O pastor Arilton Moura se recusou a comparecer ao Senado nesta quinta-feira para explicar as denúncias envolvendo lobby e pedidos de propina a prefeitos para liberar verbas do Ministério da Educação (MEC). O religioso, contudo, conhece bem o Congresso. Nos últimos quatro anos, segundo documentos obtidos pelo GLOBO, ele visitou ao menos 90 vezes a Câmara entre janeiro de 2019 e março de 2022. Dentre os destinos registrados no sistema de segurança, estão ao menos dez gabinetes de parlamentares de diferentes legendas, do PL ao PSB — e do deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente.
Moura está na mira da uma investigação da Polícia Federal sob a suspeita de intermediar a liberação de recursos da Educação para prefeituras. O religioso foi acusado de pedir propina em Bíblias, conforme revelou O GLOBO, e de atuar em parceria com o pastor Gilmar Santos. Convidados pelo Senado para esclarecer os fatos nesta quinta-feira, a dupla declinou do convite alegando que já é alvo de "procedimentos na esfera judicial". Procurado, Moura não se pronunciou. Em suas redes sociais, Santos nega qualquer irregularidade. O escândalo no MEC resultou no pedido de demissão do então ministro Milton Ribeiro.
De acordo com os registros de visitantes da Câmara, em 16 de outubro de 2019, Moura informou que iria ao gabinete 350 no Anexo IV, ocupado pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Dois dias depois, o pastor acompanhou o seu colega Gilmar Santos em um encontro com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Procurado, o parlamentar não quis comentar a agenda com o lobista do MEC.
O congressista que mais recebeu Moura na Câmara foi João Campos (Republicanos-GO) — ao menos cinco vezes. O parlamentar também foi o anfitrião das duas oportunidades em que Gilmar Santos esteve na Câmara. Ao GLOBO, Campos afirmou que Santos lhe pediu recursos de emenda parlamentar para uma fundação ligada a uma igreja.
"Ele falou que tinha um projeto social lá, (perguntou) se eu poderia ofertar uma emenda para isso. Mas a entidade dele não preenchia os requisitos para receber os recursos. Então, acabei não fazendo, mas, se estivesse regularizada, eu faria", disse o deputado goiano.
Parlamentar que teve o mandato mais longevo como presidente da bancada evangélica, Campos é amigo de Santos há mais de 30 anos. O deputado já morou no mesmo prédio que o pastor e, segundo o próprio Campos, os dois chegaram a frequentar a mesma igreja em Goiânia.
"A minha relação com ele antecede a política", disse o parlamentar, que emprega a filha de Santos em seu escritório político na capital de Goiás.
Em relação ao pastor Arilton Moura, o deputado diz que o conheceu no início do ano passado por meio de Gilmar Santos, que lhe apresentou como “presidente do conselho político da igreja”.
O segundo parlamentar que mais teve audiências com o pastor Moura foi Marcelo Brum (União-RS) - ao todo, quatro entre 2019 e 2022. Ele ocupou a cadeira de deputado temporariamente e voltou a ser suplente nesta semana, quando o titular do posto, Ônyx Lorenzoni, renunciou ao comando do ministério do Trabalho para disputar as eleições deste ano.
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"Foi para solicitar recursos. As vezes em que o pastor foi no gabinete era em busca de recursos para os projetos sociais da igreja, para idosos — detalhou Brum, frisando que não enviou os recursos porque ele era um deputado do Rio Grande do Sul e a igreja se situava em Goiás", Não tem como um deputado de um estado mandar para outro.
Em um culto gravado em 2019, Brum aparece prometendo no púlpito que encaminharia R$ 200 mil de emendas para o “lar do idoso do pastor Gilmar”.
"Faz o seguinte: como eu sou muito ousado e a minha assessora, o meu chefe de gabinete, estão lá no fundo. (...) Tu bota aí R$ 200 mil aqui para o lar do idoso do pastor Gilmar, tá?", diz ele, no vídeo.
Já o deputado Elias Vaz (PSB-GO) se encontrou duas vezes com o pastor Moura na Câmara. Por meio de sua assessoria, o parlamentar explicou que o religioso veio lhe pedir a filiação do genro do pastor Gilmar Santos para disputar a vaga de deputado estadual por Goiás. "Mas a filiação não ocorreu por diferenças ideológicas, já que o grupo tinha um posicionamento favorável ao presidente Bolsonaro, ao contrário do parlamentar. Elias Vaz desconhecia qualquer relação de tráfico de influência entre os pastores e o governo", diz a nota.
O deputado Vicentinho Júnior (PP-TO) relatou que Moura foi ao seu gabinete acompanhado de uma comitiva da embaixada de Israel. Segundo ele, o objetivo era convidar o parlamentar para um evento de tecnologia do Ministério da Agricultura.
"Eu o havia conhecido num evento do Itamaraty. Era um pastor bem relacionado", disse Vicentinho.
No sistema de registros da Câmara consta ainda a visita de Moura aos gabinetes dos deputados Helio Lopes (União Brasil-SP), amigo de Bolsonaro, e Guiga Peixoto (União Brasil-SP). No entanto, a assessoria dos parlamentares informou que, como o acesso à Casa estava mais restrito durante a pandemia, acabaram liberando a entrada do pastor para ir a outros gabinetes.
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