Com apoio de lideranças do PSDB descontentes com a pré-candidatura presidencial de João Doria , o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, rodará o país numa agenda paralela à do correligionário na tentativa de herdar seu posto. Leite reuniu-se ontem, na capital paulista, com o ex-juiz Sergio Moro, que abandonou sua candidatura pelo Podemos e migrou para o União Brasil, e planeja encontros com outras lideranças partidárias. O gaúcho também montará um “QG” em São Paulo com objetivo de esvaziar o apoio interno a Doria, que renunciou na sexta-feira ao governo paulista.
Adversários de Doria acreditam que ele ficará enfraquecido no partido depois de sua saída do Executivo estadual, oficializada após novo desgaste interno. Na quinta-feira, Doria ameaçou seguir no governo como parte de uma “estratégia”, conforme descreveu posteriormente, para obter apoio explícito do presidente da sigla, Bruno Araújo, movimento que desagradou líderes tucanos. Sem o respaldo garantido a Doria pelo comando do maior colégio eleitoral do país, alas do PSDB como a liderada pelo deputado Aécio Neves (MG) esperam deixar o ex-governador paulista ainda mais isolado politicamente nas próximas semanas.
O plano traçado pelos que querem tirar Doria prevê que até o fim deste mês ocorra um aumento da pressão para que ele desista em favor de Leite. Caso o paulista resista, o debate será levado para a convenção partidária em julho ou agosto. Neste encontro, o gaúcho conseguiria construir uma maioria entre delegados.
Até lá, Leite rodará o país em paralelo com a agenda de Doria, deixando o PSDB com dois pré-candidatos na prática. Ontem, após se reunir com Moro em São Paulo, onde o ex-juiz se filiou ao União Brasil, Leite disse que ambos tentam construir uma “alternativa comum” para romper a polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Lula (PT).
"Os pré-candidatos têm as suas aspirações individuais e cabe aos dirigentes partidários evoluírem em um entendimento" disse Leite à emissora de TV “CNN”.
Moro encontra Tebet
Moro disse ter conversado “sobre a necessidade de união do centro”. Em nota assinada pelo presidente do União Brasil, Luciano Bivar, o vice Antonio Rueda e o secretário-geral ACM Neto, lideranças dos antigos PSL e DEM, o partido disse que Moro busca “um projeto político-partidário no estado de São Paulo e facilitar a construção do centro democrático”. Uma ala do União havia ameaçado impugnar a filiação de Moro, por não concordar com seu discurso rumo à eleição presidencial. Ontem, o ex-juiz também se encontrou na capital paulista com a senadora Simone Tebet, pré-candidata do MDB.
Leite também planeja costurar um acordo com Tebet, embora a senadora tenha declarado que pretende dialogar com Doria por reconhecer o resultado das prévias realizadas pelo PSDB. Além do União Brasil, o gaúcho também almeja atrair siglas como Podemos e até o Novo para sua aliança.
Para adversários, a ameaça de Doria de permanecer no governo paulista na última semana, o que colocava em risco a candidatura de seu vice, Rodrigo Garcia (PSDB), abalou sua relação com os tucanos de São Paulo, que formavam seu núcleo central de aliados. Um dia depois de Doria ter feito este movimento e obtido uma carta do PSDB endossando o resultado das prévias, o presidente da sigla, Bruno Araújo, admitiu a hipótese de a candidatura do paulista ser retirada caso não tenha aval de outros partidos, como União e MDB, que buscam uma convergência na eleição presidencial.
Doria também viu no mesmo dia um de seus poucos aliados fora de São Paulo na bancada de deputados federais deixar o partido. Domingos Sávio (MG) anunciou nas redes sociais sua filiação ao PL, sigla de Bolsonaro. Em nota, Sávio disse que o “quadro político atual é desafiador”.
Entre os apoiadores de Doria, por outro lado, o discurso é que o tema da candidatura presidencial está liquidado. O plano de Doria é iniciar, pela Bahia, uma série de viagens pelo país. Ele também aposta nas inserções partidárias, que começam a ser exibidas no dia 20, para tentar melhor suas intenções de voto — hoje em 2%, segundo o Datafolha — e reduzir a sua rejeição.
Aliado ex-governador paulista, o tesoureiro do PSDB, Cesar Gontijo, garante que Doria terá toda a estrutura necessária nos próximos meses.
"João Doria terá os recursos suficientes para a pré-campanha, para percorrer o país. Não sabemos ainda o valor exato, mas ele terá todas as condições financeiras."
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