Marcos Siqueira da Costa, em imagem dos tempos de PM, e a ex-deputada Flordelis quando foi presa
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Marcos Siqueira da Costa, em imagem dos tempos de PM, e a ex-deputada Flordelis quando foi presa

Dividido em três partes, o julgamento do caso Flordelis terá a sua segunda etapa na próxima terça-feira. Depois de  dois dos filhos da pastora serem condenados em novembro do ano passado, mais três herdeiros da pastora sentarão no banco dos réus: Carlos Ubiraci, André Luiz de Oliveira e Adriano dos Santos Rodrigues. Farão companhia ao trio o ex-PM Marcos Siqueira da Costa e a esposa dele, Andrea Santos Maia. Já a própria  Flordelis dos Santos de Souza tem julgamento previsto para daqui um mês, em 9 de maio, na companhia de duas filhas e uma neta.

Apesar de envolvidos nas apurações sobre a morte do pastor Anderson do Carmo , marido da ex-deputada, crime pelo qual dois dos outros réus são acusados, Siqueira da Costa e Andrea respondem, assim como Adriano, apenas por uso de documento falso e associação criminosa. Segundo a Polícia Civil e o Ministério Público, o casal colaborou para forjar uma carta na qual Lucas Cézar dos Santos de Souza, um dos filhos de Flordelis já condenados pelo homicídio, assumia toda a responsabilidade pela morte.

Posteriormente, Lucas acusou a mãe de ser a responsável por escrever o texto e afirmou que apenas copiou o conteúdo dentro do Presídio Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, Zona Oeste do Rio, onde encontrava-se preso. No mesmo local, encontravam-se detidos Flávio dos Santo Rodrigues, irmão dele, também já condenado, e o ex-PM Marcos Siqueira, que cumpre pena por uma chacina ocorrida em março de 2005 na Baixada Fluminense.

Lucas revelou que foram Flávio e Marcos que entregaram a carta de Flordelis e o orientaram a escrever uma nova, de próprio punho, repetindo o mesmo texto. Já Andrea teria sido a pessoa responsável por fazer com que o material elaborado pela pastora chegasse à penitenciária, durante uma visita ao marido.

"A carta veio pra mim na mão. Só copiei a carta. Foi minha mãe que mandou pra mim a carta da rua", afirmou Lucas durante depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), responsável pelas investigações. Ao ser questionado sobre o porquê de ter aceitado assumir a autoria do crime, Lucas disse que não aguentava mais ver Flávio "choramingando" e que, além disso, o irmão havia prometido ajudá-lo quando ele fosse solto.

De acordo com as autoridades, o ex-policial militar participou diretamente do plano da confecção da carta. Ele é acusado de pressionar Lucas para que ele copiasse o texto da correspondência e também de auxiliar Flávio e Flordelis até mesmo na escolha das informações falsas que foram inseridas no documento.

Além da entrada no presídio com a mensagem escrita por Flordelis, Andrea também teria sido a responsável por retirar a carta forjada da cadeia. Adriano, que também será julgado nesta terça, buscou o material e levou até a mãe. "Sua vitória está nas mãos do Adriano. Seu filho mandou", escreveu Andrea para Flordelis no dia 15 de setembro de 2019.

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As trocas de mensagens entre Andrea e Flordelis levaram a polícia a acusar a ex-deputada de ter agido para manipular as investigações. As conversas foram encontrados no celular da pastora, apreendido dois dias depois do recado enviado pela mulher do ex-PM. Nas mensagens, Flordelis e Andrea tratavam detalhes sobre a confecção da carta.

"Mas agora, na hora que pegar essas provas, é o advogado fazer o papel dele muito bem feito, porque eles vão fazer de tudo para não dar importância, né. Então a gente tem que movimentar todas as estratégias certas para desbancar. Porque tu vai destruir a carreira dessa delegada da DH. Você sabe, né?", afirmou Andrea para Flordelis em um dos áudios, referindo-se à delegada Bárbara Lomba, que conduzia as investigações do caso à época.

A chacina

No dia 31 de março de 2005, 29 pessoas foram mortas por policiais militares à paisana em Nova Iguaçu e Queimados, na Baixada Fluminense. A sequência de assassinatos cometidos com disparos a esmo durou menos de duas horas, e o episódio ficou marcado como a maior chacina da história do estado do Rio.

Apenas duas das vítimas tinham antecedentes criminais, mas nada deviam à Justiça. Entre os mortos estavam crianças, estudantes, comerciantes, desempregados, funcionários públicos, marceneiros, pintores e garçons.

A matança teria sido uma reação de PMs insatisfeitos com uma política de linha-dura implantada pelo comando do 15º BPM (Duque de Caxias). O então comandante do batalhão, coronel Paulo César Lopes, havia prendido mais de 60 agentes por desvio de conduta. Dias antes do massacre, oito PMs lotados na unidades foram flagrados por uma câmera abandonando dois corpos degolados nos fundos do batalhão.

Entre 2006 e 2009, cinco policiais foram condenados pela chacina, entre eles Marcos Siqueira da Costa. O ex-cabo recebeu uma pena de 480 anos de prisão.

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