Drones oceânicos detectam terremotos em alto-mar, revela estudo
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Drones oceânicos detectam terremotos em alto-mar, revela estudo


Pesquisadores identificaram que drones oceânicos, originalmente criados para captar sons de origem marinha, também são capazes de registrar sinais sísmicos causados por terremotos, tanto próximos quanto distantes. A descoberta foi publicada na revista Scientific Reports e pode revolucionar o monitoramento sísmico em regiões costeiras. As informações são do Climatempo.

A pesquisa analisou dados coletados entre 2015 e 2021 pelo Projeto de Monitoramento da Paisagem Sonora Subaquática da Bacia de Santos, no litoral de São Paulo. Ao longo dos seis anos, 12 eventos sísmicos foram registrados por hidrofones (microfones submersos acoplados aos drones) com características típicas de tremores, como frequências baixas e duração prolongada.

Segundo o geofísico Marcelo Belentani de Bianchi, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (IAG-USP) e um dos autores do estudo, os chamados planadores oceânicos representam uma alternativa eficiente e promissora para a coleta de dados sísmicos.

“Eles oferecem vantagens significativas para observações sísmicas de longo prazo, especialmente em regiões costeiras e marginais onde métodos tradicionais enfrentam desafios logísticos”, afirma.

Tecnologia silenciosa, dados valiosos

Esses veículos subaquáticos autônomos, movidos por variações de flutuabilidade, percorrem o oceano de forma discreta, registrando dados ambientais e acústicos. Embora não tenham sido projetados para monitoramento sísmico, mostraram-se bastante eficazes nessa função.

“Com os drones, conseguimos um monitoramento mais contínuo, prático e com custo reduzido, especialmente se comparado ao uso de navios ou sensores fixos instalados no leito marinho”, explica o geofísico Carlos Chaves, também professor do IAG-USP e coautor da pesquisa.

Estando mais próximos dos epicentros, os drones conseguem captar sinais sísmicos com mais precisão, superando limitações das estações em terra, onde os tremores chegam frequentemente enfraquecidos ou distorcidos pela distância.

Como foi conduzido o estudo?

A equipe científica avaliou dados gerados por drones operados pela Petrobras na região da Bacia de Santos. Utilizando técnicas de monitoramento acústico passivo, os pesquisadores aplicaram um sistema automático para identificar sons incomuns. Em seguida, realizaram análises espectrais para diferenciar os sinais sísmicos de outras fontes de ruído, como embarcações e animais marinhos.

“Fizemos uma triagem rigorosa para garantir que os sons não eram provocados por baleias ou navios, e sim por eventos sísmicos reais”, detalha Bianchi.

Potencial para alertas e prevenção
A descoberta aponta caminhos promissores para a ampliação das redes de monitoramento sísmico no Brasil e no mundo, especialmente em áreas onde a instalação de sensores fixos é cara ou tecnicamente inviável.


“Os drones podem atuar como complementos às redes já existentes e até integrar sistemas de alerta precoce para terremotos em regiões costeiras”, projeta Chaves.

Os autores do estudo defendem que o Brasil invista em soluções inovadoras para observação do oceano, não apenas por questões econômicas, mas para fortalecer a segurança e a compreensão dos riscos naturais em território marítimo.

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