Senadora Mara Gabrilli cobra maior atenção ao consumo inclusivo no Brasil
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Senadora Mara Gabrilli cobra maior atenção ao consumo inclusivo no Brasil

Cadeirante, jovem e vaidosa, a publicitária Julie passeava pela avenida Paulista quando se interessou por uma camiseta que viu na vitrine de uma famosa marca de roupas casuais. O que parecia simples de se resolver, já que ela tinha dinheiro para adquirir a peça, tornou-se uma humilhação.

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A entrada do local ostentava três degraus nada convidativos para alguém em uma cadeira de rodas. Além da ausência de acessibilidade física, ela também se deparou com a falta de acessibilidade de atitude. Sem a mínima sensibilidade, foi convidada pelos próprios funcionários da loja a procurar um “lugar para cadeirantes”.

Episódios semelhantes são muito comuns na vida de quem tem uma deficiência. Eu mesma, em certa ocasião, procurei um salão nos arredores do meu escritório, no centro de São Paulo, para cortar o meu cabelo. Passei por vários estabelecimentos e não encontrei um lugar onde não houvesse degraus na entrada. Só depois de um tempo cadeirando, acabei achando um salão escondidinho. Mesmo sem uma entrada completamente acessível, consegui entrar depois de quase quebrar o vidro da porta.

Barreiras assim vão além do espaço físico. Nos canais de compra na TV, muitas vezes, é anunciado um determinado produto com o número para a compra apenas por escrito. Um formato de venda nada acessível para o consumidor com deficiência visual que depende do número falado para ter acesso.

Fato é que hoje a pessoa com deficiência além de brigar por seus direitos, quer poder escolher, entre outras coisas, o que vestir, o que assistir, aonde ir... E o que fará essa pessoa tornar-se cliente de um lugar é o cuidado que o estabelecimento e a empresa têm com relação à acessibilidade.

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Um exemplo simples do que estamos falando está nas lojas de roupas, que muitas vezes não oferecem provadores mais espaçosos que comportem facilmente uma cadeira de rodas ou uma pessoa obesa. Enquanto vereadora de São Paulo fiz um projeto de lei preconizando a acessibilidade nos provadores das lojas da capital paulista.

O mesmo vale para as prateleiras de lojas que precisam ser acessíveis para um cliente anão ou um cadeirante. Não podemos esquecer das praças de alimentação, que devem estar em locais de fácil localização e oferecer mesas acessíveis, mapas táteis e elevadores próximos. Sem falar que todos esses espaços precisam ter sinalização tátil para que as pessoas cegas circulem com autonomia e segurança. Vale lembrar que tudo isso deve acontecer de forma integrada: oferecer acessibilidade não é criar áreas exclusivas para pessoas com deficiência, mas sim ambientes que atendam de fato a todos. Essa é a ideia pregada no Desenho Universal.

Na Lei Brasileira de Inclusão, relatada por mim na Câmara dos Deputados e em vigor desde janeiro de 2016, não só reforçamos esses direitos, como garantimos o poder de escolha do público com deficiência em espaços como cinemas, teatros e casas de espetáculos, que deverão oferecer locais acessíveis em todo o estabelecimento, não só em áreas segregadas.

Pensamos também no direito à leitura. Agora as editoras de livros devem ofertar todos os seus títulos também em formato acessível. A LBI traz bem claro em sua redação que as editoras não podem, sob nenhum argumento, negar essa oferta. Lembrando ainda que ao venderem seus títulos acessíveis pelo site, o canal de venda deve ter acessibilidade para que o consumidor com deficiência visual possa comprar seu livro com autonomia.

Pessoas com deficiência movimentam a economia como qualquer outra parcela da população. Estamos falando de um público com poder de consumo em potencial.

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Neste mês de março, época em que celebramos o Dia Mundial do Consumidor, lembro que cabe a esses estabelecimentos e também às empresas investirem na diversidade para que as pessoas com deficiência sintam-se cada vez mais incluídas e respeitadas como consumidoras e cidadãs. Além de estarem cumprindo a legislação, estarão ampliando o negócio para atender um nicho de mercado que tem lealdade e potencial de crescimento por meio do consumo inclusivo . Uma marca que se compromete com a diversidade só tem a ganhar, inclusive na performance de seus colaboradores. Afinal, atender bem é atender a todos.

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