Há tempos não se via na capital paulistana uma disputa tão acalorada à sua prefeitura. Personagens exóticos, alternativos, desconhecidos ou sem qualquer experiência política, não são uma novidade. Lembremos aqui de Zé de Abreu e o seu famoso bordão "tá faltando um Zé lá na prefeitura" e mesmo Levy Fidelix com seu sempre presente projeto do aerotrem.
Contudo, nunca um candidato com um perfil, digamos, diferenciado, teve chances reais de vencer a disputa. Dessa vez, tudo leva a crer que será -- na verdade já está sendo -- diferente. Pablo Marçal, coach e empresário, parecia ser apenas mais um representante dessa linhagem alternativa e exótica, vem, porém, contrariando expectativas e se mostrando como um candidato concretamente viável ao pleito municipal de São Paulo.
Marçal surgiu no panorama dessas eleições com um discurso ao menos em parte bem conhecido: "não sou político". Lembremos que em 2016, João Dória Jr adotou esse mesmo discurso, elegendo-se ao final prefeito de São Paulo.
Marçal, contudo, tem peculiaridades que o diferenciam em muitos pontos de Dória. Basicamente, ele domina muito bem um ambiente que vem se mostrando central eleição após eleição: a internet e as redes sociais. Vinculado a um partido (PRTB) tão pequeno que nem tempo de TV terá nesta campanha, esse legítimo "outsider" parece não se ressentir disso e confia de modo especial nas redes sociais para se fazer conhecido e viabilizar sua candidatura de modo efetivo, com reais chances de vitória. Ao menos até aqui, tem dado certo.
Pesquisas eleitorais são sempre algo polêmico e por vezes de credibilidade duvidosa. A eleição para o governo de SP em 2022 mostrou isso, já que as pesquisas davam Haddad à frente de Tarcísio de Freitas e, com as urnas apuradas, se verificou o resultado inverso. Agora, algumas pesquisas apontam crescimento vertiginoso de Marçal na preferência do eleitor e uma delas, do Instituto Veritá, o coloca bem à frente dos demais candidatos com 30 pontos percentuais. A cautela deve tomar espaço, contudo, a tendência de crescimento se mostra real, efetiva.
Nesse meio tempo, Tábata Amaral, também candidata a prefeitura de São Paulo, conseguiu uma liminar na justiça para suspender as redes e canais de Marçal na internet. No entanto, o tiro parece ter saído pela culatra, pois o coach-candidato acionou uma espécie de rede "back-up" ou rede reserva e, apenas no fim de semana de 23 a 25 de agosto, ganhou nada menos que 3 milhões de seguidores.
Outro aspecto curioso é que Marçal se diz admirador do ex-presidente Bolsonaro, mas este último, já comprometido com Ricardo Nunes, quer distância da "novidade". Até Valdemar Costa Neto, do PL, entrou no circuito e ofereceu uma vaga de candidato ao Senado em 2026 para Marçal, mas a oferta foi recusada.
Pode ser tudo "fogo de palha"? Pode. Claro que pode. Mas o movimento criado na campanha e mesmo na política é bem palpável. Não tem nada de fictício ou artificial. Nos bastidores, o PT e a esquerda já projetam Marçal como um candidato forte e viável até mesmo para a disputa presidencial a ocorrer daqui a 2 anos. Por ora, a situação fica limitada à capital paulistana e o fato é que o quadro sucessório está ainda bastante indefinido.
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