Em uma campanha que ensaia repetir a polarização nacional, com embates entre o candidato do PT, o ex-prefeito Fernando Haddad , e o do Republicanos, o ex-ministro Tarcísio de Freitas , apoiados respectivamente pelo ex-presidente Lula e pelo presidente Jair Bolsonaro , o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB) , tenta se reeleger e manter o comando de seu partido sobre o maior colégio eleitoral do país, o que já dura 27 anos.
Dentro de uma tradição histórica, a
segurança pública
deve dominar o debate na eleição para o governo do estado. Os principais candidatos já apresentaram propostas que apontam caminhos opostos no trato do assunto e sinalizam o perfil do eleitor que pretendem atingir. Eles também divergem quanto a temas relacionados à educação e têm abordagens diferentes sobre a questão da cracolândia.
Enquanto Haddad, que lidera as pesquisas e é único postulante visto como competitivo que restou no campo da esquerda, fala, em seu plano de governo, em “priorizar a diminuição da letalidade policial”, o atual governador e Tarcísio, que disputam o eleitorado à direita e estão empatados em segundo lugar, pretendem trabalhar pelo endurecimento de penas e para proteger os policiais, respectivamente.
Discursos em defesa da linha-dura das políticas de segurança marcam as eleições de São Paulo, pelo menos, desde a década de 1990, quando Paulo Maluf prometia colocar a “Rota na Rua”, em referência ao batalhão de elite da Polícia Militar que ficou marcado por acusações de truculência. Na campanha de 2018, quando tentava se vincular a Jair Bolsonaro, João Doria (PSDB), que seria eleito governador, afirmou que a partir da sua posse “a polícia iria atirar para matar”.
São Paulo é o estado brasileiro que tem o menor índice de homicídios por 100 mil habitantes, com 6,6 vítimas em 2021, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Por outro lado, tem visto um aumento de outros indicadores que haviam caído durante a pandemia por causa das restrições à circulação. No primeiro semestre deste ano, houve um crescimento de 36% nos furtos e 9,5% nos roubos em comparação com o mesmo período do ano passado.
Logo após assumir o cargo no começo de abril com a renúncia de Doria, Rodrigo Garcia, numa tentativa de dar resposta à piora de alguns índices, chegou a dizer que “bandido que levantar a arma para a polícia vai levar bala”. Em seu programa de governo, o atual governador afirma que vai liderar a bancada paulista no Congresso Nacional para rever benefícios como as “saidinhas” dos presos e tornar mais rigorosa a Lei de Execução Penal. Essas eventuais mudanças na legislação não são de competência do governo estadual.
Combate ao racismo
Já Haddad propõe em seu programa criar um “plano de metas, associado à valorização profissional, para redução da criminalidade, de aumento da resolutividade de crimes, de redução da letalidade”. O petista também quer instituir nas escolas e academias das polícias uma nova disciplina sobre racismo estrutural , “junto com a implementação de ações efetivas para a redução de mortes da população preta”.
Tarcísio, por sua vez, fala em rever a política de instalação de câmeras nos uniformes dos policias. O programa, batizado de Olho Vivo, começou em agosto de 2020 com a implantação de 585 câmeras corporais em três batalhões da PM. Hoje, já são 8.151 câmeras em 15 outros batalhões da polícia.
Um levantamento de pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que cerca de 88 mortes podem ter sido evitadas em um período de seis meses em razão da instalação das câmeras corporais.
Garcia ameaçou recuar nessa política implantada por Doria, mas reconsiderou. Em seu plano de governo, fala em integrar os equipamentos nos uniformes dos policiais com as imagens das câmeras que ficam nos espaços públicos. Haddad se compromete a ampliar a colocação de câmeras nos uniformes dos PMs.
Em 2021, nos batalhões onde havia instalação de câmeras, a letalidade policial caiu 85% em comparação com o ano anterior.
A forma como o governo estadual deve atuar para tentar acabar com as cracolândias, regiões dentro de cidades dominadas por usuários de drogas , é outro ponto em que há divergências. O petista pretende retomar o programa Braços Abertos, que implantou no período em que foi prefeito da capital paulista e que tem como foco a redução do consumo com reinserção social. Em relação ao combate ao tráfico, o petista fala em montar uma força-tarefa permanente e seguir o rastro do dinheiro oriundo do crime.
O atual governador quer endurecer o combate ao tráfico de drogas e ampliar a oferta de tratamento para dependentes químicos. Tarcísio pretende expandir o acolhimento e melhorar as “comunidades terapêuticas”, que são espaços de cunho religioso. Fora do pelotão principal da disputa pelo governo de São Paulo, o candidato do Novo, Vinicius Poit, defende a internação compulsória de usuários de drogas. Já Elvis Cezar, candidato do PDT, se diz a favor de “políticas de saúde, desenvolvimento econômico e por último ação policial na cracolândia”.
Cobrança de mensalidade
Na educação, a questão que tem provocado polêmica é a cobrança de mensalidades em universidades públicas. Haddad e Tarcísio se colocam contra a iniciativa, ao passo que Garcia é a favor, somente se a medida garantir a ampliação de vagas para estudantes de baixa renda.
Ainda na educação, o atual governador apresenta uma proposta ousada de levar o ensino em tempo integral a todas as escolas de Ensino Médio. O ex-prefeito petista e o ex-ministro de Bolsonaro se comprometem, respectivamente, em “incentivar” e “ampliar” o ensino integral. Haddad ainda planeja “corrigir distorções” na implantação do modelo “para garantir que o ensino integral não expulse os alunos da escola”.
Já sobre a privatização da Sabesp, a empresa de água e saneamento do estado, Garcia e Tarcísio já disseram ser favoráveis, mas recuaram e agora ressaltam ser necessário avaliar o desempenho da estatal. Haddad defende a manutenção da companhia com o estado.
Além das divergências nas propostas, a eleição paulista deve ser marcada por uma tentativa de dois dos principais candidatos de se vincular a seus padrinhos. Haddad pretende fazer uma campanha atrelada a Lula, enquanto Tarcísio precisa de Bolsonaro, seu ex-chefe, para se tornar mais conhecido. Já Garcia tenta se vender como um nome desvinculado da polarização que marca a eleição nacional.
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