Manifestações durante enterro de Vitor Fernandes, Guarani Kaiowa
Divulgação/Conselho Indígena Missionário
Manifestações durante enterro de Vitor Fernandes, Guarani Kaiowa

Menos de um mês após a morte de Vitor Fernandes , mais um indígena foi morto, nesta quinta (14), em Amambai (MS), cidade palco de um conflito fundiário entre proprietários rurais e indígenas da etnia Guaranis Kaiowá. 

Segundo a associação Aty Guasu e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Marcio Moreira foi assassinado após sofrer uma emboscada com outros dois indígenas, um deles menor de idade, que escapou com ferimentos por arma de fogo. As lideranças afirmam que o terceiro indígena foi preso pela polícia, acusado de ser o autor do crime, versão que contestam.

“Eles foram contratados por um taxista conhecido da região para trabalhar na obra de um muro em Amambai. Durante o trabalho, foram abordados por dois motoqueiros que apontaram arma para a cabeça dos dois. O mais novo conseguiu derrubar a arma e correr, mas levou tiro de raspão. Já o Marcio Moreira morreu, com tiro na cabeça”, afirmou Natanael Vilharva Cáceres, liderança Guarani Kaiowá e integrante do Aty Guasu, a grande assembleia nacional Guarani Kaiowá.

Cáceres diz que o terceiro indígena do grupo, que fugiu da emboscada, é Willis Fernandes, filho de Vitor Fernandes, morto no final de junho. Após o crime desta quinta, ele teria sido preso pela polícia, acusado como o autor do crime.

“A polícia está alegando que foi briga entre indígenas. É mais uma distorção dos fatos”, disse Cáceres.

Procuradas pelo GLOBO, a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública do Mato Grosso do Sul ainda não responderam. Desde junho, os Guarani Kaiowá ocupam uma área onde hoje funciona como uma fazenda da empresa VT Brasil, reivindicada por eles como território original Guarani Kaiowá.

Coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Matias Benno diz que Moreira era uma liderança importante da ocupação

“Ele era uma pessoa central na retomada do território, estava protagonizando o processo de retomado do território”, explicou Benno, que deu as mesmas informações de Cáceres, sobre o assassinato.

“Pessoas locais acertaram com ele um trabalho. Ele foram fazer esse serviço, e quando estavam lá foram abordados por duas pessoas numa motocicleta, que depois de intimidá-los partiram para o disparo, acertando e matando o Márcio. O outro menino que estava com ele fugiu e conseguiu escapar. Acabando as balas, teve um conflito físico com esse sobrevivente, que teve a cabeça machucada por coronhadas de arma.”

Segundo Benno, esse sobrevivente se encontra em um local seguro. A defensora pública federal, Daniele Osório, que atua na região, confirmou a morte, mas disse que ainda não houve maiores detalhes sobre as circunstâncias.

Tensões acirradas
As tensões na região estão acirradas há alguns meses, desde o assassinato do indígena Alex Lopes, em maio, na cidade de Coronel Sapucaia, também no Mato Grosso do Sul. 


No mês passado, os Guarani Kaiowá iniciaram a ocupação do território Guapo'y, como eles chamam, reivindicado pelos indígenas como originalmente parte de suas terras, mas que hoje funciona como uma fazenda da empresa VT Brasil. Por liminar, a empresa pediu a reintegração de posse, o que foi negada pela justiça, que vê necessidade de audiências de conciliação.

No dia 24 de junho, mesmo sem decisão judicial, a Polícia Militar do Mato Grosso do Sul realizou uma operação na propriedade, com o argumento de que estava apurando denúncias de tráfico de drogas e de presença de milícias armadas na ocupação. 

Durante a ação policial, o indígena Vitor Fernandes foi morto, atingido pelos policiais, e as circunstâncias ainda estão sendo apuradas. Nenhuma droga foi apreendida, mas a Polícia afirma que indígenas armados revidaram com ataques aos agentes, o que motivou um confronto.

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