Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não esconde o encantamento que tem com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). A relação dos dois anda tão próxima e afinada que já vem gerando ciúmes dentro do Partido dos Trabalhadores. Uma ala importante da sigla teme que essa aproximação faça com que o ex-tucano se coloque como favorito na linha sucessória para 2026.
O presidente eleito já elogiou seu vice em diversas ocasiões, inclusive publicamente, mas o trabalho como coordenador de transição deixou Lula hipnotizado. "Ele é uma máquina de trabalhar e de produzir resultados", teria dito o petista em conversa com seu núcleo mais próximo. "O Lula elogia o Alckmin em praticamente toda reunião e até em conversa com pessoas mais ligadas a ele", confirmou outra fonte à coluna.
Em grupos de WhatsApp, o presidente recém-diplomado chama o ex-governador de São Paulo exatamente como ele costuma se referir a ele publicamente, "companheiro Alckmin". A frase, embora recorrente na boca de Lula não é utilizada para todas as pessoas de seu entorno. "O presidente só chama de companheiro quem ele tem em sua estima consideração", comentou um aliado.
A competência de Geraldo é aplaudida por diversos segmentos, seja da classe empresarial e até políticos, mas vem causando ruído nas entranhas do PT. A sigla, que já irritou Lula por conta das divisões, como mostrou a coluna, já está calculando o próximo governo de olho nas eleições 2026. Caso Lula cumpra a promessa de não tentar reeleição e o caminho natural é esse, segundo todos os ouvidos, abre-se uma vaga que a legenda nunca teve.
Desde 1989 é ele o nome da sigla para as eleições presidenciais. Nas duas vitórias de Dilma Rousseff, o petista só não se lançou porque não podia um terceiro mandato seguido e não quis em 2014. Em 2018, ele não foi o candidato porque estava preso e nomeou Fernando Haddad para ser seu representante. Na próxima, embora como presidente ele vá influenciar a decisão, o quebra-cabeça é diferente.
Quem for o escolhido será o sucessor não de uma eleição, mas do legado. Ao menos é o que o PT defende e acredita. Dentro da legenda, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, parece ser o pupilo escolhido por Lula para a função. Mas a crescente admiração por Geraldo Alckmin e a proximidade entre o presidente e o vice ligou o sinal de alerta na sigla.
Para a ala mais radical do PT, quem precisa guardar o legado de Lula é o próprio partido e mais ninguém. A sigla não considera sequer a possibilidade do sucessor nas eleições 2026 não esteja em suas fileiras. Alckmin já fez um movimento ao centro-esquerda ao deixar o PSDB e migrar para o PSB, mas ninguém aposta que ele pode ir para o partido do presidente em nome de uma futura candidatura.
Nos corredores de Brasília, no entanto, a aposta é que neste momento, Geraldo e Haddad disputam o papel de herdeiro político de Lula. O tempo dirá quem vai levar a melhor enquanto o PT tenta se reorganizar para não perder o protagonismo.
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