O advogado Hery Waldir Kattwinkel Junior, que proferiu, nessa quinta-feira (14), uma sustentação oral no Supremo Tribunal Federal (STF) em defesa de Thiago de Assis Mathar – condenado a 14 anos de prisão por tentativa de golpe – se tornou réu em 2018 e foi condenado em primeira instância em 2019 por violência doméstica, acusado de agredir a mãe e a irmã.
De acordo com a sentença, noticiada à época mas que, atualmente, corre sob sigilo na Justiça, o advogado “ofendeu a integridade física de sua genitora e de sua irmã, causando-lhes lesões corporais de natureza leve”. O caso ocorreu no dia 6 de novembro de 2016, em Votuporanga (SP), onde Kattwinkel Junior exercia mandato como vereador.
Em julho de 2019, a 2ª Vara Criminal e da Infância e Juventude condenou o advogado pelo crime de violência doméstica, em uma pena de sete meses de detenção em regime aberto, além de proibi-lo de deixar a cidade e "frequentar lugares" por dois anos. Embora tenha entrado com recurso, sua contestação foi rejeitada.
"Ao contrário do que foi dito que eu tinha espancado a mãe, houveram lesões leves recíprocas", disse o advogado Hery ao jornal A Cidade. "É que em todo momento defendi meu pai! Que o interesse delas era na herança. Estranhamente, seis meses após sair de casa, meu pai faleceu. Jamais agredi mãe e irmã, só não deixei que maltratassem meu pai!”.
Na época, o advogado alegou estar sofrendo perseguição na Câmara dos Vereadores por um colega da Casa, Dr. Ali, do Partido Verde. “Infelizmente, e eu vou dar nome aos bois, eu continuo a ser perseguido insistentemente pelo Dr. Ali”, afirmou na ocasião. "Eu nunca bati na minha mãe e nem na minha irmã, e o senhor foi condenado", respondeu o parlamentar do PV, ainda segundo o jornal A Cidade.
Vereador, candidato a deputado e à Prefeitura
Em 2020, Hery Waldir Kattwinkel Junior foi candidato à Prefeitura de Votuporanga pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), e recebeu 15 mil votos, mas ficou não passou do primeiro turno.
Nas eleições de 2022, ele foi candidato a deputado estadual pelo Solidariedade, que o expulsou do partido nesta sexta (15). Na campanha, Hery tentou vincular sua imagem à do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
"O Sr. Hery Waldir Kattwinkel Júnior ocupou a tribuna do Supremo Tribunal Federal para protagonizar um grotesco espetáculo de ataques aos Ministros do Supremo Tribunal Federal, verbalizando e endossando o discurso de ódio, não raro permeado de fake news, que contaminou parte da sociedade brasileira", escreveu o Solidariedade em nota.
Em 2017, como vereador, Hery Kattwinkel foi autor de um projeto de lei (48/2017) que incluiu no calendário oficial da cidade o evento Votugospel, evento que tem como "principal alvo evangelizar e ministrar a Palavra de Deus para nossa cidade e região", como descrito no perfil da organização.
Durante a sustentação oral no STF, Hery Junior comparou seu cliente a Jesus Cristo, alegou que haviam semelhanças entre a persecução penal contra os golpistas e o Holocausto nazista, e confundiu as obras de Nicolau Maquiável, autor de "O Princípe" (1532) – obra de cunho político, considerada percursora nos estudos da Ciência Política – e "O Pequeno Príncipe" (1943), livro alegórico de Antoine de Saint-Exupéry.
"Patético e medíocre"
Após a sustentação do advogado, o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, afirmou ser "patético e medíocre que um advogado suba à tribuna com um discurso de ódio, um discurso para postar nas redes sociais, que veio aqui agredir o STF, talvez pretendendo ser vereador no ano que vem".
Moraes declarou que o advogado ignorou a defesa, e fez um discurso em causa própria. "Eu digo com tristeza que o constituído, o réu, aguarda que o seu advogado venha defender tecnicamente, analisar tipo por tipo. O advogado ignorou a defesa. Não analisou nada. Ele preparou um discursinho para postar em redes sociais”, argumentou o ministro. "Só não seria mais triste porque confundiu 'O Príncipe', de Maquiavel, com 'O Pequeno Príncipe', de Antoine de Saint-Exupéry".