A cidade de São Paulo cresceu tanto pelas bordas que hoje já se confunde com Santo André, São Bernardo, Guarulhos, e boa parte das 35 municípios que compõem a sua região metropolitana. Aliás, esse inchaço das grandes cidades é atualmente o grande desafio para o gestor público. Afinal, como assumir esse crescimento das metrópoles com sustentabilidade? Como cuidar do verde, da mobilidade, das pessoas e da felicidade de cada um, levando em conta as diferentes necessidades do cidadão?
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É possível termos tudo isso, sem deixar nada, nem ninguém para trás?
Pensar em políticas públicas nas cidades não é algo a ser feito de maneira isolada. O gerenciamento tem de ser integrado e coexistente. O transporte, a saúde, o emprego, educação, segurança, lazer, cultura... a mobilidade urbana. Cada área de uma gestão precisa estabelecer horizontalmente suas necessidades.
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Pense em um cidadão que mora em Rio Grande da Serra, estuda em Santo André e trabalha na sua cidade. Envolve, aqui, pelo menos quatro áreas de gestão (transporte, educação, mobilidade, emprego). Ou seja, não dá mais para pensar em calçada de forma isolada. Afinal, todo mundo precisa de uma calçada para ter acesso a qualquer serviço da cidade. Isso vale para o pedestre e também para o motorista.
Dados do IBGE projetam que, a partir de 2039, o Brasil terá, em média, mais pessoas idosas (65 anos ou mais) do que crianças de até 14 anos. Essas mesmas pessoas, que tanto contribuíram para a construção de nossas cidades, também são as maiores vítimas de acidentes por quedas em calçadas, Aliás, queda é considerada acidente de trânsito e hoje representa 15% do total dos incidentes nas cidades. Quer prova maior de que não olhar para a mobilidade urbana pode acarretar custos para áreas já negligenciadas, como a da saúde?
Um estudo londrino sobre politicas urbanas e de saúde reforçam esse pensamento. De acordo com a pesquisa, o transporte de qualidade, aliado a boas calçadas, estimulam as pessoas a caminharem para seus destinos de trabalho ou educação, e assim favorecer a saúde. A redução de doenças do coração, por exemplo, foi uma das principais mudanças na saúde dos ingleses. Ou seja, pensar em calçada é pensar em saúde pública.
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Uma metrópole sustentável precisa que seu gerenciamento proponha um sistema de transporte público adequado a todos os cidadãos, que ofereça saúde de qualidade em qualquer lugar, que tenha instituições de ensino qualificadas, que permita acessibilidade em todas elas, que cuide da não degradação do meio ambiente, que ofereça emprego, habitação, que use as novas tecnologias para integrar todos esses componentes etc. E ainda que respeite e mantenha as diversas culturas que compõem esse cenário. E trabalhar para que isto aconteça é uma obrigação do gestor público.
Por isso, precisamos de municípios com governos locais competentes, inclusivos e transparentes, que se comprometam não só com o bem estar, como um conceito da modernidade ou um slogan de campanha, mas sim como uma agenda positiva que deve perpassar por todas as áreas da gestão. O compromisso tem de ser, acima de tudo, com quem faz as cidades: as pessoas.