Os garimpeiros ilegais que estariam avançando sobre terra indígena xipaia, em Altamira (PA), na noite desta quinta-feira (14), com uma balsa de dois andares e carregada com grande quantidade de equipamentos, recuaram e saíram de vista logo após o pedido desesperado de socorro publicado pela cacica Juma Xipaia, da aldeia Kaarimã, ter começado a circular pelas redes sociais. A liderança indígena, que temia inclusive por um confronto armado devido à violência com que os homens teriam abordado o seu pai, acionou o Ministério Público Federal, a Funai e demais órgãos de segurança para que fossem atrás dos invasores.
Em relato publicado na tarde desta sexta-feira (15), a cacica conta que os homens não foram mais encontrados no local onde haviam sido vistos pela primeira vez, mas que o Ibama realiza uma operação na área em busca deles. Ela ressalta que segue o temor na comunidade de que eles retornem, dessa vez armados, mais equipados e mais violentos.
"É uma balsa muito grande, de dois andares. Tem jet-skis que podem levar até 6 pessoas. Eles têm muitos transportes para fugir. São equipamentos muito grandes e caros. Então, com certeza, há um grande financiador por trás disso. Não são quaisquer garimpeirozinhos (sic), não. São potentes. Então, a gente pede agilidade e apoio das autoridades e órgãos de Justiça, para que encontrem esses garimpeiros, porque a gente não sabe se eles vão voltar, que tipo de armas eles têm. Não sabemos sequer onde eles estão agora", disse Juma em um vídeo publicado em sua rede social.
O maior temor da cacica na noite desta quinta, era de que o encontro entre os guerreiros das aldeias xipaias com os garimpeiros pudesse terminar em um banho de sangue. Ela narrou que, até que todos se reunissem e fossem em direção à balsa, já eram por volta das 22h. Quando chegaram ao local, já não havia mais nenhum sinal dos garimpeiros.
O pai de Juma, segundo cacique da aldeia Kaarimã, também deu o seu relato na gravação sobre o que viu nesta quinta-feira. É ele quem diz ter visto os garimpeiros no fim da tarde de quinta-feira avançando sobre a reserva indígena e conta ter sofrido ameaça enquanto os registrava.
"Quando chegamos à tarde dos Castanhais, eles já estavam lá, trabalhando. Aí, eu fui ver se era outra balsa. Foi quando falei com eles e declararam que eram garimpeiros, que estavam trabalhando na draga e estavam mandando material. Aí eu encostei lá e conversei com eles. Eles ficaram bravos comigo porque eu comecei a bater umas fotos. Disseram que não era para bater foto, que iam pegar meu celular e jogar na água. Aí eu disse que eles não poderiam fazer isso, que se jogassem o meu celular na água, não ia dar certo. Aí eu disse que iria embora. Quando cheguei, avisei ao pessoal, e aí quando fomos atrás, já não encontramos mais eles", contou.
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Procurado, o MPF afirmou em nota que, sobre a invasão da terra indígena Xipaya, na região do médio Xingu, está acompanhando a situação e acionou na quinta-feira os órgãos de fiscalização e segurança. Funai, Ibama, PF, PM, Força Nacional e ICMBio foram informados para tomarem as medidas necessárias. O Ibama e a Polícia Federal não responderam à reportagem.
Avanço do garimpo
A corrida pelo ouro travada pelos garimpeiros ilegais tem avançado cada vez mais sobre territórios indígenas. Em novembro do ano passado, a Polícia Federal fez uma grande operação para tentar frear um deslocamento em massa no Rio Madeira, no Amazonas, com mais de uma centena de balsas. Na ação, muitas delas acabaram destruídas pelos agentes.
Um dos territórios mais prejudicados pela ação destes criminosos é o dos ianomâmis. Os indígenas sofrem, além da degradação de suas terras, uma série de abusos e violações dos direitos humanos. Um relatório recente da Hutukara Associação Yanomami, aponta que a destruição provocada pelos invasores cresceu 46% em relação a 2020, um incremento de 1.038 hectares, atingindo um total acumulado de mais de 3 mil campos de futebol devastados, a maior taxa anual desde a demarcação da área, em 1992.
O relatório também mostra a vulnerabilidade dos indígenas afetados pelas atividades garimpeiras. As cerca de 350 comunidades são reféns de um esquema criminoso que envolve aliciamento, assédio de menores, violência e abuso sexual contra mulheres e crianças, algumas embriagadas por bebidas alcoólicas e estupradas até a morte.
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