O vice-presidente Hamilton Mourão acusou nesta terça-feira um funcionário do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) de fazer "oposição ao governo" ao priorizar a divulgação de dados negativos sobre queimadas. Mourão não citou nomes ou apresentou provas ao fazer a declaração.
"Eu recebo relatório toda semana. Até 31 de agosto, nós tínhamos 5 mil focos de calor a menos que 31 de agosto do ano passado — entre janeiro e agosto —. O Inpe não divulga isso. Por que? Não é o Inpe que tá divulgado. É o diretor do Inpe que falou isso? Não. É alguém lá de dentro que faz oposição ao governo. Eu estou deixando muito claro isso aqui: quando o dado é negativo, o cara vai lá e divulga; quando é positivo não divulga", disse, acrescentando que não sabia quem era esse funcionário.
A declaração de Mourão, que é presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, foi dada ao comentar sobre as queimadas no bioma amazônico.
Segundo dados do Inpe, em apenas 14 dias, setembro de 2020 já registrou mais queimadas na Amazônia do que em todo o mesmo mês do ano passado — do dia 1º até esta terça foram identificados 20.485 focos de calor na Amazônia contra 19.925 nos trinta dias do mesmo mês em 2019.
Na sexta-feira passada, Mourão disse que o Inpe estava se "contradizendo" sobre os dados de desmatamento da Amazônia. Segundo Mourão, informações do órgão enviadas a ele indicavam uma redução de 7% de queimadas no bioma, enquanto reportagem do GLOBO, também com base em dados mais recentes do instituto, indicava um crescimento de 6%.
O dado utilizado na reportagem, no entanto, era relativo ao período de 1º de janeiro a 9 de setembro deste ano, quando foram registrados 56.425 focos de incêndio na região, maior número desde 2010. Quando observadas as estatísticas somente até agosto, como fez Mourão, o número deste ano é 6% menor que o de 2019 — 44.013, em 2020, e 46.824, em 2019.