Um professor foi preso pela Polícia Civil de Penambuco no último dia 5 de janeiro, após ser denunciado pelo crime de estupro de vulnerável contra uma criança de apenas 8 anos durante aulas na Tamarineira, bairro da zona norte do Recife.
A denúncia partiu da mãe da criança, cuja identidade não será revelada, pois processos dessa natureza (crimes sexuais e/ou contra crianças) correm em segredo de Justiça.
Francisco Nery Alves da Silva Neto, de 34 anos, dá aulas de educação física, música e outras artes. Músico premiado, ele venceu o FestivalPré AMP, promovido pela Articulação Musical Pernambucana (AMP), no Recife, no ano de 2014.
Além disso, integrava uma banda “batizada” com seu nome, que vendeu mil cópias de um CD, além de ter subido ao palco do Festival de Inverno de Garanhuns. Até o momento, o iG está tentando entrar em contato com a defesa do acusado.
A mãe da criança relatou ao portal de notícias G1 que ela era amiga de Francisco ao ponto de frequentar a casa dele, e o escolheu como professor devido ao prestígio que ele tinha como artista no estado.
"Ele dá aula na casa dele. Eu estava na casa, mas não no espaço em que ele dá aula. Ele foi muito discreto, e sabia que não podia fazer nada que causasse muito escândalo.”
"Minha criança gostava muito dele porque ele é uma pessoa extremamente cativante para crianças. Do nada, ela contou que ele a massageou.” Ainda segundo a denunciante, a vítima teria relatado que em outra aula, a atitude do professor se repetiu.
“Ele fez uma vez, durante uma aula, e outra vez, também em aula. Na segunda, [a vítima] falou: 'Tio Chico, você está pegando na minha parte íntima', e ele respondeu: 'Mas você não disse que gostou?'", disse a mãe.
A denúncia foi registrada no Departamento de Polícia da Criança e do Adolescente (DPCA). Após a prisão, o suspeito de estupro de vulnerável foi encaminhado ao Centro de Observação Criminológica e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), no município de Abreu e Lima, no Grande Recife, onde permanece à disposição da Justiça.
Outro processo
Francisco Nery também responde a outro processo por estupro , dessa vez contra uma mulher jovem. O crime ocorreu em 2012 e só chegou ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) em 2018.
No mesmo ano, outra jovem relatou em suas redes sociais que teria sofrido violência sexual por parte de Francisco Nery. Após fazer a postagem, que incluiu prints e conversas com o professor, ela contou ao portal Marco Zero Conteúdo que recebeu mensagens de pelo menos outras 60 mulheres - algumas até de outros estados - que afirmaram também terem sido vítimas do artista.
Um grupo de vítimas - que incluía duas menores, alunas de Francisco numa escola de tecido - chegou a se formar e procurar a Delegacia da Mulher, localizada no centro do Recife, para prestar queixa. No entanto, elas relatam que foram desestimuladas pela delegada, e desistiram da denúncia por se sentirem constrangidas e culpadas pela violência sofrida.
Essas mesmas vítimas, ao saberem da prisão de Francisco pelo crime que ele teria praticado contra uma criança, decidiram se manifestar outra vez contra ele, dessa vez contando com o auxílio da advogada criminalista Maria Júlia Leonel, que representa tanto a vítima de 2012 quanto o grupo de mulheres que formalizará uma nova denúncia.
“Amedrontadas, muitas delas se culparam pela violência que haviam sofrido e deixaram a denúncia para lá. Seguiram a vida, cada uma com as suas dores, fazendo seus tratamentos psicológicos. Agora, com a notícia da prisão, resolveram se manifestar novamente”, disse a advogada ao Marco Zero.
Ela também lamentou a postura do juiz do caso de 2012, que teria levantado suspeitas sobre a vítima, questionado-a “como uma mulher que já tinha sido vítima de violência sexual na infância havia ido à casa de uma pessoa desconhecida”?.
“Foi uma audiência pesada. Ele colocou a palavra dela em xeque a todo momento, e ainda mostrou determinada afinidade com o acusado, perguntando se ele fazia poesias e se já tinha escrito livros, porque adorava poesia. Enquanto o juiz lia o depoimento, na presença da vítima, o acusado debochou dela, rindo”, relatou Maria Julia.