Com a greve dos garis , que entrou na segunda semana, prédios e condomínios já contratam empresas para a coleta particular de detritos. No Maracanã, o Ville Rondon, com 228 apartamentos, precisou recorrer ao serviço privado.
Na última sexta-feira, o caminhão de uma firma recolheu no endereço mais de cinco toneladas de lixo acumulado, que provocava mau cheiro e causava desconforto aos moradores. De lá para cá, os sacos voltaram a se avolumar, e o condomínio avalia chamar a empresa de novo, já que a paralisação na Comlurb foi reiniciada anteontem após uma pequena suspensão de três dias, devido aos efeitos das chuvas.
“Foi uma medida preventiva (a contratação da coleta privada). Tive que manter o recolhimento do lixo na sexta-feira mesmo com os garis tendo feito aquele trabalho de exceção, porque o serviço já estava pago. Ontem (segunda-feira), aguardei para ver o que ia acontecer em relação ao retorno dos garis, e agora estou pensando no que vou fazer. Com a indefinição da greve, a gente não pode deixar o acúmulo acontecer”, disse o síndico do condomínio do Maracanã, Marcelo Crisóstomo, que escolheu a empresa após uma cotação de preços.
Lá, a última vez que os caminhões da Comlurb fizeram a coleta foi no dia 28 de março. De acordo com o síndico, há mais acúmulo de lixo nos finais de semana.
“A greve causa um transtorno muito grande. Nem eu, antes de ser síndico, tinha noção do quanto a gente produz de lixo. E olha que esse é um condomínio de médio porte”, ressalta Crisóstomo, que se vê obrigado a manter os detritos em contêineres na garagem, gerando mau cheiro e chorume.
Além das empresas privadas, os catadores de material para reciclagem se beneficiam no meio da greve. Na Cooperativa Transvida, na Vila Cruzeiro, o volume retirado diretamente das lixeiras multiplicou nos últimos dias. O catador que antes chegava com apenas um saco cheio agora consegue levar até quatro.
“A greve dos garis fez aumentar a quantidade dos resíduos. Sem contar que, antes da paralisação, os garis passavam antes da gente, recolhiam os recicláveis e levavam o material para cooperativas credenciadas da Comlurb”, afirmou Ilaci de Oliveira, presidente da Cooperativa Transvida.
Ação indenizatória
Na Tijuca, o morador de um prédio entregou diretamente para um catador na calçada seu lixo reciclável acumulado em casa. Mas o trabalho dos catadores está longe de dar conta da sujeira que se espalha pelas ruas, principalmente nas zonas Norte e Oeste.
Roberto Bigler, diretor jurídico da Associação Brasileira das Administradoras de Imóveis (Abadi), diz que a greve fez a demanda pela coleta privada aumentar.
“O processo interno dos prédios é de recolher o lixo dos moradores e colocar na porta para que a Comlurb faça a retirada. Quando isso não acontece, há um acúmulo de lixo grande na rua, causando odores, e os edifícios acabam recorrendo à iniciativa privada”, comenta Bigler. “Mesmo antes da greve, já havia prédios que não contavam com o tratamento da via pública adequado e que recorriam a esse tipo de coleta. É algo comum em alguns pontos do Rio, mas que cresceu em função da greve.”
O especialista em direito imobiliário Daniel Blanck afirma que, para os grandes condomínios, a contratação de empresas tem sido uma saída. Por outro lado, ele destaca que quem se sentir prejudicado pode procurar a Justiça:
“Aqueles que vierem a ser prejudicados pela greve possuem legitimidade para propor ação indenizatória em face do município.”
O Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio (Siemaco-Rio) recorreu, na sexta, da decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que concedeu liminar considerando a greve abusiva, estabelecendo multa diária de R$ 200 mil contra o sindicato. Ontem, o vice-presidente do Siemaco, Gilberto Alencar, divulgou vídeo dizendo que a categoria está disposta a negociar, mas que a Comlurb estaria inflexível. A categoria pede, entre outros pontos, reajuste de 25% nos salários e no tíquete alimentação. A Comlurb informou que atua com um plano de contingência e que contratou mão de obra temporária terceirizada.
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