Um dos seis trabalhadores resgatados em condições análogas à de escravidão em uma fazenda arrendada do cantor Leonardo , em Jussara (GO), relatou aos fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) que formigas e cupins andaram por cima dele nas noites em que ficou no alojamento. As informações são do g1.
“A casa é muito ruim e está cheirando muito mal. Há muito morcego no alojamento, as formigas e cupins andam por cima dos empregados enquanto estão deitados. Também já vi escorpião e lacraia dentro do alojamento e tenho medo de sair à noite, devido à existência de muitos animais”, disse o funcionário ao órgão.
O relato aconteceu em novembro de 2023, quando seis trabalhadores — entre eles, um adolescente menor de idade — foram resgatados na Fazenda Lakanka, no noroeste goiano. No local, eles trabalhavam colhendo raízes e dormiam em uma casa abandonada, que segundo os fiscais era “precária”, pois não tinha camas, banheiro e estava infestada de morcegos e fezes.
A situação dos trabalhadores das fazendas arrendadas no nome do cantor veio à tona nesta segunda-feira (7), após ele ser incluído “lista suja” de empregadores que já submeteram funcionários a trabalho escravo. Na época, ele pagou R$ 94 mil em multas e R$ 225 mil de indenização às vítimas, e o processo foi arquivado em abril deste ano .
Rotina insalubre
O MTE divulgou um relatório nessa quarta-feira (9) em que detalha a rotina de trabalho de seis funcionários resgatados na Fazenda Lakanka.
Segundo o documento, eles trabalhavam até 10 horas por dia sem a formalização de contratos e sem a garantia de descanso semanal remunerado.
Além disso, viviam em situação precária, dormindo em uma casa abandonada e sem instalações adequadas, considerada "imprópria para habitação" e localizada a 2 km da sede da Fazenda Lakanka.
De acordo com o relatório, o local contava com camas improvisadas feitas de tábuas de madeira, não havia acesso a banheiros e contava com a presença de morcegos e outros animais, que depositavam ali suas fezes e outros fluidos.
As vítimas usavam uma mangueira para improvisar um chuveiro e realizavam suas necessidades ao ar livre, em condições comprometedoras e insalubres. A única fonte de água disponível era um poço em estado precário e sem manutenção.
Carga horária e pagamento
As atividades dos funcionários consistiam em 'limpar o solo' (ou seja, tirar restos de árvores e raízes) para prepará-lo para o cultivo. O trabalho iniciava às 7h e se encerrava às 17h, com uma pausa de uma hora para o almoço.
Eles recebiam R$ 150 por dia, mas não eram compensados nos dias em que não trabalhavam, sejam esses por folgas programadas ou por motivos de saúde.
O relatório também destacou que o trabalho aos domingos, quando realizado até meio-dia, era pago com meia diária, ou seja, R$ 75, o que gerava insatisfação entre os trabalhadores, além de serem obrigados a realizarem certas atividades sem a devida remuneração.
Os trabalhadores eram contratados e remunerados por meio de outros funcionários de Leonardo, como gerentes da fazenda, que atuavam como intermediários.
O Portal iG está no BlueSky, siga para acompanhar as notícias!
‘Jamais faria isso’
O cantor foi às redes sociais se manifestar sobre o assunto assim que seu nome foi incluso na lista do "trabalho sujo". Leonardo lamentou a situação dizendo que não tinha conhecimento do que estava acontecendo, já que arrendou a terra. Ele também reforçou que “jamais faria isso”.
“Surgiu um funcionário lá nessa fazenda que eu arrendei, que eu não conheço, nunca vi falar, nunca vi, e de repente eu fui visitado pelo Ministério Público do Trabalho, e foi lavrada uma multa pra mim, pra mim que sou o proprietário da fazenda”, afirmou.
“Gente, eu já plantei tomate, eu sei como é que é. A vida é difícil lá. Eu, do meu coração, jamais, jamais faria isso. Então, eu acho que há um equívoco muito grande sobre a minha pessoa. Eu não me misturo, eu não me misturo nessa lista aí que eles fizeram aí de trabalho escravo”, lamentou.
Quer ficar por dentro das principais notícias do dia? Participe do nosso canal no WhatsApp e da nossa comunidade no Facebook .