Quando jovem, carreguei um pensamento muito comum ao de vários brasileiros: o de que os políticos eram todos iguais. Mas aos 26 anos, sofri um acidente de carro, quebrei o pescoço e fui obrigada a reaprender a viver. Sem movimentos do pescoço para baixo, meus referenciais foram revirados e o meu olhar para o mundo também.

Leia também: Eleições 2018: oportunidade para o Brasil ouvir de verdade as mulheres

Essa transformação foi preponderante para que eu fizesse meu primeiro contato, mesmo que de forma irrefletida, com a política.

Ao voltar da minha reabilitação nos EUA, me deparei com uma realidade dura que eu passei a assistir de muito perto. As pessoas com deficiência não tinham reabilitação, transporte, saúde... Calçada decente para sair de casa. Resolvi então fundar uma ONG para trazer oportunidade para a vidas de pessoas com deficiência.

As pessoas precisam mudar a política
Mara Gabrilli (Arquivo Pessoal)
As pessoas precisam mudar a política

À época, minha mãe passou a insistir para que eu me candidatasse a um cargo público para ampliar meu trabalho e assim poder atingir mais pessoas - de forma concreta e direcionada. Foi assim que, sem apoio e conhecimento político, candidatei-me a vereadora e obtive votos que me garantiram a suplência.

Nesse interim fui convidada pelo então prefeito José Serra para comandar a primeira Secretaria da Pessoa com Deficiência do País. Dois anos depois, assumi o cargo de vereadora de São Paulo e passei a legislar pelos paulistanos à margem de políticas públicas. Na bagagem, pouca experiência, mas na mente e coração, muita vontade de transformar a cidade e a vida das pessoas.

Foi dessa forma que entrei para a política propriamente dita. De maneira genuína e por um ideal que pauta meu trabalho e o da minha equipe hoje e sempre: o de melhorar a vida das pessoas.

Leia também: Cidades que abracem a todos: desafio do atual gestor público

De lá pra cá muita coisa mudou. A cidade de São Paulo tem quase todos os seus ônibus acessíveis, tem a Paulista como a avenida mais acessível da América Latina, tem uma lei que obriga a Prefeitura a reformar calçadas, entre outros avanços que melhoraram a vida de todos os paulistanos.

E eu tenho muito orgulho de dizer que essa sementinha começou por nós. Hoje, o Estado de São Paulo tem várias secretarias da pessoa com deficiência. Outros estados do Brasil também passaram a ter pastas para gerir políticas públicas para as ditas minorias – que não são minorias. São gigantes.

De lá para cá, continuamos a fazer política seguindo essa mesma premissa. E a nossa agenda positiva no Congresso passou a abarcar muito além das pessoas com deficiência. Fortalecemos a bandeira das mulheres, dos idosos, pessoas com doenças raras, e, sobretudo, a bandeira da ética, da honestidade e da democracia. Hoje, tenho muito orgulho de dizer que construimos uma legislação grandiosa com a contribuição de toda a sociedade civil, que pela primeira vez no Congresso participou ativamente de um projeto de lei. Hoje temos a Lei Brasileira de Inclusão, que é tão grandiosa quanto a nossa luta.

Isso porque entendemos e temos a dimensão de que somos um país continental, em que todos devem ser ouvidos.

Somos um país rico em diferenças culturais e sociais. Mas rico também em desigualdade – barreira, que, somada à corrupção, tornam-se grandes desafios ao nosso desenvolvimento.

E é por isso que nossa forma de trabalho – digo nossa porque a minha equipe é uma extensão minha -  não está em fazer uma política segmentada, mas sim uma política sustentável – que pensa em todos, no hoje e no amanhã. Afinal, quando a vida de uma pessoa melhora, a humanidade dá um salto de qualidade. E é pelo desenvolvimento humano que trabalhamos.

Michelle Bachellet, que foi presidente do Chile, certa vez falou uma frase que tem muito a ver sobre essa onda que o Brasil vive de buscar mais representatividade na política das ditas minorias. Ela disse que “Quando a mulher entra na política, muda a mulher. Mas quando muitas mulheres entram para a política, muda a politica”.

Leia também: Feminicídio e violência doméstica: para combatê-los é preciso falar

É essa política com potencial de transformação que queremos levar agora para o Senado. Hoje o que vemos é apenas a vontade de muitos em buscar os meios de manter seus projetos de poder pessoal ou partidário, mas que não se sustenta em longo prazo justamente porque não é pensado para as pessoas, para a melhoria do bem público.

O Brasil precisa resgatar a credibilidade de todas as instituições brasileiras, repensar nossa democracia, nossa forma de trabalhar. Com um Congresso muito mais plural e ético.

    Mais Recentes

      Comentários

      Clique aqui e deixe seu comentário!