A cabeleireira e passista da Grande Rio Alessandra dos Santos Silva, que perdeu parte do braço esquerdo e do útero ao operar para retirar um mioma, contestou a versão apresentada pela Secretaria de Estado de Saúde de que ela teria sido informada sobre os riscos da cirurgia.
Em nota divulgada nesta terça-feira (25), o órgão lamentou o ocorrido com a mulher de 35 anos e disse que a direção do Hospital Estadual da Mulher Heloneida Sutardart, em São João de Meriti , informou que a equipe da ginecologia da unidade definiu, "em conjunto com a paciente, esclarecendo prós e contras", o procedimento necessário.
Alessandra, no entanto, contestou a declaração. "Como disse o tempo todo que queria ser mãe, o médico disse que faria de tudo para preservá-lo. Perguntei se havia outro risco (além de perder o útero). Mas ele alertou apenas que poderia haver sangramento. A única coisa que me disseram sobre risco foi isso. Agora, de perder o braço, ninguém falou nada. Se disseram algo desse tipo é mentira. Não havia como dar complicação nenhuma porque não sou alérgica a medicamento nenhum", disse a passista em entrevista ao jornal O Globo . Ela afirmou ter conversado com apenas um médico.
De acordo com ela, o único alerta feito pela ginecologista do hospital é que ela estava com um mioma muito avantajado e isso ela já sabia, por esse motivo decidiu fazer a cirurgia. Alessandra disse que todos os exames de risco cirúrgico foram feitos no Hospital da Mulher.
"Os exames não apontaram nenhum problema que impedisse a cirurgia. Querem dizer que me alertaram do risco da cirurgia para eu ficar com uma culpa que não é minha", afirmou.
Segundo a paciente, ela ainda deixou o hospital com a barriga "infectada e com a pele morta" e precisou fazer um novo procedimento no Hospital Municipal Souza Aguiar para limpeza. Antes, teria passado por outras unidades, que teriam a recusado.
A trancista afirmou que em momento algum foi procurada pela unidade da Baixada. "Só descobriram que eu estava viva por causa das reportagens."
Ela disse que pretende pedir indenização do Estado, porque ela era quem mantinha o sustento da casa com seu trabalho, já que a mãe teve câncer de mama e o pai é aposentado.
Os amigos de Alessandra organizaram uma 'vaquinha' on-line e ela disse estar conseguindo se manter com essa ajuda.
"Eu era trancista implantista. Precisava do meu braço para trabalhar. Daqui para a frente foi precisar de ajuda do estado para me manter. Tem que me dar uma indenização, já que psicologicamente e fisicamente não vão conseguir me restaurar. Não consigo nem me olhar no espelho. Era noiva e nem sei se ainda sou. Sonhava ser mãe e destruíram isso. Era uma passista vaidosa. Não me vejo mais nem sambando sem o meu braço", relatou.
A nota da Secretaria afirma que, "apesar de todo empenho da equipe, lamentavelmente, a evolução clínica da paciente foi desfavorável" e que no pós-operatório, foi identificada uma hemorragia interna.
O texto diz que, para preservar a vida da paciente, foi necessária a retirada do útero , transfusão sanguínea e administração de doses elevadas de aminas vasoativas, "que provocam o estreitamento dos vasos sanguíneos para manter a pressão arterial, mas que podem causar uma oclusão arterial como efeito adverso". Conforme a nota, um levantamento preliminar do caso aponta que foi isso que aconteceu com o braço de Alessandro.
A Acadêmicos do Grande Rio informou que está acompanhando o caso de perto e se solidarizou com a família. "Nos uniremos ao esforço de buscar justiça diante do ocorrido."
A família da passista registrou queixa na 64ª DP (São João de Meriti).
Entenda o caso
Alessandra começou a sentir dores e sangramento em agosto do ano passado e, após receber o diagnóstico de miomas no útero, foi orientada a fazer a cirurgia para retirada.
Em janeiro, ela recebeu uma ligação de que o procedimento seria marcado para 3 de fevereiro no Hospital Estadual da Mulher Heloneida Studart, em São João de Meriti. No dia seguinte, os médicos avisaram à família dela que seria preciso retirar o útero inteiro. Depois, os parentes notaram que os dedos da mão esquerda da trancista haviam escurecido.
"Nem foto eles deixaram a gente tirar. Eu perguntei por que as mãos dela estavam enfaixadas. Disseram que é porque ela estava com frio, mas já estava necrosando os dedos. Eles esconderam", disse Ana Maria, mãe de Alessandra, ao O Globo
.
Em 6 de fevereiro, a equipe do hospital afirmou que a paciente havia sido transferida para o Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, em Botafogo. De acordo com a família da paciente, neste momento, o braço dela já estava todo escuro.
Depois de quatro dias, os parentes teriam ouvido dos médicos que "ou era a vida de Alessandra ou era o braço" após uma drenagem não ocorrer como o esperado, e autorizou a amputação .
A situação, no entanto, ainda se agravou e a paciente ficou dois dias em coma, quando os rins e o fígado dela quase pararam de funcionar.
Ela recebeu alta em 15 de fevereiro, mas, 13 dias depois, quando o médico foi examinar os pontos da cirurgia, ele se assustou com o curativo na barriga e a encaminhou de volta para o Heloneida Studart.
Devido à situação que já tinha passado no local, ela tentou vaga em outras cinco unidades até conseguir ser internada no Hospital Maternidade Fernando Magalhães, de onde acabou sendo transferida para o Hospital municipal Souza Aguiar, onde ficou de 4 de março a 4 de abril.
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