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O Brasil possui uma grande diversidade climática, principalmente pela influência dos ventos . Mais do que apenas correntes de ar, os ventos têm um papel essencial na formação das chuvas, na variação das temperaturas e na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas. 

Em entrevista cedida ao Portal iG, a meteorologista Andrea Ramos explica que os ventos são o ar em movimento, que ocorrem pela diferença de pressão atmosférica, deslocando-se sempre de áreas de alta pressão para áreas de baixa pressão.

Segundo a especialista, os ventos mais comuns em termos de ocorrência no Brasil são os alísios. 

“Em termos de grande escala, há os ventos alísios, que são constantes e predominam especialmente nas regiões Norte e Nordeste. Eles sopram dos oceanos em direção ao continente. Por serem ventos úmidos e quentes, eles são os principais responsáveis por trazer a umidade que forma as chuvas nessas regiões”, afirma. 

Além dos alísios, ventos regionais como as brisas marítimas e terrestres, típicas das áreas litorâneas, também influenciam o clima. Já as massas de ar polar têm maior impacto no Sul e Sudeste, especialmente durante o inverno.

A relação dos ventos e a agricultura

Andrea explica que na agricultura, a relação com os ventos é depende de equilíbrio

“Os ventos podem ser um aliado ou inimigos da agricultura e o que vai depender do impacto é a velocidade e direção no momento em que eles ocorrem. Como exemplo, pode ser aliado no transporte de umidade e chuvas”.

Ela também discorre sobre a influência dos ventos na polinização, especialmente de alimentos como milho, trigo e arroz. Isso porque os ventos transportam o pólen entre as plantas, garantindo a formação dos grãos e após a colheita, correntes moderadas ainda ajudam na secagem de produtos como café, milho e soja, evitando fungos e preservando a qualidade. 

No entanto, a especialista alerta que ventos fortes podem ser prejudiciais por provocarem erosões e perda de nutrientes no solo, além de reduzir a produtividade e, em casos extremos, causam danos graves durante tempestades.

“Enquanto ventos moderados são benéficos, correntes de ar extremas podem se tornar um grande desafio, exigindo que os agricultores adotem medidas para mitigar os impactos negativos” , explica.

E ressalta: “Ventos quentes e secos aumentam a taxa de evapotranspiração, retirando a umidade do solo e da própria planta. Isso causa um estresse hídrico nas plantações. O vento pode transportar esporos de fungos, bactérias e insetos a longas distâncias, espalhando pragas e doenças rapidamente por grandes áreas de cultivo”.


Também existem impactos negativos 

Apesar dos benefícios provocados na agricultura e em outros aspectos como a dispersão de poluentes e alívio da sensação térmica em dias de calor extremo, os ventos também podem provocar impactos negativos na saúde pública nas grandes cidades. 

Andrea Ramos explica que “os efeitos também dependem da direção e velocidade do vento, que trazem  temperatura e umidade, por meio de massa de ar (quente ou fria)”.

Ela também ressalta que ocasionalmente os ventos transportarem partículas nocivas de incêndios ou poeira para áreas distantes. É o que afirma a meteorologista:

“O vento pode transportar poluentes de uma área para outra. Isso é comum em casos de incêndios florestais ou de tempestades de poeira, onde o vento carrega o material particulado por longas distâncias, afetando a qualidade do ar em regiões que estão longe da fonte da poluição”.

E continua afirmando que: “Ventos podem trazer alívio em dias de calor intenso, por outro lado, ventos quentes e secos, como os que descem de montanhas ou que vêm de regiões desérticas, podem piorar os efeitos do calor, aumenta a sensação de abafamento e a taxa de desidratação, o que é um fator de risco para a saúde durante uma onda de calor”.

Questões culturais

Além de os ventos terem influência direta no cotidiano em várias regiões do Brasil, ele também tem peso cultural em algumas localidades. O Minuano, no Sul, por exemplo, é lembrado como símbolo da região.

Essa corrente de ar fria, seca e contínua é considerada parte cultural da região gaúcha. Ele é citado em músicas, literatura e na tradição oral do povo sul-rio-grandense. 

Outros ventos de grande relevância cultural são os ventos de Leste, no Nordeste, que moldam o dia a dia de comunidades pesqueiras e fomentam esportes.

“É um motor cultural e econômico. Ele (o vento de Leste) é vital para a navegação de jangadas e barcos pesqueiros, moldando a vida nas comunidades litorâneas. Além disso, a presença constante desse vento nas praias contribuiu para o desenvolvimento de esportes como o kitesurf e o windsurf, atraindo turistas e criando uma nova identidade para esses locais” , afirma a especialista.

Tecnologia de previsão de ventos intensos

Sobre a previsão de ventos intensos, Andrea explica que a tecnologia permite identificar riscos com até cinco dias de antecedência. “Hoje, dados de satélites, radares e estações de superfície permitem que os modelos numéricos apontem a direção, intensidade e áreas de maior impacto, dando tempo para que a defesa civil e a população se preparem”.

Quando perguntada sobre a possibilidade de os ventos evoluírem para fenômenos mais severos, como tornados ou ciclones, Andrea pondera e diz que isso depende de condições muito específicas. “Pode haver essa possibilidade, mas a forma como isso acontece é mais complexa do que uma simples intensificação”.

E complementa: “O Brasil não tem a mesma frequência de tornados ou ciclones tropicais que o hemisfério norte, mas eventos como o Ciclone Catarina, em 2004, e os tornados que atingem o sul do país ocasionalmente, mostram que as condições atmosféricas podem, sim, evoluir para fenômenos severos. A presença de ventos fortes e característicos é um sinal de que a atmosfera está em um estado dinâmico que exige atenção e monitoramento”, conclui.

Além dos ventos citados pela especialistas em entrevista ao iG, confira abaixo outros que ocorrem no Brasil:

Ventos Alísios

Os ventos alísios são ventos constantes e úmidos que tem ocorrência nas zonas subtropicais em baixas altitudes. Eles se originam na região do Equador e se deslocam de leste para oeste e, por sua característica úmida, contribuem para a ocorrência de chuvas intensas.

Brisas

As brisas são ventos suaves que geralmente ocorrem nas regiões costeiras. A brisa marítima sopra do mar para a terra durante o dia, enquanto a brisa terrestre sopra da terra para o mar durante a noite.

Minuano 

Famoso no Rio Grande do Sul, o Minuano é um vento frio e cortante que sopra do quadrante sul, geralmente após a passagem de frentes frias. Além de marcar a paisagem climática da região, ele também é visto como um símbolo cultural gaúcho. O escritor Érico Veríssimo e o cantor Renato Borghetti, por exemplo, já retrataram o Minuano em suas obras.

Pampero ou Pampeiro

Muito presente na Argentina, Uruguai e Sul do Brasil, o Pampero é uma corrente de ar fria que sopra do sul em direção ao norte. O pampero surge durante a passagem de uma frente fria e é mais comum no inverno, principalmente entre os meses de maio a agosto.


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