O governo americano informou nesta quarta-feira que a reunião entre os presidentes Joe Biden e Jair Bolsonaro às margens da Cúpula das Américas, que acontecerá entre os dias 6 e 10 de junho em Los Angeles, abordará uma série de assuntos de interesses bilaterais e internacionais.
O encontro da semana que vem será o primeiro os dois líderes desde que o democrata chegou à Casa Branca, em janeiro do ano passado.
Em um bate-papo com repórteres nesta quarta, o diretor do Conselho de Segurança Nacional para o Hemisfério Ocidental, Juan González, foi indagado se Biden pretende abordar o processo eleitoral brasileiro em suas conversas com Bolsonaro. Ele expressou confiança nas instituições brasileiras, mas não disse diretamente se o tópico será levantado pelo líder americano.
“Cabe aos brasileiros deciderem as eleições brasileiras, e os EUA têm confiança nas instituições brasileiras, que se provaram robustas”, afirmou, González.
“Mas a conversa entre o presidente Biden e o presidente Bolsonaro tratará de uma série de tópicos que são bilaterais e, francamente, de natureza global, dada a importância da relação entre os EUA e o Brasil.”
Entre os assuntos, listou o americano sem dar maiores detalhes, estão o combate à insegurança alimentar, a resposta econômica à pandemia e segurança sanitária — áreas em que o Brasil “tem um papel incrivelmente importante” e centrais para a cúpula da semana que vem.
González destacou ainda o combate ao aquecimento global, assunto negligenciado pela catastrófica política ambiental de Bolsonaro, mas que Biden lista como prioritário.
“Há uma lista muito longa de assuntos que estarão sobre a mesa de discussões”, disse González.
Desde a campanha eleitoral americana de 2020, a relação de Biden e Bolsonaro não é das melhores. À época, o presidente brasileiro expressou apoio público à reeleição do então presidente Donald Trump e foi o último líder global a parabenizar o democrata por sua vitória. Na semana passada, o ocupante do Planalto disse que Biden, durante o encontro do G20, o tratou “como se eu não existisse”.
O chanceler Carlos França havia dado sinais de que a ausência de Bolsonaro na cúpula era provável, dado o possível esvaziamento do encontro e o não aproveitamento de propostas apresentas pelos brasileiros por autoridades americanas.
A oferta de uma reunião bilateral, feita por um representante da Casa Branca enviado ao Brasil, foi vista com um tentativa de convencer o líder brasileiro a comparecer à Cúpula das Américas.
Houve também lobby dentro do próprio governo, tanto do Itamaraty, que vê a cúpula continental como oportunidade de virar uma página na relação com Washington, quanto do Ministério da Economia. Segundo informações da colunista do GLOBO, o ministro Paulo Guedes tem externado a Bolsonaro sua preocupação sobre o distanciamento do Brasil com os EUA após a derrota de Trump e defendendo uma reaproximação visando interesses como a entrada do país na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Biden, por sua vez, vem tendo problemas para confirmar confirmar a lista de participantes do fórum, o primeiro desde 2018. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, promete não viajar ao país vizinho caso todas as nações do continente não sejam convidadas. Os líderes de Argentina, México, Bolívia e Honduras se juntaram ao coro, tal qual a comunidade caribenha.
Questionados sobre planos de reconsiderar o trio excluído ou temores diante das ameaças de não comparecimento de outros líderes caso a decisão atual seja mantida, González e Brian Nichols, secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, afirmaram que a lista final ainda está em consideração. Disseram também ter confiança no bom quórum do evento.
A controvérsia ganhou força após Biden sinalizar que o “compromisso com a democracia” seria um “fator-chave” para definir os convidados, justificando assim a exclusão de Nicarágua, Venezuela e Cuba.
Os americanos consideram que os líderes dos dois primeiros, Daniel Ortega e Nicolás Maduro, foram eleitos em pleitos fraudulentos.
Já com Cuba, as relações vêm piorando desde que Washington classificou como "onda de opressão" a reação do governo de Havana aos inéditos protestos de julho de 2021 na ilha. A exclusão deve ser vista também sob o prisma da política doméstica americana e, em particular, do estado da Flórida, onde há um forte lobby contrário à reaproximação com a ilha que será influente nas eleições de meio de mandato marcadas para o início de novembro.
Os Estados Unidos aproveitaram a cúpula da semana que vem, disseram Nichols e González, para engajar os países da região em compromissos políticos ao redor de cinco áreas-chave: governança democrática, saúde e resiliência, transição energética, o futuro verde e transformações digitais.
Um dos eixos centrais será a adoção de um pacto migratório com “divisão de responsabilidades” por toda a região, em uma tentativa de combater a imigração irregular que gera vários problemas domésticos para Biden.
Sem maiores detalhes, anunciaram ainda que o encontro terá a adoção de mecanismos para responder a desafios que ameacem a democracia, apoiar o trabalho de missões de observação em eleições e garantir transparência, prestação de contas. O combate à corrupção e a proteção ao trabalho da imprensa e ativistas ambientais também foram citados.
Será anunciado também um pacto entre os Estados Unidos e os países caribenhos para caribenhos para responder aos desafios impostos pelo aquecimento global, eles disseram, além de mecanismos para acelerar a implementação de termos acordados durante a COP 26, que ocorreu em Glasgow no ano passado — entre eles, o combate ao desmatamento, que bate recordes no governo Bolsonaro.
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