O mundo caminha para o fim de mais um ano de pandemia mergulhado em vários pontos de tensão geopolítica.
Na Rússia, o expansionismo e autoritarismo de Vladimir Putin ameaça o planeta com o estabelecimento de uma espécie de império czarista revivido e usando o seu poder energético.
A Ucrânia e outras ex-repúblicas soviéticas voltam a temer a anexação. Talvez Putin esteja interessado em reconstituir uma parte do império perdido.
A Rússia, com sua força cibernética, tem o poder agora de interferir em processos eleitorais de outros países e tentar manipular o resultado em seu favor.
A China continua a pressionar o Taiwan, que o presidente Xi Jinping julga ser parte de seu território. Em setembro, dezenas de aviões chineses sobrevoaram Taiwan de maneira ameaçadora. A possibilidade de invasão ainda parece remota, mas não impossível. Esse cenário repercutiria imediatamente sobre o caso Hong Kong.
O Afeganistão se coloca como uma ameaça à China, em razão de fronteira comum. O retorno do Talibã ao poder faz reaparecer o medo do terrorismo internacional, em que seu território sirva como base para ataques contra outras nações.
O Afeganistão pode apoiar a minoria muçulmana dos uigures na China da província de Xinjiang, no noroeste do país.
Segundo ativistas de direitos humanos, esta minoria vive segregada e ameaçada em Pequim.
Na Coreia do Norte, o seu ditador, Kim Jong-Un, segue com testes de mísseis lançados de submarinos e até de trens, ameaçando a Coreia do Sul e até os Estados Unidos.
No Oriente Médio, um eventual conflito entre o Irã e Israel pode criar uma gravíssima crise global.
No Líbano, outro barril de pólvora. O xeque Hassan Nasrallah, xiita e ligado a velha Pérsia, assegurou que o seu grupo tem hoje cem mil combatentes prontos para enfrentar Israel. E na mensagem ao estado judeu, que já enfrentou essa milícia várias vezes, não deixa de preocupar os analistas internacionais.
Na Europa, a Hungria e a Polônia continuam a desafiar Bruxelas nos temas da violação dos direitos humanos, independência do Poder Judiciário e da imprensa e continuam a ser centro do negacionismo, de políticas misóginas e de discursos frequentes contra grupos LGBTQIA+.
Na América Latina, a situação na Venezuela e em Cuba tensiona a coesão regional, assim como o esfacelamento e enfraquecimento do Mercosul.
A COP-26, de 31 de outubro a 12 de novembro, em Glasglow, vai repercutir o tema ambiental em grande ênfase, servindo de palco para parlamentares europeus ensaiar um bloqueio no processo de ratificação de um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, com mais uma derrota para a diplomacia brasileira.
Diante das políticas ambientais do Brasil, o lobby contra o tratado tem crescido e, de fato, há um impasse sobre como fazer para o texto entrar em vigor.
O bloco ecologista no Parlamento Europeu propôs uma emenda ao acordo para enfatizar que o instrumento Mercosul-União Europeia não pode ser ratificado da forma que está hoje porque não garante a proteção da biodiversidade, em especial na Amazônia.
A OCDE divulgou relatório em que se reafirma que o padrão de vida dos brasileiros deve ficar praticamente estagnado pelos próximos quarenta anos. Segundo essa projeção, o padrão de vida nosso é equivalente a 23 por cento do norte-americano. A conclusão foi de que essa taxa suba para apenas 27 por cento em 2060, sem a implementação de reformas sociais profundas no Brasil.
Na China, o padrão de vida deve passar de 26 por cento do observado nos Estados Unidos para 51 por cento em 2060. No México, vai de 29 por cento para 37 por cento. Na África do Sul, de 18 para 28 por cento.
De acordo com a OCDE, o crescimento do PIB real do Brasil deve ser um por cento na década de 2020 a 2030 e de um e meio entre 2030 a 2060, se não houver melhora na governança, no nível educacional e na liberalização comercial.
Na questão ambiental, o último relatório do Painel Intergovernamental sobre a Mudança no Clima, o IPCC, deixou claro: a crise climática já é uma realidade, quando 2021 se aproxima do fim.
E se tornará mais e mais grave até que a humanidade reduza a zero a poluição de gases de efeito estufa. As ondas de calor, secas e tempestades já pioraram a nossa maneira de viver.
A elevação do nível do mar pode ocorrer de forma rápida e catastrófica. Tudo isso agrava a desigualdade regional, danifica ecossistemas e biomas e dificulta o acesso a água e a comida. Mas ainda há tempo para evitar o pior.
O Brasil pode voltar a ocupar o papel que lhe cabe nesse debate, se for construtivo e se as instituições contribuírem de forma positiva para o debate na COP-26, em Glasglow.
Neste ano que se finaliza, tomamos conhecimento que o aumento do desmatamento em todo o estado do Amazonas foi de 46 por cento entre 2020 e 2021 segundo o INPE/DETER.
Sem proposta e sem ideia, vamos desembarcar proximamente em Glasglow com notícias nada animadoras para o Brasil, que se transformarão em centro de críticas e de prerplexidade.
A nossa imagem está muito desgastada no exterior e há pressão muito forte para que o executivo federal mude a narrativa que ancora o aumento do desmatamento. Será que vamos chegar ao final deste ano com mais uma derrota diplomática no momento em que os holofotes globais voltam-se para o Brasil?