"O homem que move uma montanha começa carregando pequenas pedras."
— Confúcio
Qual é o mais importante e talvez o mais complexo de todos os desafios que a humanidade enfrenta? A proliferação de armas de destruição em massa, cibersegurança, desinformação, IA, pobreza ou a crise ambiental? Acredito que nenhum desses.
É difícil ignorar que, em algum momento, em algum lugar, uma arma nuclear acabará sendo usada. Em 1962, ocorreu a Crise dos Mísseis de Cuba, quando a União Soviética instalou mísseis nucleares na ilha, quase levando à primeira e talvez última guerra nuclear. Em 1983, o oficial soviético Stanislav Petrov evitou um conflito nuclear ao reconhecer como falso um alerta de ataque de mísseis dos EUA, causado por uma falha no sistema de detecção soviético. O Covid-19, possivelmente saído de um laboratório de pesquisa, ilustra o que um erro humano poderia causar em nível global. Basta um erro, negligência ou má intenção.
Cenários assombrosos também podem ocorrer com ataques cibernéticos. As democracias parecem estar se desintegrando frente à desinformação, e a IA consciente já não é tema de ficção científica, enquanto seu mau uso atiça a criatividade dos futuristas, militares e terroristas. Com o crescimento da China, a democracia não é mais único e exclusivo sinônimo de enriquecimento econômico, e o meio ambiente é um problema que pode custar cerca de 200 trilhões de dólares até 2050.
Mas o que cada um desses desafios tem em comum? Sem querer diminuir o tamanho dessas dificuldades, que afligem e afligirão a humanidade talvez pelo resto de nossa história na terra, nosso maior desafio, em minha opinião, é a natureza humana; em resumo, a ganância de nossa espécie.
Infelizmente, uma mistura de circunstâncias com o DNA humano conseguiu criar psicopatas como Adolf Hitler, Joseph Stalin e Mao Zedong, cujos regimes foram responsáveis por genocídios e milhões de mortes. No presente, ditadores como Kim Jong-un, Bashar al-Assad e Nicolás Maduro perpetuam o autoritarismo, reprimindo seus povos e se mantendo no poder pela força e manipulação.
A questão é que precisamos solucionar problemas existenciais para humanidade ao mesmo tempo que temos que lidar com as imperfeições de nossa própria espécie.
Afinal, mentir, enganar, explorar e nutrir inveja são manifestações da natureza humana que, em última análise, alimentam os maiores desafios globais. Esses sentimentos e ações corroem a confiança e a cooperação, minando qualquer esforço coletivo para enfrentar problemas como a proliferação de armas de destruição em massa, o aquecimento global, a pobreza e até o avanço descontrolado de tecnologias como a IA. A ganância, ao priorizar o benefício próprio ou de uma pequena elite, à custa do bem comum, torna mais difícil encontrar soluções sustentáveis, aprofundando divisões e agravando os riscos que ameaçam a sobrevivência da humanidade.
Ademais, precisamos encontrar uma solução em equilíbrio entre o Laissez-faire, por um lado, e o Partido Comunista Chinês (CCP), por outro, já que a ausência de liberdade é tirania, o que também é parte do problema. Mas quanta regulamentação é demais? Como diferenciar uma boa da ruim? Os fundadores dos Estados Unidos entenderam isso ao criar o sistema de check-and-balances, mas cabe perguntar: será que isso é o suficiente? Acredito que não!
Outro desafio é a distribuição da informação. Ou seja, mesmo se podemos listar os valores universais para a viabilidade do planeta, como influenciar o comportamento de 8 bilhões de pessoas? Como convencer os governos e instituições de que estamos certos e que esses valores devem ser ensinados? Como resistir às retaliações? Afinal, por melhor que seja qualquer grupo de valores, ele não será uma solução instantânea ou perfeita, mas apenas uma alternativa melhor do que tantas outras.
Nos EUA, os Federalistas, liderados por Alexander Hamilton, James Madison e John Jay, escreveram os "Federalist Papers", defendendo a nova Constituição e explicando como a divisão de poderes e o sistema de "checks and balances" impediriam abusos. A inclusão da Declaração de Direitos, que garantiria liberdades individuais, como a liberdade de expressão e o direito ao devido processo legal, foi uma concessão essencial para vencer a resistência e obter a ratificação nos estados mais hesitantes.
Me pergunto repetidamente se as constituições vigentes nas democracias atuais são realmente suficientes para fornecer uma estrutura social, jurídica e política equilibrada diante dos desafios complexos que enfrentamos hoje. A estrutura de governo ajuda ou atrapalha na busca por soluções? Acelera ou retarda os processos de decisão? Além disso, como lidar com estados não democráticos ou aqueles com falta de capacidade de execução? E como enfrentar os inevitáveis conflitos de interesse que surgem ao longo do caminho? Essas questões levantam dúvidas sobre a eficácia das constituições em se adaptar às demandas contemporâneas antes que seja tarde demais.
Minha percepção é que falta algo nas estruturas atuais. Primeiramente, não há uma definição clara dos objetivos nacionais e mundiais. Muitos dos objetivos estabelecidos pela ONU, como por exemplo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), não são vinculantes, nem têm sanções automáticas ou penalidades caso sua implantação fracasse; ou seja, são meras sugestões. Segundo, as constituições não reconhecem esses possíveis objetivos. Quantas constituições são claras sobre o equilíbrio entre atividades humanas e a sustentabilidade do meio ambiente? Isso não é tão importante como os direitos humanos? Ora, não existirá direitos humanos sem um clima habitável.
A meu ver, as constituições atuais falham em incorporar o conceito de metas planetárias e nacionais de forma clara, assim como no processo de mensuração. Elas também carecem de uma representatividade adequada dos diversos grupos da população e não promovem a diversidade de conhecimento na formulação de políticas públicas. Além disso, as constituições não conferem um status especial ao método científico como uma ferramenta fundamental para distinguir a verdade do resto. Essa lacuna afeta negativamente todo o processo de criação e julgamento das leis, contribuindo para a frustração popular. Como resultado, as pessoas começam a perder confiança nos mecanismos democráticos e se voltam para candidatos populistas que prometem soluções milagrosas.
Outro problema é a falta de humildade nos sistemas atuais. Leis federais frequentemente ignoram as realidades específicas de determinadas cidades ou regiões, pois não têm como compreender plenamente o impacto local. Isso revela uma falha na descentralização e na distribuição de poder. Precisamos de mais experimentos controlados para testar o que funciona e o que não funciona em diferentes contextos, reconhecendo que uma solução eficaz em uma região pode não ser adequada para outra, devido às suas particularidades geográficas, sociais, econômicas e culturais.
Os mecanismos atuais falham em filtrar pessoas incompetentes e corruptas do sistema. Políticos podem permanecer no nível abstrato das narrativas sem ter que ser concreto ou pragmático, sem ter qualquer comprometimento com os resultados. A renovação política não é intrínseca ao sistema - isso se torna mais grave uma vez que vivemos mais.
A criação da Democracia Orientada a Gênesis ou G.O.D, é uma tentativa de criar um debate sobre como deve ser a constituição do futuro considerando todos os desafios que conhecemos, todos os dados que temos acesso, todas as pesquisas científicas e seus resultados, a experiência em gestão privada e pública, o conhecimento do que funcionou e fracassou. A premissa é que um sistema governamental melhor é essencial para lidar com desafios das nações e do planeta, ou seja, sem um sistema governamental melhor, não conseguiremos lidar a tempo com os desafios que nos esperam. Esta mesma premissa deve também passar por escrutínio.
Precisamos convocar uma nova Convenção Constitucional para reimaginar o sistema democrático. Temas como racismo, direitos de LGBTQA+, direitos reprodutivos, controle de armas, justiça social, liberdade de expressão versus discurso de ódio, religião e política, drogas, entre tantas outras questões, em minha opinião, são sintomas do sistema atual, enquanto um nova mecânica de república é em grande parte, a solução.
Os Founding Fathers criaram o sistema de checks and balances para prevenir tiranias, mas, nos últimos anos, muitos acreditam que ele foi corrompido. Agora, é essencial não apenas restaurá-lo, mas também aprimorá-lo, incorporando 236 anos de aprendizado e adaptando-o aos desafios do nosso tempo.
Venha compartilhar suas ideias comigo e com outros líderes mundiais no Horasis Global Meeting, no dia 26 de outubro, em Vitória, Brasil.