 31 de agosto, cujos corpos foram recuperados pelo Exército de Israel, comprovaram as condições em que os reféns são mantidos. Eles foram encontrados em um túnel escuro, sem ventilação ou água. Em garrafas plásticas, encontrou-se urina escura, demonstrando o alto nível de debilidade e desidratação. Uma delas, Eden Yerushalmi, pesava 34 quilos ao ser encontrada, enquanto Hersh Goldberg-Polin pesava pouco mais de 50 quilos, incondizentes com seu 1,80 metro de altura.

A última imagem de Eden Yerushalmi, uma das reféns assassinadas pelo Hamas
Reprodução
A última imagem de Eden Yerushalmi, uma das reféns assassinadas pelo Hamas


Estão surgindo outras iniciativas na tentativa de recuperação dos reféns. O ex-CEO da SodaStream, Daniel Birnbaum, divulgou um vídeo no qual ofereceu 100 mil dólares para quem devolver um refém vivo, a serem pagos em dinheiro ou bitcoin, que complementariam a proposta de remoção de Gaza e garantia de proteção de Netanyahu. 

A ansiedade por boas notícias se tornou uma epidemia por aqui. Os  reféns ocupam as mentes e os corações israelenses há quase 13 meses. O lema de  Israel – ninguém é deixado para trás – precisa ser cumprido. Caso contrário, essa será mais uma ferida na já desgastada alma nacional. Precisamos de boas notícias, urgentemente.

** Miriam Sanger é jornalista, iniciou sua carreira na Folha de S.Paulo e vive em Israel desde 2012. É autora e editora de livros, além de tradutora e intérprete. Mostrar Israel como ele é – plural, democrático, idiossincrático e inspirador – é seu desafio desde 2012, quando adotou o país como seu.

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