Porsche destruída após acidente em São Paulo na madrugada desse domingo (31)
Reprodução - 31/03/2024
Porsche destruída após acidente em São Paulo na madrugada desse domingo (31)

A namorada de Fernando Sastre de Andrade Filho, motorista do Porsche envolvido em um  acidente fatal em 31 de março na Zona Leste de São Paulo, prestou depoimento por quase duas horas na delegacia responsável pelo caso e negou que ele tenha consumido bebidas alcoólicas antes de dirigir.

O depoimento ocorreu nesta terça-feira (9) no 30º Distrito Policial (DP) do Tatuapé, que investiga as circunstâncias e eventuais responsabilidades pela morte do motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana. Ele dirigia um Sandero quando foi atingido na traseira pelo carro de luxo na Avenida Salim Farah Maluf. As  câmeras de segurança registraram o acidente.

A namorada de Fernando prestou seu depoimento acompanhada de quatro advogados, que também representam o namorado dela. Eles não se pronunciaram para a imprensa que aguardava do lado de fora da delegacia.

A Polícia Civil questionou a jovem sobre se o empresário havia consumido álcool, por que ela não quis retornar para casa no carro de luxo com ele e se Fernando dirigia em alta velocidade.

Fernando é suspeito de assumir o risco de matar a vítima,  supostamente dirigindo embriagado e acima do limite de velocidade. Algumas testemunhas afirmaram que ele consumiu "alguns drinks", mostrava sinais de embriaguez e estava transitando bem acima dos 50 km/h permitidos para a via.

Contrariando o relato das testemunhas à polícia, a namorada de Fernando afirmou que ele não bebeu álcool porque estava dirigindo seu Porsche. Ela explicou que, durante os oito anos de relacionamento, combinaram que quando um deles bebesse, o outro não o faria.

Segundo o relato da namorada de Fernando, eles se encontraram na noite de sábado (30) com um amigo dele, Marcus Vinicius Machado Rocha, e a namorada deste, em um restaurante. Nesse local, apenas ela e Marcus consumiram bebidas alcoólicas. Ela também mencionou que o motorista do Porsche e a namorada do amigo não beberam álcool porque ambos estavam dirigindo.

Após o restaurante, os quatro amigos seguiram em seus carros até uma casa de pôquer. A namorada de Fernando afirmou que ele não bebeu álcool na casa de pôquer, mas jogou. Uma discussão entre o casal começou quando ela quis ir para casa e Fernando queria continuar jogando, porque estava ganhando dinheiro.

A discussão persistiu quando decidiram sair da casa de pôquer. A namorada de Marcus foi no carro de Fernando com ele, enquanto a namorada do motorista do Porsche acompanhou Marcus em outro veículo. Essa discussão foi registrada por câmeras de segurança na rua onde fica a casa de pôquer.

Não cita alta velocidade

Essa versão fornecida pela namorada de Fernando contrasta com o relato dado à polícia pela namorada de Marcus. Esta última afirmou que os quatro amigos tomaram "drinks" no restaurante, sem especificar se eram bebidas alcoólicas, e seguiram para a casa de pôquer, onde não tem certeza se Fernando e Marcus beberam mais.

No momento de saírem, a namorada de Marcus testemunhou uma discussão entre a namorada de Fernando e ele, alegando que Fernando estava "alterado". Marcus se ofereceu para dirigir o Porsche, mas Fernando recusou.  Marcus acabou indo no banco do passageiro do carro de luxo, dirigido por Fernando, enquanto a namorada de Fernando foi com ela em outro veículo.

A namorada de Fernando não mencionou em seu depoimento os relatos de sinais de embriaguez, voz pastosa e andar cambaleante de Fernando, conforme testemunha que prestou socorro às vítimas relatou à polícia. Essa testemunha também afirmou à TV Globo ter visto garrafas vazias dentro do Porsche, sem confirmar se continham bebidas alcoólicas.

Outro ponto de divergência nos depoimentos é que a namorada de Fernando não mencionou se o motorista do Porsche estava em alta velocidade, ao passo que a  namorada de Marcus disse que o carro de luxo "acelerou", perdendo-o de vista enquanto ela conduzia o outro veículo a uma velocidade mais baixa.

A namorada de Marcus ainda relatou que emprestou seu celular para a namorada de Fernando fazer uma ligação para ele após saberem do acidente. Este assunto não foi abordado pelo depoimento da namorada do motorista do Porsche.

A Polícia Técnico-Científica vai analisar as imagens para determinar qual era a velocidade do Porsche. O laudo será feito pelo Instituto de Criminalística (IC).

Fernando foi indiciado por homicídio por dolo eventual, lesão corporal e fuga do local do acidente. Ele responde aos crimes em liberdade.

A Justiça já negou dois pedidos de prisões feitos pela polícia para o empresário. Apesar disso, impôs medidas restritivas a ele:

  • Pagamento de fiança de R$ 500 mil em até 48 horas para garantir uma eventual reparação futura ao amigo ferido e à família de Ornaldo Viana, que morreu;
  • Suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH);
  • Proibição de sair da cidade por mais de oito dias;
  • Apreensão do passaporte;
  • Não pode se aproximar de Marcus Rocha, o amigo e sobrevivente do acidente, nem de testemunhas e familiares por no mínimo 500 metros de distância;
  • Proibição de frequentar o restaurante e a casa de pôquer onde foi antes do acidente;
  • Entrega do celular em até 24 horas para a perícia verificar as ligações e mensagens que recebeu da mãe dele quando ocorreu o acidente


A Polícia liberou o motorista do Porsche sem o teste do bafômetro, pois alegou que sua mãe o levaria ao hospital, o que não ocorreu. A Corregedoria investiga a conduta dos policiais.

Fernando se apresentou à delegacia após 38 horas. A defesa nega embriaguez. 

O amigo de Fernando, Marcus, permanecia internado na UTI do Hospital São Luiz Anália, com quatro costelas quebradas e outros ferimentos graves causados pela batida. Ele saiu do coma induzido, mas não há previsão de alta.

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